sábado, 30 de junho de 2007

Dans l'ascenseur

Antes de Love Story ser praticamente a casa de todas as casas, é um filme de amor onde a moral da história é que amar é não precisar pedir desculpas. É justamente aquilo que eu digo, um pequeno gesto vale mais do que mil palavras.

**

O meu olho arde quando fico com sono. Sei que não é desculpa, mas não tenho conseguido me concentrar em nada ultimamente. Acordo e fico enrolando na cama. Quando percebo uma hora já se passou. Tem dias que chego do trabalho e sento na poltrona do meu quarto. E quando percebo já é uma hora mais tarde. Ando tendo esse tipo de problema com o tempo. Não sei o que acontece, mas quando meu pensamento pára o tempo voa. Quando quero que o tempo passe, não consigo que o pensamento pare. Cachorro correndo atrás do rabo.

**

Venho cultivando um ódio intenso pelo Pan. Pandemônio já dizem alguns. O Rio enlouqueceu e o Pan ainda nem começou. O trânsito já está uma loucura. As vitrines já estão monotemáticas. O jornal idem. A água mineral também. "Petrópolis a água do carioca". Edição especial jogos, com bonequinhos praticando esportes no rótulo. Ridículo. Nem deu pra respirar depois da Copa e ainda inventam o Pan. Verde e amarelo me dá náuseas.

**

Funk music Fuck music I like fuck music I don't like elevator music I like music to fuck in the elevator Fuck me in the elevator Fuck me in the elevator :: Ménage à trois ::

**

Na minha casa não tem elevador, nem no meu trabalho. Talvez por isso eu não saiba me comportar em elevadores. Nunca sei o que dizer. O elevador tem quatro cantos.

terça-feira, 26 de junho de 2007

A vida debaixo do viaduto

A vida debaixo do viaduto não estava sendo nada fácil. Para começar, tinha que começar. Não tinha papel higiênico, sabonete, nem requeijão. E ela estava cansada. Tão exaurida da rotina de levantar cedo, escolher entre a Niemeyer e o túnel, atravessar o Rebouças, fazer o retorno, sentar ali, procurar palavras, e mais palavras, escrever. Ela queria mesmo é afundar nas palavras, se engasgar com as letras. Mas não, tinha que ouvir vozes por mais de 10 horas diárias. E aquelas pessoas não paravam de falar nunca. Gostaria mesmo é de poder contar quantas palavras escutava por dia. Queria colocar o mundo em mute. Apertou o botão, mas não adiantou:

Você é a favor do poliamor? No futuro seremos todos a favor do poliamor. Na minha faculdade existia um movimento chamado A.T.T., aka, Amigos Também Trepam. Acho que as pessoas deveriam ser evoluídas a esse ponto. O desejo não está ligado apenas ao amor, é uma coisa permanete, o problema é quando temos que renunciar o desejo em nome do amor. Acho que com 26 anos eu tenho que querer tudo. O mundo inteiro me engole. Acho que com 25 anos eu quero só monogamia. Qual é o seu signo? Peixes com ascendente escorpião. Que isso! Nós vamos viver 100 anos! Cem anos nada, quero viver até os 60 no máximo! Temos o mesmo signo e ascendente, somos farinha do mesmo saco. É de alguém aqui esse telefone? É meu. Você deixou carregando aqui? Mas tá demorando hoje, né? essa galera não vai embora nunca. Eu só consigo escrever depois que eles vão embora. Tá uma zona isso aqui hoje. O telefone toca. A tevê fala Aproveite é sem entrada, todas as ofertas anúnciadas na concorrência. Ih, a sua matéria está aí com você? CCBB é em que página hein? Nesta sexta depois do Globo repórter, tem a volta de carga pesada. Posso pegar mais um biscoito. Olha o polenguinhoo. Esse cara da foto aqui é o Marão? Esse cara já fez ilustração pra mim no começo dos anos 90. Ele virou o que?Marrrrcellooo Maraaãooo muito talentoso! Uma leeeenda do jornal. Vou avisar a estagiária que ela deve estar pedindo para colocar coisas lá. Alguém tosse. Solte o seu medo bem devagar, chegue perto de mim. Posso pegar mais um biscoito? Pode, só comi três mesmo. Senta aê, toma um café. Aonde você conseguiu esse biscoito aí? Com ele, quer? Esses muleques ganharam a maior grana, venderam uma parte da empresa para aquela loja. Eu sei. Eles não te contaram? Contaram, mas eu tive que cortar 75% da matéria, acabei perdendo detalhes importante. sete meia dois oito. Qual foto? Coloca a foto de Santa Teresa aê. Se eu for pra lá pra ser fritado... Eu tinha pedido exatamente esse corte na foto. Mas ele não quer. Não quer por quê? Mas aqui ele não trocou nem chamada nem nada. O que é matéria? É a confusão. Aí ele fez as nossas chamadas. A chamada tá cortando. É a rotatividade. De namorados?

