quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

l'amour, l'amour, l'amour

Quando um hipopótamo encontra um outro hipopótamo, passam a vida inteira hipopotando no lago, no rio, sei lá aonde vivem os hipopótamos. O que importa é que eles ficam juntos até que a morte os separe. Quando uma ursa panda encontra um urso panda que ela ache pintoso, inteligente e muito boa companhia, não adianta nada, afinal os ursos pandas só dão uma vez por ano. Já os leões por se acharem os reis do pedaço só andam em grupos com 10 a 30 leoas. Nunca satisfeitos, passam o dia deitados na relva esperando que as fêmeas voltem com a caça para saciá-lo. Em Someone like you, a protagonista interpretada por Ashley Judd constrói toda aquela teoria da vaca nova e da vaca velha. Mas o que estou tentando mesmo dizer aqui, por mais confuso que pareça, é que como já dizia Pascal, "o coração tem razões que o próprio coração desconhece". Isso no caso de dos humanos, é claro. Como diz o personagem Xavier, de Les Poupées Rousse, a gente passa a vida se perguntando o que de fato é o amor e porque ficamos tão fora de nós mesmos quando apaixonados. Quando estamos sozinhos, nos perguntamos se algum dia encontraremos a pessoa ideal. Quando estamos acompanhados , a pergunta é: Será que ele sente por mim a mesma coisa que sinto por ele? Podemos amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Afinal, porque nos separamos? Não podemos dizer que somos mal informados, afinal, lemos romances, contos de fada, novelas, comédias românticas. Mas continuamos insistindo. L'amou, l'amour, l'amour.

***

"If I think about all the girls I've known or slept with or just desired, they're like a bunch of Russian dolls. We spend our lives playing the game dying to know who'll be the last, the teeny-tiny one hidden inside all the others. You can't just get to her right away. You have to follow the progression. You have to open them one by one wondering, "Is she the last one?"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Aonde estou ?

Esta é a primeira pergunta que você faz ao acordar. Graças a Deus a resposta vem rapidamente, em fração de segundos, e tudo isso se passa dentro de sua cabeça. Tá, estou na casa de uma amiga, ufa, isso é um alívio. Mas e essas botas que estão no meu pé, e essa bolsa que ainda está envolvida em meu corpo, e o travesseiro, cadê o travesseiro? Tudo acontece muito rápido e silenciosamente, nenhuma voz foi pronunciada até o momento. Em seguida vem a sede enlouquecedora que te faz levantar e ir à cozinha. Só que antes você resolve dar uma passada no banheiro. A resposta da pergunta inicial vai clareando quando o espelho na sua frente te informa com sua sinceridade calada que a sua cara é de dia seguinte. E então, enquanto caminha até a cozinha, você se dá conta de que algo foi apagado de sua memória, mas sem você querer. Alguma coisa aconteceu em um certo ponto da noite, e você só lembra do momento do seu despertar. Aos poucos tudo vai se encaixando, mas não sem o auxílio de sua amiga. Sim, ela esteve lá e pode te contar direitinho tudo que você NÃO viu. Você vivenciou, mas tem certeza que não viu. Muitas coisas não soam familiar…É a vodka faz isso. Ela é muito além de uma bebida, é um passaporte para o buraco negro. O lugar que você esteve na noite passada. Depois de alguns outros estágios e o dia inteiro no sofá, você se dá conta de que tem sempre uma primeira vez para uma amnésia alcoólica, e com certeza você não vai esquecer.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Nunca mais

