quinta-feira, 31 de maio de 2007

The best is yet to come

Quando o dia termina à meia-noite com a visão da Pedra da Gávea banhada em prata, é sinal de que o melhor que ainda estava por vir já está chegando. Mas se no dia seguinte a primeira coisa que você faz é quebrar um copo, é melhor ficar atenta. Se em seguida ao ato desastroso, você sobe na balança e percebe que o peso que está ali marcado definitivamente não te pertence, pule o ritual do café-da-manhã, evite quebrar mais um copo e economize algumas calorias. E se mesmo assim você insistir em continuar o dia como se ele fosse qualquer outro, um menino de 5 anos pode se jogar na frente do seu carro enquanto atravessa a rua correndo feliz da vida porque a aula terminou. Se você chegou a esse ponto, siga em frente. Em hipótese alguma pegue o retorno e volte para debaixo do seu edredom de pena de ganso. Como já dizia nosso amigo William, vulgo Shakespeare, há mais coisa entre o céu e a terra do que sonha a filosofia. Todos esses obstáculos relutantes em impedir que você saisse de casa nesta amanhã fria podem simplesmente ser um teste do Universo, Deus, Alá, Oxum, Xangô, Energia Divina, Vida, Destino, Eu Interior, Karma - ou qualquer que seja o nome que você dê a essa coisa que de alguma forma tem poder sobre nós -, para saber se você realmente está pronto para suportar as surpresas que ainda estão por vir durante esta tarde nublada. Resista! Não ceda ao quentinho do seu quarto! Eu te asseguro, não importa que indícios você tenha, a visão noturna da Pedra da Gávea, ainda molhada pela chuva que caíra à tarde, sendo iluminada pela lua cheia, que de tão cheia vem sendo chamada de azul, pode até enganar, mas não erra: significa na pior das hipóteses que o melhor está chegando, e na melhor delas, que o melhor já chegou, só você que ainda não percebeu.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Olhar no tempo

Multidão. As ruas lotadas em agonia. Pessoas andavam de um lugar ao outro às pressas. Compromissos. Se elas apenas soubessem que o tempo não existe... Impetuosamente o vento ocupava o espaço entre aquelas pessoas apressadas. Cabelos voavam, papéis caiam, folhas secas flutuavam em espiral. Dias de ventania são mais fortes do que noites de lua cheia. Era nesses dias cinzas que ela se sentia imune às forças do tempo. E do destino. Precedida do vento, logo veio a chuva. A solução foi procurar refúgio em um pequeno café. Estar ali, aquela hora da manhã, não fazia parte da rotina. Quase nunca tinha tempo de parar assim, no meio do dia, manhã, que fosse, para tomar um café. Também não tinha o hábito de usar laranja, ainda mais um laranja tão tangerina. Pegou uma revista qualquer, tentou se concentrar em um texto qualquer, e aquela frase veio de novo à cabeça: "como se ao perdemos o mundo, só nos restasse o texto". O mundo havia desabado. Será que ninguém fora ela havia percebido? Não deixou que nem uma lágrima escorresse. Se ao menos ele estivesse ali, sentado a sua frente, com aquele olhar fixado em seus olhos... Essa idéia a irritava ainda mais. Como é possível esperar encontrar a salvação no olhar do outro? Decidiu escrever.

O homem não sabe como gastar os dias. Alguém o avisa que o tempo é um material perigoso nas mãos de quem não o sabe usar. A cidade, uma teia de olhos e passos, apanha quem nela cai. E o mar sempre tão perto. A beleza pode ser um pretexto para se enlouquecer. A beleza e a solidão. Mas é o desespero que faz acreditar que se pode roubar o coração de quem se ama*

Ela usava tinta preta entorno dos olhos. Havia quem dissesse que os olhos dela tinham um brilho intenso, ofuscantes quando imersos na escuridão. Havia quem dissesse que a culpa era das lentes de contato. Ele ainda não descobrira o motivo. Era a primeira vez que a via, já a observava há algum tempo, não sabia ao certo há quanto tempo. Sabia que o tempo é relativo. Sabia que estava ali há tempo o suficiente para perceber que toda vez que ela pisacava os olhos, ele sentia doer dentro dele, e aquele milésimo de segundo tornava-se infinito. Estava facinado pelos cílios dela, pelo movimento que faziam durante o abrir e fechar dos olhos.