Utopia seria não precisar cortar as palavras pelo simples fato de não precisar delas.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Nunca pulei de asa-delta

Na minha casa a água é Petrópolis. Não separo o lixo, não faço compostagem, não deixo de comer alimentos enlatados ou em embalagens plásticas, mas não como doces nem gorduras - até que a promessa se realize. Durante mais da metade do ano uso ar-condicionado, mesmo que tenha que dormir com uma colcha extra por cima do meu edredom de pena de ganso e acorde com as janelas suadas. Na outra metade, ligo o aquecedor. Não como apenas produtos orgânicos, nem sou vegetariana, mas adoro carne de soja. Berinjela é uma das minhas comidas preferidas.

Não realizo trabalhos voluntários, mas quando tenho a oportunidade escrevo matérias que os divulguem. Não acumulo nada. Quando compro uma camiseta, dôo outra. Quando ganho um tênis, dôo um sapato. Às vezes procuro uma roupa e quando lembro já doei. Não dou dinheiro para crianças carentes na rua. Uma vez ofereci um biscoito e ela não aceitou. Também não pago flanelinhas. Muito menos se eles já aparecem exigindo cinco real pra dar uma olhada aí tia. Frequentemente bato boca com eles. Uma vez o cara da rua do BB Lanches mandou eu nunca mais voltar lá. Teve outro em Copacabana também, mas esse lembrou de mim quando eu voltei. Desde então, tento não passar por aquela rua, e quando passo, não paro no sinal NUNCA. Mas olho pelo retrovisor e sempre tenho a impressão que ele está fazendo sinais obscenos para mim.

Subi a Rocinha de moto-táxi. Lá no meião meus olhos encheram de lágrimas. Lá onde os carros não passam, crianças brincam descalçadas no esgoto e famílias inteiras moram no espaço entre a laje de um barraco e o piso do outro. Fiquei com medo quando visitei uma casa lá no topo e vi de longe a minha no horizonte, rodeada de verde. Fiquei caustrofóbica ao notar tantas casas empilhas com vista para o clube de golfe do qual sou sócia. Não tive medo quando três moleques de quinze anos passaram por mim carregando fuzis e gritando Sai da frente! Senti culpa. Comprei um pedaço de bolo de fubá numa venda lá mesmo. Sob o olhar duvidoso da vendedora, comi o pedaço inteiro. Questão de orgulho. Mas nunca mais cruzei o túnel da mesma maneira. Apesar de achar a Rocinha linda à noite - é como olhar através de uma lente de aumento o mais estrelado dos céus. Também quase abandonei tudo quando deduzi porque o complexo da Maré deve se chamar Maré. Lá de dentro, olhar para a favela é como olhar para o horizonte. Em todos os sentidos. Quase abandonei a minha casa com vista pro mar, o meu edredom de pena de ganso, o meu arroz de pato com laranjas carameladas e me dediquei exclusivamente ao projeto Uerê. Também quase abandonei a cidade grande para morar com comunidades carentes do interior do Maranhão.

Não faço meditação, mas faço questão de ficar sozinha em silêncio durante pelo menos meia hora por dia. Gostaria de poder contar que fiquei em um monastério por quatro anos. Ou que fui criada por lobos. Ou que nasci numa tribo indígena no interior da Amazônia. O máximo que posso confessar é que fui completamente apaixonada por um namorado filósofo de dreads durante dois anos, saí de casa e peguei carona na estrada para Lumiar. Abri mão dos bens materiais, mas depois de um certo tempo, não agüentei e cedi. Não faço ashtanga em centros de yoga, quer dizer, yôga. Pratico poweryoga na academia e depois vou direto para o spinning. Já fui na umbanda, no centro espírita, no daime, em missas aos domingos e cerimônias de barmitzva. Acredito em pensamento positivo, na força do desejo, em sinais e no poder da mente, mas tenho preconceito quanto a livros de auto-ajuda. Acredito que tudo se aprende com a prática.