É seu aniversário e eu acordei com vontade de chorar. Devo ter sonhado com você, mas não me lembro. Não me lembro mais de nada. A memória prega essas peças às vezes, na maioria delas por um bom motivo. Não quero mais lembrar que só te conheci porque te confundi com seu irmão. Não quero mais sentir o momento que nossos olhares se cruzaram, nem quero mais saber por onde você anda. Mas acordei pensando em você, no chopp em que eu não fui convidada, onde nem mesmo se fosse eu estaria. Acordei e o buraco estava maior. Nem as braçadas fortes na piscina, nem a respiração contada, nem a força dos raios do sol conseguiram tampar a angústia de estar sem você. Ou de estar sozinha. As duas coisas se confundem. Me perdi do antigo eu e não sei mais por onde achar o novo. Não gosto do que vejo. Não gosto do desejo. Não quero te encontrar. Nunca mais. Acredita em mim, NUN-CA-MA-IS.
Já faz tanto tempo. Tanto tempo que tudo. Tanto tempo que nada. Tanto tempo que eu não me sinto eu. Eu não queria que me mostrassem aquelas fotografias. Eu não queria parar do seu lado no sinal, nem do lado do seu pai no dia seguinte, nem ter que ligar pro seu irmão no outro, nem ouvir meus (seus) amigos falarem da sua nova namorada. Eu não queria que fosse seu aniversário, nem saber aonde você comemorou, nem até que horas durou, nem o que você está fazendo hoje. Eu te esqueci. Acedita em mim, EU-TE-ES-QUE-CI.
Você me persegue e eu culpo a solidão. Eu culpo a ausência, não tua, mas a minha. A minha ausência na vida real atrai o seu fantasma. O meu medo de me olhar no espelho atrai a sua imagem. E nem a respiração contada, nem pernada de peito, nem posição de cachorro de cabeça pra baixo te espantam.
Por isso eu vou sair, vou dançar, vou beber e vou fingir que estou feliz. Mais uma vez. E amanhã também. E depois, e depois, e depois. Até o carnaval chegar e arruinar a minha fantasia. Porque a gente vai se encontrar numa esquina qualquer. Os dois meio pra lá, meio cá, meio sem saber o que fazer. Vamos nos evitar, você vai me abraçar, eu não vou conseguir olhar no seu rosto. Vou fingir um sorriso e você vai acreditar. ELa vai chegar perto e você vai ter que ir. Os dois vão juntos. Você sem nunca saber que eu tremi, que meu coração bateu muito forte, que eu passei o ano fugindo de você. Porque antes de dormir, o meu único desejo é não te encontrar. Acredita em mim: TO-DOS-OS-DIAS-EU-DE-SE-JO-NÂO-TE-EN-CON-TRAR. Mais aí vem o carnaval e estraga tudo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Sinais de fumaça

De repente senti aquele rombo no estômago. Não era fome, não era dor, era apenas espaço e vontade de chorar. Aí o livro "Correio do tempo", do Mario Benedetti, repousava na mesa ao lado. As palavras se inflitraram no meu corpo. Foi só essa frase, assim, jogada numa página qualquer "Estou cercada de próximas ausências e distantes presenças", postei. Um post chulo e insignificante. Fiquei com vontade de escrever mais, de comprar o livro e de chorar. Lembrei de você, lembrei que é carnaval, que cairemos na folia tão distantes e tão próximos. Desejei o seu abraço. Lembrei do inferno astral. Deve ser isso, precipitação de sensações. O inferno astral chegou 15 dias antes, junto com a saudade e a vontade de pular. O vazio no estômago. Mario Benedetti criando palavras para o meu sentimento. A chuva por cair. Eu antes da tempestade.
"a nuvem que é de âmbar ou algodão
o amor que carece de palavras
os barros da lembrança/ a luxúria
ou seja que os signos pelo ar
são sinais de fumaça/ mas a fumaça
leva consigo um coração de fogo"

Correio do tempo

"Estou cercada por distantes presenças e próximas ausências", Mario Benedetti

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Coisa de cinema

Funcionava muito bem quando estavam juntos, mas por algum motivo qualquer eles estavam deixando de se ver. Não sei se tem explicações na verdade. Ele devia estar com alguma enrolação, e ela tinha sido pega de surpresa, não teve muito tempo para pensar. Só sei que ela não estava a fim de levar mais um fora, quando era ela mesma que não estava certa do que queria. Então, resolveu falar, resolveu concordar. E era sincero, e se sentiu livre. E ele escutava. Ele era diferente dos outros. Mas não esse tipo de diferente igual, era mesmo singular. Eles se falaram, e eles se acabaram. Surpreendentemente, foi aí que tudo começou. Depois disso, coincidentemente se encontraram... A partir daí só tinham uma semana, mais especificamente 9 dias. Ela já tinha dito para ele que iria viajar, mas ele tinha esquecido. Não tinha o que fazer, eles tinham que viver aquilo, nem questionavam o contrário. Queriam se encontrar e se encontraram, não tinham barreiras ou pontes que os separasse. E foi tudo....tudo....tão incrível, mais ou menos como um filme Hollywoodiano, desses que se suspira na cadeira do cinema. Sentiram o tempo parar, apesar deste teimar em continuar andando segundo a segundo, não importava. Comeram comida japonesa, foram á praia á noite, viajaram no meio da semana, se acompanharam numa festa chata, dançaram Norah Jones sozinhos na sala, fizeram pactos...E aí ela viajou, e o oceano de distância não foi capaz de separar o que acontecia dentro dela. O tempo passa independentemente de sua vontade, não que ela não queira, ele faz o seu papel. Mas ela não tem medo. A certeza de que só a dúvida é possível neste momento não a amedronta. O cheiro dele a pega de surpresa nos momentos mais inesperados, não posso dizer se é da sua cabeça, ou se realmente está no ar. Vai saber...