Quando ela levantou os olhos do papel, deu de olhos com ele. Não eram os olhos que ela esperava. Os novos olhos a intrigaram. Não deixou o olhar baixar. Estabaleceu uma disputa, enquanto tentava adivinhar se era o laranja sevilhano da suéter que estava chamando a atenção dele, se ele também havia percebido que o mundo desabara, se sabia que o tempo pode não existir. Mal sabia ela que estava brigando consigo mesma. Ele não estava ali para lutar. E como um último golpe, numa tentativa de tirá-lo do mundo dele, quem sabe conseguir uma reação, ou uma palavra, palavra viva, palavra com temperatura, gradualmente começou a diminir o intervalo entre cada vez que piscava os olhos. De nada adiantou. Quanto mais ela piscava, mais ele se concentrava e entretia. Foi então que ela começou a ter a estranha sensação de que ele estaria contando o seu involuntário - mas já voluntário - ato de piscar.

Ele estava tão concentrado no olhar, que não conseguia vê-la como um todo.

Quando ela compreendeu, se levantou e foi. Havia parado de chover.

domingo, 27 de maio de 2007

Mais vale um sapo na mão do que um príncipe voando

Não tenho a menor paciência para crianças. Não tenho a menor paciência para crianças e chorei vendo Mothern. Não tenho a menor paciência para crianças e chorei vendo Mothern em dois episódios seguidos. Fiquei com vontade de ter um filho. Acho que estou ficando louca. Já achei que estivesse enlouquecendo outras vezes, mas dessa vez é sério. Os sintomas estão aparecendo gradualmente. Provavelmente eu serei encaminhada ao hospício daqui há uns oito meses e duas semanas. Eu sempre quis ficar grávida mais pela barriga do que pela criança. Deve ser legal ter uma pessoinha crescendo no seu corpo. Aí, o desejo de ficar com o abdômen do tamanho de uma melancia foi adicionado a dois fatores: poder comer o que quiser, quando quiser, o quanto quiser, e ainda poder repetir; e ter um motivo forte o suficiente para parar de fumar. Durante um tempão esses sintomas estiveram estagnados. Até a noite em que a Bel, a filha da Mariana, do Mothern, não conseguia escolher entre a apresentação do balé ou passar o dia no sítio de uma amiguinha. Maldita indecisão! A Mariana, ao invés escolher pela filha, achou que já estava na hora de ensiná-la a decidir seu futuro por si mesma. Resolveu o problema ensinando à Bel o clássico método listinha prós e contras. O balé ganhou de raspão e a menina ficou feliz em ter tomado a primeira decisão da vida. Foi aí que meus olhos encheram de lágrimas.

A garota deve ter uns quatro anos e já tomou uma decisão. A primeira de infinitas que, coitada, mal sabe ela, ainda terá que enfrentar. Chocolate ao leite ou crocante? O vestido preto básico-clássico-chique ou aquele lindo último modelo? Francês ou espanhol? Pela Niemeyer ou pelo túnel? Jantar com o Pedro ou ir ao cinema com o José? Ligar ou não ligar? Aproveitar o domingo para dormir até tarde, ou acordar cedo para aproveitar o dia? Essa coisa de ser mãe realmente me emocionou. Como quem não quer nada, fui lá no quarto da minha mãe e bati na porta: Manhê, fica um pouquinho comigo lá no meu quarto?, eu disse. Pra que, miha filha? Tô tão cansada, o que que foi?, ela resmungou. Definitivamente, eu devia estar perdendo a cabeça. Fui dormir. Na quarta-feira seguinte, liguei a tevê justamente quando a Raquel, mãe da Laura, também do Mothern, entre uma reunião e outra, tentava ajudar a filha a decorar um texto para o papel de princesa no teatrinho da escola. É claro que a Laura estava super ansiosa. É claro que a Raquel ficou enrolada no trabalho e elas quase não conseguiram chegar a tempo. Mas chegaram, e a professora avisou que não haveria mais apresentação. O motivo?

O príncipe faltou.

A Laura ficou arrasada, lágrimas ameaçaram escorrer pelo meu rosto, eu pensei "de novo não", a Raquel ajoelhou para falar com a filha de mulher para mulher (Marisa), e olhando nos olhos da menina, disse algo mais ou menos assim:
- Filhá, vai se acostumando, às vezes o príncipe não vem. Normal. Te deu um bolo, agora enxuga esse rosto e bola pra frente - nesse ponto eu já estava em prantos.
A princesa moderna fez a apresentação sem o príncipe. A Raquel substituiu o galã por um sapo marionete. Até beijar o sapo, a princesa beijou. Afinal, como disse a Raquel "mais vale um sapo na mão do que um príncipe voando". E agora, eu que me pergunto: Como é que ninguém nunca me ensinou isso quando eu tinha quatro anos? A minha vida teria sido tão mais fácil.... Conclusão, comecei a querer ter um filho só para ensinar tudo o que eu já sei, antes que eu me esqueça.

sábado, 26 de maio de 2007

Dance with me...