Tenho uma garrafinha de água no trabalho, é pet, mas pelo menos economizo em média dez copos descartáveis por dia. Sempre recuso sacolas de plástico. Geralmente a minha bolsa é grande o suficiente para levar todas as baboseiras em que eu gasto o meu suado dinheiro. No http://www.iniciativaverde.com.br/, estimei a quantidade de gás carbônico que emito por ano. Penso que se eu contratar a empresa para plantar por mim todas as árvores suficientes para repor o meu gasto de CO2 me sentirei menos culpada. Custa R$12 a unidade. Há quem diga que o início do século 21 é marcado pelo atentado às Torres Gêmeas. Fico com o outro grupo, que acredita que o século 21 começou em 2001, quando cientistas do mundo inteiro se reuniram no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) para anunciar ao mundo que a culpa do aquecimento global é nossa. Me sinto bem por pelo menos me sentir culpada. É como fazer análise: já tenho consciência, só falta agir.

"Curioso es que la gente crea que tender una cama es exactamente lo mismo que tender una cama, que dar la mano es siempre lo mismo que dar la mano, que abrir una lata de sardinas es abrir al infinito la misma lata de sardinas", Julio Cotázar

domingo, 17 de junho de 2007

Do outro lado da tarde

Eu queria ter ido no jogo do Botafogo só para escrever como a Clarice Lispector. Vai que eu aprendo a gostar do que ela gostava e de repente consigo colocar as palavras do jeito que ela colocava? Não fui ao jogo. Culpem o Neston pela má qualidade das postagens. Neston pode ser trocado por ingresso para o Maracanã, mas aqui em casa só tem Farinha Láctea. Não daria tempo de comprar Neston. Agora, só me resta copiar trechos de textos que eu gostaria de ter escrito. O primeiro é esse aí embaixo. Não é da Clarice, mas não importa. Estou certa de que se tivesse ido ver o Botafogo jogar contra o Náutico poderia ter posto estas palavras juntas pelos meus próprios sentimentos. Como não fui, não senti, então não escrevi, copiei. Aí está o Caio Fernando Abreu. Culpem o Neston.

... nos encontramos completamente despreparados para esse encontro. E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma que eu não esperava você. Certamente houve, porque tenho a vaga lembrança - e todas as lembranças são vagas, agora -, houve um tempo em que não nos conhecíamos, e esse tempo em que passávamos desconhecidos e insuspeitos um pelo outro, esse tempo sem você eu lembro. (...) às vezes eu me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resitência.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Online

"They are playing a game. They are playing at not playing a game. If I show them I see they are. I shall break the rules and they will punish me. I must play their game, of not seeing i see the game", R. D. Laing: Knots

E se nós continuarmos assim de conversinha e de repente... meu coração tropeça só de pensar. E se entre sorrisos e brincadeiras nos perdermos sem perceber? Nos perdermos no tempo que não mais perceberemos passar. Ou quem sabe nas palavras escritas. Ou nos corpos em fusão. O que devo fazer ao ver essa luzinha azul piscar na borda da tela? Te digo oi e sigo em frente? Ou paro aqui um pouquinho para ficar presa até o resto do dia, pensando que você está aqui comigo. Do outro lado dessa linha virtual. Prestando atenção em mim. De que maneira? Quem saberá dizer. Vem aqui me convencer? De que fomos feitos um pro outro. Que o nosso passado existiu apenas para nos juntar. E daí se o passado for empecilho? Para crescer temos que seguir a trilha direcionada pelo medo. Afinal, o aprendizado nasce da superação. E eu estou com muito medo de você.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Último suspiro

Onze de junho. Véspera do dia dos namorados. Surgem na redação do jornal alguns buquês de flores. Quem teve a maldita idéia de mandar flores justo nesse dia, tão próximo Do dia? Que falta de tato. Neste momento, os "independentes" da redação já puderam sentir uma ponta da angústia que sentiriam no dia seguinte.