do filme Adaptação

- When you walked away, she started making fun of you with Kim Marshall. You didn't know at all...You seemed so happy.
- I know. I heard them.
- So how can you be so happy ?
- You know, my love for Sarah, Charles, it was mine...mine love. I owened it. Even Sarah didn't have the right to take it away.
- But she thought you were pathetic...
- That was her business, not mine. You are what you love, not what loves you. That's what i've decided a long time ago.
- Thank you.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O cable guy

Antes dele já tinham vindo quatro homens e nada. Esta história de prédio velho charmoso já estava indo longe demais. Já tinha faltado luz, a porta de entrada era muito estreita e pesada, e agora problemas com a internet. Não, isso não era justo. Pôxa, já eram 5:30 do dia do meu aniversário, eu já tinha passado o dia anterior inteiro com um entra e sai de homens que vinham, ficavam horas e falavam que por algum problema que eu não consegui entender, acho que nem eles, não podiam instalar a internet. Aprendi neste dia que custode em italiano quer dizer porteiro, e que o porteiro tem a chave da minha casa. Meio tenso! Eu já estava desesperançosa, quando o meu telefone toca. Era um homem, um homem que falava rápido e em italiano. E tinha uma voz boa. Entendi que ele era o quinto elemento, o quinto homem que entraria na minha casa, no dia do meu aniversario, para, quem sabe, conseguir me conectar com o mundo. Ele disse que chegaria em 5 minutos. Acho até que chegou mais rápido. Quando eu abri a porta vi este cara, super gatinho, que estava sorridente, pronto para me conectar. Á esta altura, já não sabia mais se eu queria que o cara da fastweb (nome da companhia de internet) fosse tão rápido assim. Entre o sobe escada, desce escada, cabo daqui, fio dali, ele ia me perguntando a minha idade, o meu nome, se eu "era italiana?", "não, sou brasileira", "Ah tá...". Depois de duas horas, o cara da voz boa já tinha nome e idade. O Martchelo tem 29 anos e três irmãos mais velhos do que ele. Ele é o filho temporão. E não é que ele conseguiu. Agora eu já tinha internet, e um herói. Muito á la latin lover de uma forma italiana, ele me deu um abraço, os parabéns, e me chamou para sair. Acho que a sorte pode bater sim na nossa porta. E no dia do nosso aniversário.

domingo, 13 de janeiro de 2008

As coisas simples da vida

Descobriu que as coisas não começam do zero, nunca. Pode-se mudar de casa, de amigos, até mesmo de cidade, mas jamais se começa alguma coisa do zero. Se deu conta de que aonde quer que fosse, carregaria consigo tudo que já tinha acontecido até então. Mesmo assim ficou feliz, afinal tinha feito uma tentativa. Soube reconhecer seu esforço. Tudo que era seu, ela sempre carregaria consigo. Tudo que lhe pertencia parecia um rabo que sempre a atrapalhava na hora que tentava fechar a porta. Entendeu que não adiantava cortar o rabo, porque eram que nem os de lagartixa, cresciam de novo como se nunca tivessem sido cortados. O que ela tinha que fazer agora, era fechar a porta somente depois que o rabo inteiro tivesse para dentro. Mas para isso teve que entender muita coisa também. Que só se está sozinha de verdade, quando a possibilidade de encontrar alguém se reduz a zero. Que suas histórias não são só suas, na medida em que alguém pode se apropriar delas sem nem pedir licença, e que provavelmente esse alguém seria algum amigo seu. Que cozinhar e deixar o boiler ligado ao mesmo tempo gera um blackout. Que, em Milão, os homens acompanham as mulheres no supermercado. Que morbido em italiano quer dizer macio; e tambien não é italiano, mas espanhol. Que as histórias de amor acabam sem ter chegado ao fim. Que saudade existe sim, e não é só uma palavra unicamente da língua portuguesa. Que liberdade demais pode ser excesso. Que uma cama de casal é feita para dois, embora adore se esparramar na hora de dormir. São tantas, tantas coisas... Ela sabe que ainda tem muito o que aprender. Sua vida está longe de estar resolvida, e ainda assim, ela só consegue pensar em quem estará do seu lado quando ela for passar o reveillon no pedalinho.