Eu aqui. Você ali.
Primeiro foram letras pretas surgindo na tela. 3 da manhã e aquele desconhecido já sabia muito da minha vida e já se abria como se a uma vida me conhecesse. A partir daí as letras pretas foram construindo um castelo de histórias. Já em tão pouco tempo conseguíamos nos querer e nos dizer palavras tão intensas. Fiquei com medo. Como vai ser quando eu olhar para você? Eu não sabia mais a sua voz, e sua cara estava imersa nos meus sonhos e fantasias. Impossível de separar a esta altura. Como vai ser quando você olhar para mim? Como vou saber se o que dizes realmente acompanha suas verdadeiras vontades?

Eu aqui e você comigo.
Mas até que foi fácil sair com você, mesmo sabendo de todas as suas dificuldades. Fui abrindo os braços, assim, lentamente, sem nem perceber que eu abria justamente para você caber dentro deles. Ainda sem saber as medidas de seu corpo, meus braços já dançavam, soltos pelo ar. A partir daí , virou um beijo gostoso. Andar de mãos dadas sem me dar conta. Olhar para você enquanto falava palvras bonitas. Sinceras. Esperar o elevador chegar da garagem, perceber o abraço que você em seguida iria me dar. Eram roupas no chão e logo em seguida o despertador tocando. Esperar para saber o que iria acontecer.

Você aqui. Eu ali.
Depois de me tirar do meu canto, me levar para junto de você, você foi. Uma hora me diz que eu não te quero e quase me faz acreditar. Noutra diz que não está afim, não está preparado. Uma vida de diferença. Ai este maldito tempo. Mas a sua experiência não te ensinou que nessas horas não existe tempo? Será que eu vou ter que te aprender que ele, o tempo, muitas vezes não obedece sua ordem natural? Não me deixe ir antes de me conceder a última dança. Porque se eu for, me levo comigo, e nada fica.

Opostos complementares

Peixes e virgem são opostos e ponto final. O conceito de oposto complementar é poesia astrológica, já me disse uma amiga. Como o beijo pode acontecer se um acredita que "há tanta suavidade em nada se dizer e tudo se entender", enquanto o outro simplifica os momentos mais belos em duas palavras, sim ou não? Um gesto vale mais do que mil vezes sim. A simplificação é o fim do romance. Estou cansada de saber sempre o que dizer, de ter tanta atitude, de tomar sempre a melhor decisão, de ser tão forte, tão segura, tão madura, tão engraçada, tão bem relacionada, tão sorridente, tão bem sucedida, tão bem educada, tão inteligente, de família tão boa, tão linda se pesasse uns poucos quilos a menos, com tanto PO-TEN-CI-AL.

Eu sou mulher, poxa!

Quero elogios rasgados, olhares de desejo, beijos inesperados, abraços apertados, surpresas à luz de velas, ligações no meio do dia e no final da madruga. Logo eu, que sempre tenho o que dizer, quero mil vezes ficar sem palavras no momento que antecede o beijo. Afinal, quem disse que tudo o que eu digo tem que ser levado tão a sério? Não escuta o meu melodrama. Passa por cima da minha pirraça. Tudo isso é só para você dizer "confia em mim", que eu confio. Me arranca um beijo, que eu confio. Diz que você me aceita do jeito que eu sou, que eu confio. Me pega de jeito, me desconcerta, me deixa sem chão, sem reação, me faz dizer sim sem palavras, que eu confio. Me diz que me deixa em casa a hora que eu quiser, que eu fico até o amanhecer. Quando eu fizer tudo errado, me acolhe mesmo assim. E no final da noite, quando estiver deitada ao seu lado, eu mesma quero rir de toda essa novela mexicana.