Dia seguinte. Acordo com o despertador tocando as seis da manhã. O rompimento se materializa no último suspiro que ainda restava me sendo devolvido em uma pasta de plástico. Mas um dia de trabalho. Eu, já discrente de tudo, dirijo para casa após mais um dia de Rio Comprido. Tenho que parar o carro por causa de um sinal fechado. Teoricamente, isso seria mais uma amenidade do meu dia repleto de dores de cabeça. Mas não. Surgia a luz no fim do túnel no dia dos namorados. Eu parei no sinal vermelho exatamente atrás de um carro verde com uma placa em que se lia MG - Boa Esperança! Aonde eu quero chegar? Exatamente ali, em Boa Esperança. Aquela frase (para mim era mais que um nome de uma cidade mineira) estava estampada na placa do carro parado na minha frente neste dia desesperançoso. Naquele momento entendi que o universo se comunicava comigo. Aquele alento divino me acalmou as nove da noite em pleno dia dos cartões Eu te amo! E assim, eu fui salva, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Tudo certo como dois e dois são cinco

Os sinais de que o dia dos namorados estava chegando apareceram cedo e foram aumentando gradualmente. Na segunda-feira, Joaquim Ferreira dos Santos alertava: Homem, procura-se. A semana continuou com a loucura do Fashion Rio e sem que eu percebesse thanks god it was friday. Foi aí que a coisa começou a ficar feia, ou bela demais, dependendo do ponto de vista. Alessa apresentou o último desfile da temporada. O tema? Coletivos. Uma metáfora sobre a liberdade, romance e fusão. Ao som de tudo em volta está deserto tudo certo / tudo certo como dois e dois são cinco, uma modelo entra na passarela vestindo um longo em “A” e com a letra “A” estampada. Anna? Logo em seguida o mesmo vestido com a frase THE END. Imaginei o meu fim e num piscar de olhor me transportei para o meio do coletivo. Mais sozinha do que nunca em meio a multidão, mas com essa solidão que é gostosa de sentir, cantei que todo carnaval tem seu fim. Que quem sabe o que é ter e perder alguém... E que aí, não há sequer um par para dividir. Cantei que até quem me vê na fila do pão, lendo o jornal, sabe que eu te encontrei. Que prefiro assim com você, juntinho, sem caber de imaginar, até o fim raiar. Cantei pra deixar o verão pra mais tarde. Porque a primavera chegou, e com ela meu amor. No sábado, já achava que a minha cota de romantismo tinha esgotado. Mas vi o quadro. "CAROLOVERS DAY com duas opções: não quero só ficar, ou pra sempre e mais um dia". Domingo, febre ardente. A menor chance de abandonar meu edredom de pena de ganso. Comecei um novo livro: O passado. Sugestivo? talvez... Mais uma segunda-feira: A caixa de mensagens guarda o seguinte e-mail: "Obrigada, Anna. Você está brava comigo? Nem um sorriso mais? Mas você continua linda!!! Beijos, J.E." Who the hell is J.E.?? Definitivamente um sinal. Mas o dia não termina, afinal é véspera do Dia dos Namorados. Um buquê de margaridas amarelas é entregue na redação. Não se anime, não são para mim. Mas quando o correio chega, a coisa melhora. Recebo um envelope gordo e sem remetente. Dele retiro um livro: "Contos de fadas eróticos - descubra as mais quentes fantasias de príncipes e princesas entre quatro paredes". A pessoa que me mandou o livro provavelmente não sabe que EU SOU UMA PRINCESA. Whatever. O embrulho veio com dadinhos eróticos de brinde. Jogo os dados. Beijar. Nuca. Ainda na segunda-feira, Joaquim Ferreira dos Santos alerta mais uma vez: Mulher, procura-se. Homens pedem a palavra: também estão sozinhos.

