quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A pedra no meio do caminho

Recebi o convite do seu aniversário por email, mas não vou poder comparecer. Problema de oceano no meio do caminho. Mandei o presente pela amiga que passou uns dias para visitar, mas não sei se você vai gostar. O tempo está passando e fatalmente afastando, mas a verdade é que ando com uma saudaaaaaade de você. Aquela saudade que se fala mansinho com o a alongado, a cara para o lado e os ombros levantados. Enquanto eu volto para casa numa noite qualquer, e uma lua gigante e amarela me supervisiona ao longo do caminho, só consigo me perguntar, será que você está com saudades também?

Elocubrações de uma dona de casa

Eu nunca imaginei que ia ficar de cabelo em pé tentando resolver qualquer atividade doméstica. Sim, porque desde que eu vim morar sozinha descobri que afazeres do lar estão longe de se resolverem com simplicidade. Ultimamente ando encucada com algumas questões, como por exemplo: AS POEIRAS. Estou eu, sentada no sofá, no dia seguinte de uma mega limpeza, especialmente verificada por mim. Leio um livro, relaxada, quando sem querer viro a cabeça. E…lá estão elas, as entrusas mais frequentes da minha casa, “poeiras”, palavra que não se usa no singular. Elas aparecem sempre em conjunto se aglomerando em todas as quinas. Ai meu Deus, e os mantimentos… Não basta que eu compre e pronto, ah se fosse fácil assim… Tenho que tomar cuidado para que nada se estrague, já que eu moro sozinha, e também tenho que fazer com que tudo caiba na picoliníssima geladeria sem que seja necessário que eu visite o supermercado todo santo dia. E o lixo que cresce em progressões geométricas, e as louças que não saem mais da pia, e… e… e. Essa matemática diária, essa filosofia do lar tem me deixado monotemática. E eu achando que trabalho de casa era trabalho braçal, antes fosse.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Ó meu mengão

Ver o jogo não basta. Eles têm que aquecer no Jobi, ir pro Maraca, cantar músicas de louvor, suar, berrar, comemorar no Baixo Gávea e é tanta gente que em cinco minutos o lugar inteiro torna-se vermelho e preto e canta num coro só “O meu mengão, eu gosto de você”. Muitos chopes, e a chuva cai, mas não importa, o Flamengo ganhou e para eles aquele é o dia mais importante.

Ela sai de tarde, desavisada. Não leu o jornal, não sabe que é final. Estranha a falta de trânsito, a cidade está meio vazia. Só tem mulher na praia. Passa em frente ao bar, homens aglomeram-se em frente a tv. Começar a entender, é domingo e tem jogo. Por isso consegue sem dificuldade uma mesa no Braseiro. Só tem mulher. O garçom vai até a mesa e anuncia o placar: 1 a 0 Botafogo. Ela não quer saber, mas sorri mesmo assim. Se sente meio ET. GOOOOLLLLL. 1 a 1, gritos no bar ali do lado. E nos 45, (deve ser 45, já passou um tempão), fogos estouram, ela derrama o chope com o susto, todo mundo ri muito e são 2 a 1. Em 15 minutos o mundo torna-se vermelho e preto. E todos eles são iguais. Ela se confunde, não sabe para onde olhar.

É domingo, chove e as ruas são rubro-negras. As meninas fingem gostar de futebol, porque para eles ver o jogo não basta. Ela não sabe fingir e já entende isso como defeito. A multidão a atordoa. O almoço agradável se tornou um inferno. Tem tambor, tem homem sem camisa, tem thutchuca até onde olhos conseguem ver. Mas o mais agoniante é que existem muitas réplicas dele. E ela não quer mais ver. Aprende a lição: saber o dia do jogo do Flamengo é fundamental para sobreviver no Rio.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O pior aconteceu...

O texto escrito a combustível etílico será capa desta semana. Começa assim:

O cantor sertanejo-virtual Ewerton sintetizou os novos tempo internéticos com o refrão: “Eu vou te deletar, te excluir do meu Orkut, vou te bloquear no MSN...”. Para a frase condizer exatamente a atitude das mulheres de hoje em dia, só faltou mesmo o verso “vou criar um blog para contar ao mundo o que você fez comigo”. Sem medo de ser piegas, centenas de mulheres e meninas magoadas expõem na Internet a tristeza de um coração partido. Humor sarcástico faz parte do repertório que, além de vingança, visa boas risadas.