Preto no branco dá sombra e acaba com as entrelinhas.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Anjos do picadeiro



Foi ali mesmo, numa praça de Buenos Aires, em meio há literalmente quinhentas pessoas, que Maku disse eu te amo pela primeira vez. Quando o palhaço adentrou o círculo formado pela platéia, os olhos da menina brilharam. Sem conseguir se conter, ela olhou nos olhos do jovem palhaço e disse com todas as letras, sentimentos e borboletas na barriga que envolvem o momento: "eu te amo". O palhaço corou - Sim, é possível ver palhaços corar. Palhaços modernos não pintam o rosto, nem usam nariz vermelho -, e a platéia soltou um contínuo óóóóóóóóó. "Você é muito nova para mim, volte daqui há 20 anos", disse o palhaço. As lágrimas de Maku rolaram. Com apenas oito anos, ainda sem saber o que de fato é o amor, tinha dito o eu te amo mais sincero de sua vida. E sem saber, ouvido as palavras mais sinceras da vida do palhaço.

A trizteza de Maku teve o mesmo destino que a de muitas outras: com o passar do tempo foi esquecida. Por acaso, ou não (nunca de sabe), a menina de apenas 1,50m decidiu que tornaria-se palhaço. Isso mesmo, e que dissessem o que quisessem, sua vida seria um mundo sem fronteiras. Uma vida de gargalhadas e aplausos, afinal não é preciso muito mais que boas risadas e atenção para se ter uma vida feliz. E mais uma vez o tempo correu. Vinte anos depois, Maku estava em um festival de palhaços em Barcelona quando conheceu Chacovachi. O encontro deu-se como um encontro de almas. Maku tinha certeza de já ter visto aquele rosto antes, o jeito de manuzear os malabares, o jogar do corpo, o brilho de esperança nos olhos. Como um flash de luz a imagem clareou: Chacovachi era o responsável pela sua incapacidade de se envolver. Aos 28 anos, ainda não havia homem, nem mulher- ela até chegou a experimentar - que a tivesse feito perder a cabeça, ou melhor, o coração. E ali estava, bem diante de seus olhos, estava justamente ele: o palhaço que a abandonara. A sombra que lhe assombrava em sonhos. O homem que a impossibilitava de dizer eu te amo. Que ela nem mais sabia se era real ou fruto da imaginação. O primeiro amor.

Foi assim que, há 7 anos, Chacovachi e Maku Jarrak se conheceram. De lá prá cá muita coisa mudou. Pais de um bebê de quase dois anos, levam a vida viajando pelos quatro cantos do mundo promovendo espetáculos e oficinas. Destreza circense é apenas um pretexto para estar em cena e produzir uma grande festa popular. "Se não fôssemos palhaços, seríamos pessoas infelizes", revelou Chaco em entrevista a esse blógui.

O palhaço e sua mulher são um dos cômicos de rua mais célebres da Argentina. Durante 15 anos, Chaco se apresentou na Plaza Franzia, na Recoleta, em Buenos Aires. Mais de 500 pessoas assistiam seu espetáculo diariamente. "Se você vai a Buenos Aires, tem que ir a Plaza Francia. E aí estava eu. E tinha que ir. É a praça mais, de alguma maneira, “oligarca” que, com os anos, transformamos em popular e agora é super popular. Mas quando eu comecei era oligarca. Lá eu tinha a quem criticar, porque na esquina da minha casa eu não podia, porque não tinha jogo, eu conhecia, eu não podia criticar quem convivia comigo. E lá encontrei gente culta, porque é em frente ao Centro Cultural Recoleta, artistas iam me ver. Eu passei de algo talvez primitivo à vanguarda", lembra Chaco. Fundador do Circo Vachi e referência para sucessivas gerações de artistas argentinos, Chaco é um dos precursores da impulsão dos espetáculos de rua, circos e malabares no país.

No mês de maio, o casal aportou no Brasil para o lançamento da revista Anjos do Picadeiro 5, talvez a única publicação brasileira do gênero a refletir sobre os rumos da comicidade. Quem ainda está sem programa para esta sexta à noite, e estiver precisando dar umas boas gargalhadas, poderá assitir ao espetáculo de Chaco e Maku, na Noite de Gala Anjos do Picadeiro, na Fundição Progresso. E quem sabe, depois, a boa risada pode dar bons frutos durante o show do Songoro Cosongo, um septeto formado por músicos da Venezuela, Colômbia, Chile, Argentina e Brasil, residentes no Rio. Dizem por aí que a banda tem um estilo musical inconfundível: Psico Tropical Music. Você sabe o que é? Nem eu.

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A entrevista foi feita por e-mail, no dia 15 de maio de 2007.