domingo, 10 de junho de 2007

Casamentos perfeitos: a influência da vida pessoal na profissional

Casamentos inabaláveis são raros, principalmente entre duas pessoas completamente diferentes. Mas quando os opostos se tornam complementares, a relação tem tudo para ser eterna. Na gastronomia é igual. Quando servidos lado a lado, sabores e texturas contrárias podem compor um casamento perfeito. Não é à toa que goiabada com queijo chama-se Romeu e Julieta e que o biscoitinho amanteigado com doce-de-leite foi batizado casadinho. As afinidades químicas entre os ingredientes são estudadas na culinária molecular. Mas, para saber se um sabor realmente combina com o outro, a melhor estratégia é mesmo provar. “Fora as novas combinações, existem os casamentos culturais, que já entranhados na nossa cultura, como o arroz com feijão, abóbora com carne seca, pão com manteiga e o café com leite”, comenta o chef Rafael Molina, do restaurante Esch Café. De tão populares, o pão com manteiga e o café com leite saíram do balcão das padarias para a mesa das cafeterias. Há também os casamentos estrangeiros, que acabam caindo no gosto do brasileiro. O espaguete à bolonhesa é um exemplo, e por isso tem lugar cativo no cardápio do D'Amici, um dos italianos mais sofisticados do Rio. Também gringo mas com toda pinta de nacional é o casal churros e doce de leite. Tão complementares que não adiantou a chef Roberta Ciasca, do Miam Miam, incluir no menu a sobremesa com dois recheios – o de chocolate e o de baba-de-moça – além do tradicional. “O de doce-de-leite era disparado o mais pedido. Excluí as outras opções e passei a servir acompanhado de compota de banana”, conta Roberta. Outra invenção que não funcionou: a compota sempre sobra no prato. Sinal de que, na gastronomia, é nos casamentos perfeitos que todo mundo mete a colher.

sábado, 9 de junho de 2007

Coletivos

À tarde fazia aquele solzinho gostoso de outono. Aquele em que, por estar frio na sombra, nos aquecemos no sol mesmo usando nossos casacos. E foi numa tarde dessas, em um dia de trabalho, que se fez o cenário. E não demorou para que se transformasse numa noite agradável, daquelas que a gente se abraça para se aquecer. Nessa noite eu fui, ainda a serviço, assistir ao desfile da carioca Alessa. Aquela das calcinhas. Antes de começar, no burburinho dos corredores se questionava a qualidade do desfile. Será que ela sustentaria um desfile no horário nobre do Fashion Rio?

No desfile da caprichosa publicitária que faz calcinhas e também roupas, o show começara antes mesmo de ter se iniciado de fato. Enquanto nos acomodávamos em nossos lugares, viam-se na passarela cortinas gigantes feitas com tecido do tipo florido à la vó. Já se notava o tom lúdico que iria reinar durante o espetáculo. As cortinas se abriram, e voilá, o desfile começou. Enquanto nos embalávamos ao som de uma canção romântica de Roberto Carlos, aparecia no fundo da passarela um imenso balanço. A modelo que se balançava, desceu, e começou a caminhada.

Nas roupas, as estampas deflagravam o tema. COLETIVOS! E surgiam os vestidos incríveis, uns com inúmeros pássaros voando, outros com uma manada de zebra que mesmo ali paradas movimentavam o meu pensamento. As roupas apareciam e animavam as minhas fantasias. Até porque, eu estava ali, as vésperas do dia dos namorados, completamente embriagada daqueles coletivos que apareciam lindamente na minha frente. Para fechar com chave de ouro, Alessa apareceu linda e loura (morena), se balançando. Depois, correndo feito uma artista circense, ela veio para frente dos fotógrafos com sua blusa com os dizeres em letras garrafais: The End.

Lindo , lindo , lindo! Um simples desfile, a princípio nem tão bom assim, com modelos nem tão bonitas assim, se transformou em um show bem bom assim. Quando saí, percebi os casais que se abraçavam, as pessoas que sorriam. Talvez ninguém tenha se dado conta, mas eu tenho certeza que os coletivos andaram penetrando no imaginário de todos . É isso. The End.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Estrela do Fashion Rio (Mas não é a Gisele né?)


Michael Roberts

Nós, blogueiras de plantão, cobrimos o Fashion Rio e entrevistamos ninguém menos que Michael Roberts. Para quem quiser conferir...

Michael Roberts ex todo poderoso da revista The New Yorker e atual editor da Vanity Fair, está no Rio para conferir os desfiles doFashion Rio de verão. Elegante e discreto ele circulava pelo evento sem ser notado. Enquanto aguardava pacientemente o desfile da Animal e começar, nos cedeu uma entrevista.

O que você acha da Animale, você gosta?
M-É comercial, mas eu gosto sim.