* Ao som de Nina Simone, Just like a women
Da próxima vez que ele chegar perto, você vai deixar o frio na barriga de lado e vai dizer que sim. Vai acreditar que ele possa de fato estar interessado em você e que para isso você não precisa ser a melhor mulher da festa. Não, ele não está apaixonado por você, ainda. Ele não vai ficar te convencendo a noite inteira. É só um beijo. São só duas pessoas fingindo que se divertem enquanto não encontram a companhia perfeita para passar o reveillon no pedalinho. Tudo bem que você estava no samba antes e já tomou três caipivodkas de morango com adoçante. Tudo bem que é difícil entrar no ritmo do eletrônico com a cadência do samba pulsando na veia. Redbull com vodka te deixa enjoada. Redbull com vodka custa uns 16 tickets de bebidas, o equivalente a R$25 reais. Você pede a bebida no bar. Ele chega perto e pergunta se você é o melhor partido da festa. Você sorri meio sem graça. Ele explica que vc tem um monte de tickets de vale bebida na mão. Você percebe que ele não é ELE, ainda. Você tenta ser simpática, mas a idéia de que o approach do cara falhou e que, tadinho, ele não sabe que você é o melhor partido da festa por outros atributos. O sorriso largo desaparece. O redbull chega e o cheiro já te dá enjôo. A noite será longa. Amigos antigos, gente que você não encontra há muito tempo, papo cabeça, gim tônica, você não sabe mais porque está ali. Ele diz que o seu vestido é lindo. Você pensa que ele é gay. Ele diz que você fica linda de vestido. Você pensa que ele está falando com a pessoa ao seu lado. Ele diz que não, é com você mesma. Ele pergunta o seu nome, o que você faz e diz que escrever organiza o mundo. Ele diz que fez engenharia, mas largou tudo para estudar medicina chinesa, quer aprender acumpultura. Diz que não bebe, não fuma e pratica yoga todas as manhãs. Você se surpreende por ser uma espécie de pára-raio de gente esquisita. Você pensa se é meio doida. Escrever pode organizar o mundo, mas tem feito a sua vida bastante caótica. Você vira de costas pro cara. Tudo bem, pode não ser a atitude mais gentil do mundo, mas o que você não precisa é de mais gente estranha na sua vida. Ele vai embora. Você pensa que está sendo preconceituosa, que nem conhece o cara e já formou um milhão de conceitos. É só um beijo. Mas, e se você se apaixonar? Você não confia mais em si mesma ao lado de pessoas não "normais". Está muito escuro. Você se arrepende de ter mandado o cara embora. Mas ele já está com outra. Deve estar falando do vestido dela. Deve estar dizendo para ela que os advogados regulam o mundo. Ele deve ter achado ele gatinho. Para ela, isso é tudo o que importa. Eles se beijam. Ele não é ELE. Mas quando ELE chegar perto, você jura que vai deixar o frio da barriga de lado e dizer que sim. O que ele quiser, sim. Você vai sorrir, levantar o olhar e acreditar no que ele disser, mesmo que seja só por agora. O encontro é rápido, se você piscar, passou. Essa noite já passou. O táxi até o pedalinho deve custar uns R$32. Você lembra que o reveillon também já ficou para trás. Quando chega em casa, você senta no jardim para assistir o sol nascendo no mar. Silêncio. Gosto de redbull. O seu coração pulsa forte. Há um ano inteiro pela frente.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O primeiro dia

O primeiro dia da temporada outono/inverno de 2008 do Fashion Rio não mostrou muitas novidades. Continuo espremida entre a grade que me separa de la Bündchen e a humilhação de descobrir que a musa, que estava protegida por 55 seguranças, comeu um brigadeiro ao entrar no camarim, pintou as unhas de vermelho Beijo, da marca Richer e mais uma vez não me concedeu a tal entrevista. Já está ficando chato isso. Em represália à atitude da moça, abaixei a câmera do meu celular. Não quer me dar entrevista, então não serei mais uma entre as 4534 câmeras voltadas à beldade. Ninguém está percebendo, mas eu estou protestando.

PS; Bella, sem vc na cobertura não sei quem é quem, passo reto por todo mundo, não reconheço nenhum rosto e só pago mico. Desastre total. Me manda aí de Milão alguém que decore os rostos das pessoas e me avisem quando elas estão chegando perto, tipo a menina do Diabo veste Prada... Troco o favor pela garantia de boas risadas.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Silêncio

Vi um pequinês encoleirado na frente da farmácia. Juro que vi. Talvez um dos últimos sobreviventes de uma espécie em extinção. Deve ser primo do cão do comercial de pneu. Felicidade humana, o fim da moda dos pequineses (é assim o plural?). Fim aos cachorros de latido fino.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

"As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais lindas,
essas ficarão."

("Memória", Carlos Drummond de Andrade)