Advertência: o diálogo a seguir não é indicado para aqueles que falam espanhol fluentemente. Pode conter milhares de erros.

Anna: Como y porque ustedes se han hecho payaso?
Chaco: Cada uno tiene una historia distinta, ya que nos hemos convertidos en payasos antes de conocernos. Pero si buscamos una respuesta que nos represente a los dos, creo que la unica forma de hacerse payaso callejero es sumando experiencia. El payaso de rua primero tiene que trabajar en la esquina de su casa, despues ir al centro de la ciudad, luego trabajar en lugares que nunca se imajino y al final vover a la esquina de su casa. Y si nos preguntan por que, es por que descubrimos un tezoro. Ser payaso callejero te da libertad fisica y economica. Puedes trabar en donde quieras y para sobrevivir depende solo de vos

Anna: Cuál es la diferencia de la apresentación de ustedes?
Chaco: Maku no habla y yo lo hago hasta por los codos

Anna: Si ustedes no fueren payaso lo que serían?
Chaco: gente muy insatisfecha

Anna: Como es criar uno hijo viajando por el mundo?
Chaco:
un privilegio para nustro hijo, viajar, conocer culturas y su gente es lo mejor. Como diria el principito de sant exupery ( no se si se escribe asi), el mayor privilegio de los artistas , son las relaciones humanas

Anna: El nino ya hace apresentaciones?
Chaco:
si, para nosostros. Con un año y medio sabe el poder de hacer reir

Anna: Como ustedes se conoceran?
Chaco: Maku me vio por primera ves cuando ella tenia 8 años , en una funcion callejera
( yo tengo 45 y maku 25 ), pero nos conocimos en un festival callejero ( fira de tarrega) en españa hace 7 año trabajando a la gorra en sus calles

Anna: Ya han trabajado en otras cosas que no sea como payaso?
Chaco: no, es lo unico que hicimos en nuestras vidas, pero en todas sus formas calles ,circos, teatros, solos y con companias

Anna: Cuál es el mas grande publico que ustedes han se apresentado?
Chaco: el mejor publico es el que no espera nada, el de la calle

Anna: Cuál es la diferencia entre el publico de la calle y la gente que paga para verlos?
Chaco: el publico de calle es mas sincero. Cuantas veces nos encontramos aplaudiendo , para no sentirnos unos tarados por haber pagado 30 reales por algo que no sabemos si nos gusto. En la calle si no le gusta, se va

Anna: Cuales las caracteristicas fundamentales que una persona hay que tener para ser un payaso?
Chaco: coraje, honestidad,locura, e instinto de supervivencia

Anna: Cuál es el sítio más interessante que ustedes han estado? Porque?
Chaco:
marrakesh , marruekos. Trabajamos en la plaza de la medina, en el casco viejo, al lado de encantadores de serpientes, y sacamuela. Ganar 3 dolares , pero con uno pagas el hotel con los dos restantes comes. Es como ganar 100 euros en amsterdam

Anna: Ustedes hechan de menos tener una casa?
Chaco: nosotros tenemos una casa hermoza en las afueras de buenos aires , donde vivimos cuando no estamos viajando. Es un poco todos los lugares que conocimos

Anna: Muchas personas piensan que los payaso son tristes por dientro. Ustedes sienten esta melancolia/tristeza?
Chaco: la teoria de que el payaso es triste , susede por que cuando vos ves a un payaso trabajar esta tan alto espiritualmente, tan inmune,tan feliz que cuando lo ves triste como cualquier persona es tan grande la diferencia que se crea el mito

Anna: Cuanto ganan en una apresentación?
Chaco: lo calle es redituable y justa, nadie gana mas de lo que vale

Anna: Si ustedes tuvieren algo más que piensen que sea importante, por favor, me lo diga.
Chaco: el de artista es la mas humana de las profeciones
el payaso es el mas humano de los artistas