Qual foi o desfile que você mais gostou até agora?
M- Foi o desfile de biquinis da Lenny. Definitivamente muito bom.

Tem algum desfile que você não gostou?
M- (risos) Essa é uma pergunta difícil. Tem sim, mas eu não vou falar os nomes.

O que você acha da moda no Brasil?
M- Muito boa. A última vez que eu estive aqui foi há um ano e meioatrás, e posso dizer que esse ano as marcas estão mais evoluídas.

Você tem alguma expectativa em relação aos desfiles do Fashion Rio?
M- Tenho sim, e muita. O que eu mais gosto moda moda no Brasil é amistura de folclore e tecnologia. Os estilistas daqui conseguem ser aomesmo tempo comerciais e originais.

Existe identidade na moda brasileira?
M-A primeira vez que eu vim para o Fashion Rio, foi há seis anos atrás.Naquela época não havia uma identidade própria. Todos queriam seriguais aos europeus. Hoje em dia, estilistas como Isabela Capeto,Oscar Metsavaht e Carlos Miele demonstram a qualidade da produçãonacional. Os brasileiros não tem mais vergonha de serem eles mesmos,porque afinal de contas, Prada já existe uma e não precisamos de outra.

Diretamente do Fashion Rio....

Zizi Ribeiro

A criadora do conceito Semana de Moda no Brasil, a produtora e jornalista Zizi Ribeiro, nos contou um pouco da história da moda carioca, criticou a atual estrutura do Fashion Rio - já na 11 edição – e confessou que há necessidade de mudanças.

Como surgiu a Primeira Semana de Moda?

Comecei na moda em 85, como figurinista das novelas das 18h. Nos anos 90, já organizava desfiles em shoppings. Em 92, vi que não conseguiria fazer tudo sozinha, então, chamei a Heloysa Simões para trabalhar comigo e formamos a Dupla, que era dentro da minha casa. Todos os contatos de modelos, grifes, jornalistas e patrocinadores eram meus. Criamos então o que era chamado de Semana Leslie e Helena Rubenstein de Moda, no Jockey Clube do Centro.

O que você acha do atual modelo do Fashion Rio?

Acho que já tivemos o nosso auge. O Rio não tem grife para uma semana inteira de moda. Deveríamos diminuir para três dias. Ou então acabar com essa briga entre Rio e São Paulo e fazer a coleção de verão no Rio e o inverno em São Paulo. Perdemos o padrão, temos que renovar tudo. Além do mais, a estrutura do lugar é decepcionante. A Firjan dá por ano para o Fashion Rio R$ 6 milhões por ano, fora a quantia paga por cada um dos participantes do Fashion Business.

O que você acha da moda carioca?

Que moda? (risos) O Rio é lançador de estilo. Isso é exatamente o que a Europa e até mesmo São Paulo querem de nós. Não temos dinheiro, não temos modelagem, nem estrutura na moda, mas temos a alegria e a bossa do carioca. Vendemos estilo de vida para o mundo inteiro. Vale a pena investir aqui, tomara que os empresários percebam isso.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Ainda nos bastidores do Fashion Rio...




Natália Guimarães

A Miss Brasil e vice-Miss Universo aportou na Marina da Glória para estrelar o desfile da TNG, o último de ontem - em que, diga-se de passagem, arrasou. A musa tem 22 anos e é extremamente bem educada e exuberante, exatamente como uma miss deve ser. Cada frase é respondida na medida certa. Apesar de afirmar que prefere o estilo básico de roupa e não liga para moda, vestia botas de couro até o joelho, calça jeans justa e corpete de tule preto transparente bordado de paetes, sob parka de lã. Com tom de voz sempre baixo e fartando-se com mil folhas de salmão e cream cheese, revelou alguns segredos antes de entrar na passarela, mas como também é esperado de uma Miss, o papo não foi muito além disso:

Você lida bem com o assédio do público?
O carinho do público me conforta. Tem tanta gente torcendo por mim que até me sinto como um jogador na Copa do Mundo.

Como você se sente momentos antes de entrar na passarela do Fashion Rio?
Estou tranquila. Afinal, não vai ter jurado me avaliando.