(Leia mais na Domingo)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Macacada reunida, se perder e encontrar novos amigos, beijo molhado, outro bloco quando este acabar, e só dá ela ÊÊÊÊÊEÊÊ na passarela. Parece que o carnaval não acaba nunca mais. Entrei num ritmo alucinante e agora não sei se consigo viver sem álcool. Aliás, a constante alegria da última semana me parece estranha, quando não há nada de fato a se comemorar. Certamente efeito do álcool, que conseqüentemente deixa a natação e a yoga de lado (mas só até amanhã). Ontem tomei Blood Mary. A inspiração apareceu e escrevi 8 mil caracteres em 2 horas. Estou considerando seriamente o fato de tomar um drink diferente a cada dia e deixar as palavras fluírem sem cerimônias. Seria o triste fim da minha vida de atleta, mas o começo de uma fase feliz, repleta de palavras, palavras para qualquer ocasião. Imagina saber sempre o que dizer?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ficou o mistério

A temperatura caiu, o cinza veio com tudo cobrindo o céu da cidade e o carnaval se resumiu a confetes e serpentinas espalhados pelo chão. Um bocadinho aqui, outro ali, o suficiente para não deixar passar despercebida a chegada da folia. No meio deste xinfrim carnavalesco ficou o grande mistério. Quem que jogou esses confetes por aí, quem? Eu juro que eu queria saber. Nunca fui muito fã de carnaval, mas deu vontade de me juntar a eles…

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Ao noivo*

Trago meu corpo molhado da chuva
a esperança do reencontro
nesse tempo tão palpável / ainda que tão ilusório
vamos não estreá-lo com sorrisos exagerados
e sim com dolorosa alegria

o bloco acabou-se
enquanto a memória se desvela e se ordena
a fronteira está aí/ prógida em eventos marcados
horários a cumprir
e tardes sóbrias
afinal acreditamos em tão poucos milagres
que sequer vale a pena enumerá-los

sou estrangeira nesse carnaval colorido
pródiga em obsessões e medos e disfarces
hábitos e confianças e utopias
que fizemos com amor / desfizemos quando a música acabou
quando este carnaval terminar e nascer o outro
talvez nos falte o reconhecimento
a que (por tão poucos minutos) nos acostumamos a ter
eu já sem minha cartola de brilhos
você sem o véu

seremos exilados um do outro
sem telefone
nem sobrenome
dispersos nos meandros do acaso
com as velhas saudades aprendidas
os melhores rancores malogrados
porém com a tristeza refrescante
que já ninguém apaga e nos comove
que é coisa nossa porque fomos de outros
de todos e de um
eu de você
você de mim

cada carnaval é um mito ou um amor
no entanto só ao findar nos deixa atônitos
diante da beleza e dos encantos do acontecido
sem saber o que houve / o que está havendo
o que ficou atrás em cada nunca
qual é o mundo real / o que se apaga
ou que nos deixa o coração sem deuses

quando surgir novamente o sol que traz presságios
não vai valer a antiga contra-senha
não serei mais mágica
nem você mais noivo
seremos os suspeitos
por termos uma vez nos encontrado
agora mal nos resta a breve lembrança do beijo
e outra de corpos molhados unidos pela fantasia de mais um carnaval

dali saímos com tímidos destinos
para o futuro e suas provocações
à procura de coisas não acháveis
seja abismo de amor ou pico de ódio

ao fim do dia ainda ressoam alguns tambores
tamborins de talvez / prognósticos de mais chuva
correspondendo-se à poça já formada
com um censo de medos e coragens

ao fim do carnaval as palavras
fragmentam-se em sílabas e prantos
tão poucas as palavras trocadas
por si só os sorrisos já valeram (e o beijo)
há alguns que se reconhecem pelas navalhas do silêncio

eu trago meu corpo molhado de chuva
e o coração despido e a sorte com asas
a esperança do reencontro
vamos não estreá-lo com sorrisos exagerados
e sim com a dor da alegria


* inspirado no poema "O acabou-se", de Mario Benedetti.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Todo carnaval tem seu começo

Aguardo atentamente a explicação sobre o significado das fezes de pombo no meu ombro hoje de manhã. Deve ser um bom presságio, pelo menos por enquanto. O dia está arrastado, tenho dado ataques de bobeira, pintei as unhas de rosa neon e ando enrolando no msn. Meio palhaça , com umas piadinhas bobas que ninguém acha graça. Ainda bem que já aprendi a me divertir comigo mesma, é uma palhaçada só. Papinho pra lá, papinho pra cá, e nada se esclarece. Mais tarde tem empada na azeitona. A largada já foi dada.

"Deixa eu brincar de ser feliz/ deixa eu pintar o meu nariz"