Saiba mais em: www.makujarrak.com.ar ou www.chacovachi.com

Não foi isso que eu não disse

Eu te disse vai embora sem saber que estava dizendo. E você, sem saber o que ouvia, pegou suas coisas e foi. Mas as palavras enganavam a gente, elas teimavam em dizer o contrário. Minhas palavras perguntavam porque você partia, e as suas, não conseguiam me explicar porque ia embora. Naquele momento era muito difícil compreender o que dizia o silêncio de nossas palavras. Este silêncio cheio de medo dominava não só as nossas conversas, mas as nossas vidas. E nós, prisioneiros dos sons que emitiamos, cheios de coerência e simpatia, ficamos que nem dois bobos. Tolos. Tolos de acatar tão passivamente aquilo que a gente não queria, aquilo que a gente não dizia.
Mas agora eu percebi tudo. Entendi que o meu medo falava através do meu silêncio. E que minha coragem inocente falava através das minhas palavras. Meu medo venceu, porque eu não pude entender a tempo. E como não posso dominar o tempo sei que ele passou. Que você passou. Pensando bem nem sei se realmente te queria e nem se era boa para você ou você para mim. Na verdade até acho que éramos sim, mas isso não importa. Agora aprendi. Já estou pronta. Quero uma vida no plural!

terça-feira, 22 de maio de 2007

A casa é sua

Enfim, este é um blog de duas. Duas o quê, ainda não sabemos. Talvez, se um dia juntarmos todos os segredos tenhamos uma pista. Alguém disse que o que importa é a caminhada, então cá estamos.

(estou adorando poder usar o plural)

Ufa...

Esta postagem é só para mostrar o meu alívio.

Ufa...postei!

segunda-feira, 21 de maio de 2007

"I've got sunshine on a cloudy day. When it´s cold outside, I've got the month of May"

Tenho pérolas nas orelhas, arco nos cabelos e sapatilhas nos pés. Agora sim, estou pronta para emoldurar alguns instantes de felicidade. Apesar do espelho, me sinto Audrey. Antes de pendurar os novos quadros na memória, é melhor deixar os instantes flutuarem por um tempo. Deixar que me levem pela estrada de lajotas amarelas. Minham sapatilhas podem ser de glitter vermelho, tudo bem, Audrey e Dorothy soam parecido, e além do mais está super in esse estilo "nossa coloquei o primeiro, sapato, blusa, calça, bolsa que vi, nem reparei que nada combina com nada", super casual. Onde quer que eu esteja indo, caminho ao encontro dos pequenos instantes. É bom ter a certeza de que a vida esconde boas surpresas, mesmo que elas não possam caber em muitas palavras. Felicidade plena é o silêncio interno.

Até a próxima parada.

É sempre assim.

Não precisa vir com pressa.

O bonde passa, passa de novo, e sempre pára no mesmo lugar. E assim ele vai, sucessivamente, fazendo o seu caminho. Sempre. Normal, se não fosse pelo fato de que eu fico presa nele. Aí é que está. Eu estou presa dentro deste bonde que passa, passa, passa e acaba no mesmo lugar.

Eu não pedi para você chegar perto. Não pedi para você vir e me falar palavras tão fortes e doces ao mesmo tempo. Não pedi para abrir as portas de mim e deixar que você entrasse. E por que? Porquê você não me levou junto com você, embora deste maldito bonde ?

E agora estou eu aqui. Mais uma vez, entregue aos sorvetes com calda de chocolate, as cartas que suplico para que me deem alguma resposta, aos minutos que não passam de jeito nenhum.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Aí...

Aí, o Tom falou para a Clarice que ele e ela são seres rarefeitos que só se dão bem em determinadas alturas. Que deveriam se dar mais, a toda hora, indiscriminadamente. Aí, eu fiquei pensando que eles são o Jobim e a Lispector. Aí, eu pensei que não sou rarefeito e mesmo assim deveria me dar indiscriminadamente. Aí, eu me lembrei do buraco. Da queda. Do choro. Do infinito. Aí, eu pensei no Chico e me lembrei dos olhos nos olhos. Antes fossem os azuis do Buarque. Aí, eu comecei a ver os olhos em todos os lugares. Na final do Flamengo cheguei ao ápice. Os olhos proliferaram. Cada blusa rubro-negra, grito de torcida, gole gelado, rosto virado, eram seus olhos a me olhar. Being John Malkovich me levou à loucura. Olhos nos olhos, quero ver o que você diz. Aí, eu lembrei do silêncio. Do vazio que você me impôs. Do pôr-do-sol no final desta página. E do por quê eu não me dou nem discriminadamente.

domingo, 13 de maio de 2007

Lembranças de uma noite sem memória

Depois de 1/2 garrafa de sakê e um Apple Martini, ouvi do alto dos meus saltos de verniz preto:


"Isso é que é piranha de classe!", o elogio foi feito numa esquina da Av. Atlântica por um grupo de mulheres da vida.