"Será que ninguém disse pra essa menina que o público é pior jurado?", pensei imediatamente. Depois que a vi desfilar com o maiô azul da cor da letra das perguntas desse texto descobri porque ela não deu bola pro público: Natália tem um corpaço. Ao lado das modelos sem carne, então, nem se fala, o bumbum da garota fica igual de nega. Sem contar que ela não tem nenhuma celulite. Zero. Palavra de quem tava na segunda fila...

Você costuma dizer que a maior parte da sua beleza vem de dentro, quais as suas características que transparecem no físico?
Sou uma pessoa iluminada e tento sempre passar essa luz para aqueles a minha volta. Sou divertida, alegre e simpática.

Tudo bem que ela é a segunda mulher mais bonita do mundo, mas 'iluminada', não sei não. Pra mim iluminada é coisa de santo...

O que você faz para manter a beleza?
Não passo fome de jeito nenhum. Mas faço muita atividade física, principalmente spinning.

Eu também, e ainda corro.

Gisele Bundchen te inspira?
Não tenho ídolos. Não adianta tentar imitar alguém.

Até porque não dá pra imitar a Gi.

Já fez plástica?
Não, mas colocaria silicone se precisasse. Mas não quero ser mais uma Barbie como tantas outras.

Aí chegou a Mariana Weickert com o microfone do GNT Fashion entrou na minha frente, interrompeu a minha conversa e começou a falar com a Miss. Fim de entrevista.

Secret du jour: descobri que sou do tamanho da perna da Mariana.

II Secret du jour: aquela que foi empurrada pela Mariana ao vivo sou eu.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Por trás das cortinas do Fashion Rio...


Gisele Bündchen


Gisele chegou a mais um Fashion Rio atropelando. Tira! Tira! Tira! E Abre! Abre! Abre! Foram palavras gritadas em coro por aqueles que assistiam a cena. Não se engane, a gata garota não se preparava para um streaptease: o tira, era para os fotógrafos tirarem a foto e o abre, para que abrissem passagem para a felina. O carrinho de golfe rodeado de seguranças passou. Num piscar de olhos Gisele desaparecera. Deixou para trás um holofote quebrado e indagações se alguém havia se machucado. Gisele não é mais só modelo, tornou-se celebridade. Sua presença é suficiente para mudar o ambiente. Em nenhum outro backstage a segurança era tanta como no da Colcci. Gisele adota uma atitude animal. Não quer saber de nada ou ninguém. Seus colegas modelos eram barrados na porta do camarim e imploravam para conseguir permissão para trabalhar. “Não sei porque fui barrado, vou desfilar também!”, reclamava o modelo Carlos Francis. A situação se repetiu com Murilo Smidth e Diego Brauser. Enquanto isso, a top estava enjaulada no camarim exclusivo, que até para os amigos de longa data, o produtor Cláudio Gomes e o editor inglês da Vanity Fair Michael Roberts, era difícil o acesso. A clausura continuou durante o desfile. Gisele desceu três vezes num elevador à la nave espacial do Xou da Xuxa. Os baixinhos eram a platéia, que se esbofeteava ansiosa para ver a rainha e devorar os chocolates com a embalagem cor-de- rosa distribuídos gratuitamente. Por trás da porta pantográfica, a leoa fazia charme como as meninas da red light district, em Amsterdã, onde são expostas como objetos em janelas viradas para as ruas. No primeiro passeio pela passarela, um macacão frouxo nada fazia pelo corpo da modelo. Na segunda entrada, o look poposuda acentuava as costelas salientes nas costas peladas da fera mirrada. Na última, Gisele banhada a ouro. Os baixinhos foram ao delírio, entre eles Zezé Polessa, Maité Proença, a ex-Big Brother Siri, Sabrina Sato, Daniele Winits, entre outras celebidades. Fica difícil acreditar que alguém estava ali para ver outra coisa se não Gisele. Centenas de celulares eram apontados em direção da fera. Porque será que a top era a única que não estava com as unhas pintadas de laranja? Será que não havia manicure a sua altura? Mais uma vez a Colcci deixou a moda de lado, nem a übermodel, atração principal do show, conseguiu vender bem a má tentativa da marca de uma releitura dos anos 80.

terça-feira, 5 de junho de 2007

A pergunta que não cala o Fashion Rio


Quem é essa tal de Teca?

