terça-feira, 14 de julho de 2009

"É preciso aceitar ser finito: estar aqui e em nenhum outro lugar, fazer isto e não outra coisa, agora e não sempre ou nunca(...); ter apenas esta vida"

"Quando tudo tiver sido dito, tudo ainda ficará por dizer, sempre restará tudo a dizer"


André Gorz

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Feca,

Tenho a impressão que saí correndo pelo tempo. Imagina só, uma menina de cabelos castanhos, All Star desamarrado, correndo pelas memórias. No fundo, Brand New Start, do Little Joy. Na cara, um sorriso travado e a sensação de paz profunda. Está tudo assim, agora, travado num sorriso contínuo, guardado no abraço apertado, na corrida pelo tempo. Num momento estou no metrô em direção ao Centro, no outro, danço vestida de branco no jardim da minha casa, em um futuro próximo, e em seguida estou em uma daquelas festinhas que freqüentávamos ao quinze anos, de body e botas, ou cinto de tachas e jaquetinhas de couro, o que você preferir. Quem achava que eu era avoada e sonhadora, nem imagina os riscos que corro agora. Com todas essas viagens pelo tempo, corro perigo de me perder e nunca mais me encontrar. O que não é de todo mal, se eu me substituir por uma nova pessoa, mais objetiva, responsável, concentrada. Não, retiro o que eu disse, essa pessoa seria uma chata de galocha. Ainda bem que as pernas são roliças e não ficam nada bem nessas botas até o joelho. No inverno, cariocas usam botas até o joelho, acredite. Uma das coisas mais difíceis de estar junto é aprender a estar separado. Acho que é por isso que ando freqüentando muito o passado. Saudade também é um fator. Sei lá, eu queria mesmo que tivessem me dito antes que essa coisa de ficar noiva não é assim tão fácil. São muitos planos, e tenho passado uma boa parte do tempo no futuro. Imagino a festa, a casa, a rotina. Quando vejo estou entrando no banheiro masculino do shopping. Juro que aconteceu. Só percebi que o lugar era só para homem, quando um menininho me olhou com uma cara estranha ao sair da cabine, e o faxineiro tocou no meu ombro. Fiquei roxa de vergonha.

Apesar das andanças, a alma está bem mais sossegada. Falta até inspiração para escrever. Pode ser também falta de hábito. Já te contei que saí do JB? Trabalho agora numa nova produtora musical, voltada para o mercado independente. Um pouco estranho, se tratando de mim, né? A gente vai ficando mais velha e o fator salário começa mesmo a pesar, agora escrevo muito menos do que gostaria...

Fiquei feliz em ter notícias suas. Queria mesmo é que essa conversa fosse ao redor de uma mesa de madeira servida com uma daquelas macarronadas que só você prepara. Aliás, nem te conto a minha mais nova aptidão: estou aprendendo a cozinhar. Num desses finais de semana, eu e o Tom quase morremos depois de nos alimentarmos unicamente de pizza e cachorro quente. Se esse casamento for durar para sempre, é melhor alguém aprender a fazer alguma coisa na cozinha. Semana passada foi carne assada com batatas, essa semana foi peixe com cuscuz marroquino. Todas as terças, reúno a família na sala de jantar e faço deles minhas cobaias. É quase maligno...

Dê notícias, Feca, ando pelo tempo com saudades.