****

Sete mulheres cabem num Honda Fit. Todas falam ao mesmo tempo. Penso que a motorista deve estar zonza com tanto barulho. Ao som de Open Your Eyes, no volume máximo, escuta-se as seguintes frases. Talvez elas formem um diálogo, dependendo do nível etílico ou do ponto de vista:

Me deixa na Júlio de Castilho? Mas calma, aonde é a Júlio de Castilho? Ali, perto da Le boy. Lebloy? Tell me that you'll open your eyes. Não, le boy. Ah, você quer dizer Leblon. Essa noite vou aplicar o golpe do pesadelo. Você vai dormir com o Júlio? Não, vou para a Julio de Castilho! Eu entro aqui à direita , pra ir na Le boy? Que pesadelo? Se vc entrar aqui à direita, honey, nós vamos parar é no Machu Picchu. Então, ponho a minha roupa de pijama e ligo pro Beto. All this feels strange and untrue. Alguém me diz aonde a gente tá indo? And I won't waste a minute without you. Tamos indo deixar ela na le boy! I want so much to open your eyes. Cos I need you to look into mine. Não é na Le boy, é na Júlio de castilhoooo! Aí, o Beto atende e eu digo com uma voizinha de quem precisa muuuiiiitooo dele. Lembra ela fantasiada de sushi? "Bétô, não to conseguindo dormir". Como assim de sushi? Mas não era no Leblon? Tell me that you´ll open your eyes. "Tô com pesadelo, Beto. Vem pra cá?". Uma roupa toda vermelha. No Leblon? E um travesseiro branco amarrado na barriga com uma faixa preta. CARACAAA, aonde é a Le boy? No Leblon? É na Júlio de Castilho, faz o favor e vira aqui à direita.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Peitos Peixes

Quando eu era criança, rodava até ficar tonta no salão forrado de tapetes persas da casa da minha avó. Quando já estava caindo, tentava pular de tapete em tapete sem tocar no chão. Não passaram muitos anos até que eu percebesse que os peitos pareciam peixes. Em algum momento entre a fila do pão quente e o esperado sinal da saída, li no jornalzinho da escola que os peitos pareciam peixes e nunca mais me esqueci.

Eu que já era de peixes, com o passar do tempo, me tornei peitos.

EU TENHO PEITO! Que mentira, eu não tinha peito para encarar coisa alguma. Não gostava nem de pensar no poder que eles poderiam me fornecer. O medo da sedução e, principalmente, da perda. Eu escondia os peitos até o dia em que André se apaixonou. Por mim não, pelo par de peitos. Dentro de todos os meus temores, esse era o maior. André ganhou nome em minha vida com palavras de escritor. Me apaixonei por aquele que tinha descoberto minha qualidade preferida. Me tornei só dele no dia em que senti sua mão subindo pela minha cintura e se tornando o complemento para os peitos peixes.

Hoje, sinto ânsia do amor.

O suor escorre pelas minhas costas. Acabamos de fazer amor e a culpa é dos peixes. Se não fossem eles, não estaria tão enojada com essa intimidade toda. Estou me levantando e ele vem atrás. Não, ele não é o André, mas isto não importa. Ele mal ligou a água quente e a fumaça já embaçou o espelho. Não consigo enxergar que os peitos parecem peixes. Sabonete, shampoo, toalha, calcinha, sutiã, vestido, sandália – humm, essa aqui – secador, batom e um beijo no meu amor. Elevador. O porteiro sempre olha estranho quando eu passo. Acho que ele olha para os peitos. Tenho vontade de tocá-los só para deixá-lo saber que sei para onde olha. Escuto passos rápidos vindo da direção da escada. Escuto a voz que ainda há pouco sussurrava no meu ouvido. O encaixe perfeito dos peixes toca meu ombro esquerdo. Eu paro. Me viro surpresa. Uma das mãos segura o meu braço, ao mesmo tempo que a outra, que minutos antes acariciava o meu peito, o dilacera com uma navalha.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

O encontro ou Eu senti antes de pensar

Estou cansada de ver os meus sentimentos nas palavras dos outros. Quem autorizou que se apropriassem dos meus pensamentos? Que os transformassem em posts, músicas, palavras pichadas nos muros, nicks do MSN, diálogos de cinema, definições do orkut, mensagens de textos, poesias, livros? Lugar comum. E ainda há quem diga que cada pessoa tem sentimentos únicos. Quem nunca se encontrou numa frase já feita, que escreva a primeira palavra.