Apesar do clima calmo dos bastidores do desfile da grife Teca, uma pergunta pairava no ar: Quem é Teca?
Nem as modelos, nem a equipe de beleza de Fernando Torquatto ou o pessoal da produção sabiam responder a pergunta. A primeira pessoa que sempre era indicada era a stylish da marca, Lêle. Demorou um pouco para que Ana Machado, da equipe Torquatto, indicasse uma morena baixinha com botas de cowboy estampada de onça como sendo a estilista estreiante. Um dos fatores que dificultavam a associação da estilista à marca, é que o seu nome é na verdade Heloisa Rocha. Teca (pronuncia-se Têca), é o nome da vó da moça.
- Não me importo de confundirem tudo, sempre. Teca é um nome que eu amo, que colocaria na minha filha - diz Helô, apelido pelo qual prefere ser chamada.
No desfile, a marca apresentou roupas ou muito longas ou muito curtas, nada muito justo. Os modelos foram baseados na Tropicália, com referências ao terno de Caetano e a túnica de Dedé, sua mulher, e ainda aos parangolés de Hélio Oiticica. As estampas foram inspiradas nas obras do artista plástico Nelson Leirner e em figurinhas pops como Hello Kitty e moranguinho. As amarrações estão nas calças pantalonas e nos microshorts, que ganham um toque de alfaiataria. A cartela de cores contempla, principalmente, os tons vibrantes como o amarelo, o rosa, o verde e o azul.
Marienheira de primeira viagem, a estilista de 26 anos foi super prestigiada. Estavam presentes no backstage Carolina Dieckmann, Camila Pitanga, Preta Gil, Fernanda Paes Leme, Sabrina Satto e o casal Roberta Sá (responsável pela trilha sonora) e Pedro Luís.
Helô estreiou com o pé direito. A estilista potiguar mostrou aos cariocas que sabe fazer moda com um dos desfiles mais bonitos da temporada. Essa garota promete!
**escrito a quatro mãos**

domingo, 3 de junho de 2007

Entre o erudito e o batidão

Não fosse a animadíssima compania de alguns amigos que andam por aí sumidos, cada um no seu caminho, mas que me dão uma alegria imensa ao rever, entre a música clássica e o funk, ficaria com a Orquestra Sinfônica Brasileira tocando de baixo de chuva em frente ao Copa. Teria sido um evento emocionante, não fosse a espectativa dos organizadores em ali agregar mais de 100 mil pessoas e a chuva que caia no início da noite de sábado. Todo carioca sabe muito bem que praia com chuva é programa de índio. Se um dia eu descobrir que me chamo Apoema, não terei nem o início de uma crise de identidade. Pelo contrário, às vezes desconfio que este momento esteja bem próximo. Pois bem, abandonei o vento, a chuva, a areia grudada na barra da calça jeans molhada, o maestro alemão Kurt Mansur, o violinista Yamandú Costa, Eduardo Torres, de 17 anos, estudante da escola de música Villa-Lobos, que veio de Vila Isabel porque não é sempre que temos a chance de assistir música boa de graça, e outras 300 pessoas que estavam ali por amor à música, e segui o conselho da aposentada Helise Cardoso, de 72 anos, que garantiu que chuva não derrete, mas que não podemos nos deixar enferrujar - até na Ivete semana passada ela estava- , e migrei dos violinos clássicos grátis ao ar livre, para o inferninho do batidão na Fundição por 60 pratas, à procura de joie de vivre. Como eu já disse, certos amigos salvam uma noite. O lugar estava apinhado, corpos suados bombados tatuados e sem camisa se esbarravam no minha blusa social xadrez, respingavam nos meus já despenteados mais ainda sedosos cabelos, corpinhos adolescentes em calças justas mostravam a barriga e desciam até o chão. Chão, chão, chão. Não me cansarei de repetir que bons amigos fazem uma noite, por isso agarramos os que tavam de camisa preta. E depois disso não me lembro mais de muita coisa. Sei que a noite terminou às 6h30 com o telefonema de dois dos amigos dizendo estar na porta da minha casa, já que eu não atendia o telefone e não havia ligado dizendo que chegara viva. Eles que me matem, mas foi muito, muito, muito, fofo, eles terem atravessado o túnel só por minha causa. Eu sei o big deal que é para pessoas que moram do lado de lá atravessar o túnel, mesmo que sem trânsito seja mais rápido do que ir do Leblon à Ipanema.