sábado, 14 de fevereiro de 2009

Suspira

Tudo em branco. Até que a nova caneta de pena - réplica idêntica a usada por Shakespeare - riscou a folha. A tinta manchou o dedo do meio e, como no naquele filme que ela esquecera o nome, já não havia mais como esconder que era escritora, ou fora. Um dia qualquer, quando as palavras surgiam com mais facilidade e a angústia morava no peito, fora escritora. Desta vez ela somente assinara seu nome. Afirmação. A pena era fora de época. Utensílio de outro século.

A mancha preta de tinta no papel, a mariposa no azulejo, o borrão na mente branca. O fim da clareza. A gente enterra o amor pensando que ele nunca mais vai aparecer. Até que chega o dia onde todas as palavras ganham sentido. E o borrão se espalha. E branco nunca mais é branco. Horizonte e ar ganham formas humanas. O outro é tudo que é preciso para respirar.

3 comentários:

Pedro Lago disse...

Um alívio voltar a ler.

carolmacdowell disse...

Faço minhas as palavras acima...
Adoro!!!

Anônimo disse...

Wow, curti!