Deuses ressuscitam

Penso duas vezes antes de escrever esses relatos, antes de remexer em sentimentos já asfaltados. Não me surpreenderei se algumas palavras estiverem manchadas, por mim ou pelo tempo. As pessoas têm a mania de enterrar o passado, como parte de si não existisse. Mania de esquecer.

Deuses ressuscitam, é inevitável.

Mente-se por muito motivos.
Proteção.

Muitas vezes fiquei cansada.

O telefone tocou.

Eu não queria mais escutar ou afirmar coisas que eu sabia serem contrárias às verdades, porém condizentes aos sentimentos.
Evitei atender, mas já tinha aprendido que enterrar não é a solução. Enganei os sentidos e o espírito. Atendi e respondi sem escutar. Prestava atenção apenas em sua voz, ao timbre reconfortante. Não deixei que as palavras fizessem sentido.

Ele foi autor de muitas memórias, das minhas memórias, mas há muito tempo vem parando de escrever.

Queria lembrar de como ele era quando jovem. Será que eu me interessaria por ele? Espírito leve, moreno, cachos ao vento, iguais aos meus - ou melhor os meus iguais aos dele. Na primeira vez que o vi, ele devia ter uns 3 anos a menos do que tenho hoje. Não lembro, mas o vi.

Por suas palavras já fui princesa. Menina, já visitei lagos e conversei com peixes falantes, num mundo surreal. Fantasias e esperanças. Criatividade de menino. Menino capaz de tudo. Forte para elaborar cabanas, levantar palácios, construir castelos, e me levar nas melhores viagens: aquelas em que não é preciso sair do lugar. Sonhos. Sonhador que fez sonhadora.

Colhi tampinhas de garrafa, na época em que as garrafas ainda eram de vidro. Queimei castanhas-de-cajú na fogueira. Com as mãos e a roupa pretas, tomei banho no tanque e de mangueira. Mamãe, séria, brigava; ele, moleque, ria e deixava. Era mais divertido do jeito dele.
De tanto perseguir morcegos, catar vaga-lumes, colher sapos e subir em árvores, me tornei corajosa. E quando a onda vinha, ele segurava a minha mão e dizia: “afunda, segura a respiração e afunda. Fica quietinha lá embaixo, não se mexe. E quando ouvir que a onda passou, pode levantar”. Acho que foi assim que fiquei corajosa; aprendendo a parar de respirar e esperar um pouquinho que passava.

Foi exatamente isso que fiz quando descobri que a cabana era de almofadas, que o castelo era de areia, que dessa vez ele partira para nunca mais voltar.

Deuses ressuscitam.

Graças a Deus, que me ensinou.
Graças ao Deus que me ensinou.

Me joga pro alto, me pega no colo. Não dá mais.

Meus olhos, meu nariz, minha boca e esse corpo, que eu odeio, são seus. Iguais aos seus. Choro porque choras, porque te vi chorar, porque me fez chorar, porque me falou que não é vergonha chorar. Sonho, porque ainda hoje, quando olhos nos seus olhos, que são iguais aos meus, vejo-o sonhar. Mas só sonhar. Grande virtude e grande vício. Sonhos que só são sonhados não se concretizam. Cadê aquela força e coragem que você me passava? Tem que estar aí, em algum lugar. Faça alguma coisa, porque você já não é capaz de me levantar.

Engano meus sentidos quando te toco, te cheiro e te ouso. Quando pego nas suas mãos, não sinto os calos que a vida te deu. O seu cheiro é só seu, e meu. O que fala é só a sua voz, as palavras que me encorajam e me chamam para brincar. O resto passa nesse momento em que eu fico sem respirar.

Queria ter te conhecido garoto, ter te ensinado o que eu já sei. Queria que me conhecesse mulher, que reconhecesse em mim o que é seu, que se orgulhasse. Mais como se orgulhar e reconhecer se nos sonhos nunca nos perdemos?

Um dia a gente vai, né pai?

Onde quer que seja, a gente vai.

Mais importante do que ir, pai, é estar. Não o estar de sonhos, o de verdade.
Isso é só para te lembrar, pai, que esse jeito teimoso é seu. Que o meu sorriso é igual ao seu. Que meus sonhos vieram dos seus. A minha esperança é sua. E o meu coração é nosso.

Chega de lembranças. Tenho que prender o ar agora, pai.

Chega.

Vou ficar aqui, com você, segurando a sua mão. Esperando que a onda passe.
Porque ela vai passar, né pai?