quarta-feira, 8 de abril de 2009

Lá pelos vinte anos

Travessa, da Ouvidor. Meus olhos se perdem pelas bancadas repletas de livros. Tabucchi, Tezza, Safran Foer. Todos eles representantes dos meus vinte anos. Quando eu tinha vinte anos vinha ao Centro de havaianas, devorava livros, descobria a Lapa, dava os primeiros tragos, aprendia a andar de metrô e me arriscava por Santa Teresa. E agora, bem agora que eu volto ao Centro, os livros estão de novo em cima da bancada. Até Chico Buarque lançou um novo título – Budapeste é de quando eu tinha vinte anos. E a rua vai ganhando esse ar de lembrança. E o Metrô traz memórias. Ainda olho atenta as portas que se abrem na estação do Flamengo. O saxofonista da Carioca ainda toca os mesmos acordes, mesmo que o Largo esteja muito estranho sem os livreiros, pintores de retratos e vendedores de bugigangas. Ando pelo Centro como se tivesse vinte anos. Talvez o tempo seja mesmo um círculo fechado sobre si mesmo, repetindo-se de forma precisa, infinitamente. Talvez o tempo seja como um cursor de água, ocasionalmente desviado por algum detrito, por uma brisa que passa, e de vez em quando, algum distúrbio cósmico faça com que um riacho de tempo se afaste do leito principal para encontrá-lo rio acima; e quando isso acontece, faz com que pássaros, terra, pessoas sejam apanhadas no braço que se desviou e repentinamente transportadas para o passado. Isto é idéia do físico Alan Lightman, autor das Sonhos de Einstein, e talvez seja o meu caso.