terça-feira, 5 de outubro de 2010

O dia em que me preparei para te fazer feliz


Eu me preparo.
Ponho e tiro coisas do armário.
Dobro e redobro os lençóis em simetria perfeita. (O nosso amor merece a perfeição).
Tiro a poeira das xícaras guardadas. Sopro com força o tempo no prato. (O nosso amor merece força, e esperteza).

Eu me preparo.
Assino o meu nome e o seu, mil e uma vezes.
Faço listas intermináveis. Os convidados da nossa festa, os copos da nossa casa, as cores do nosso sofá, os restaurantes da nossa viagem, os lugares que vamos visitar.  (O nosso amor merece sonhos).

E eu espero.

E às vezes eu reluto.

E às vezes eu me jogo.

Mas eu me preparo. E mais uma vez tiro tudo do armário. E escrevo listas infinitas.
Numa rotina constante, cíclica, em que o meu mundo gira em torno do seu.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Mudanças radicais paralisam

Já mudei algumas vezes de casa, tantas de trabalho (é quase a mesma coisa que casa), mudei até de vida outras vezes, ainda assim, paraliso. Ninguém adoece sozinho, você sabe. Um vai virando o outro, o outro vai virando um, e quando percebe-se não se sabe mais quem é quem. E eu sei que você quer me esganar. Eu sei que existe uma outra vida lá dentro, que as vezes tudo se perde, se confunde. É como eu disse, paralisa.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Quando o mundo se mexe, escrevo

Casamento não é garantia de felicidade. Amor também não. Não dá para ter certeza de nada. Freud é foda, quando a gente menos espera ele está lá, com olhos observadores e ouvidos atentos, a espera do menor deslize. Não dá para relaxar. Pode ser Édipo. Aposto que também existe um nome para aquele outro complexo quando a gente copia a história dos próprios pais. Não adianta tentar fugir, gente analizada é foda. Pode ficar cinco anos sem deitar no divã, mas a cabeça programa, não deixa passar nada desapercebido. É fácil saber: quando o mundo se mexe, lá vem.

Notícias

F.,

Não é preciso estar longe da família para saber que no final das contas são os amigos que fazem a nossa vida mais gostosa, mas talvez a distância - e digo talvez porque, diferente de você, eu não sei muito bem o sentido da palavra distância – seja mesmo fundamental para perceber isso.

A gente não tem se visto muito - e quando digo a gente, me refiro ao nosso quarteto que em outros tempos dividia colarezinhos com chapinhas de coca-cola e fazia tudo junto. Mesmo sem muitas notícias da L., por exemplo, posso dizer que, assim como você, eu, ela e a P. estamos lutando para, nas suas palavras, “decidir a vida”. Cada uma do seu jeito, como sempre foi, como se tivéssemos o poder de realmente assegurar o futuro, como se cada pequeno gesto fosse indispensável para uma vida feliz.

A P. já é uma dona de casa exemplar, mulher de negócios sagaz, mestre de obras que até parece que tem diploma e ainda desfila o salto alto pelas ruas da cidade, mas perua que só ela, foge para Angra em qualquer fim de semana. E sim, ela ainda faz parecer que tira a tarefa de letra. Sobre a L. eu não sei mesmo, ela não liga e tampouco nos esbarramos por aí. Deve estar atarefada com a pós, procurando uma nova alternativa de emprego e descobrindo como é gostoso viver a dois. E eu, bem, eu é sempre mais complicado, mais sentido, mais doído, mais uma fantasia que vida real. Bem, assim como você, quero encontrar um lugar para ficar por um tempo, ou quem sabe para sempre, um cantinho gostoso, cheio de almofadas coloridas, cheiro de pão francês e café ao amanhecer e uma manta quentinha nos pés antes de dormir abraçado. É mais complicado do que parece, tentar ter uma casa e dar os primeiros passos no sentido de construir uma família. O Tom se assusta, com razão, quando eu falo em filhos. Nem ele, nem eu, ainda nos acostumamos a pensar em nós mesmos como adultos. Você já reparou como os nossos pais sempre parecem ter mais idade em fotos antigas? Com a minha idade a minha mãe já tinha dois filhos, um segundo casamento e uma casa grande cheia de empregados. Ou eles eram muito maduros, ou nós somos mesmo muito retardados.

Enfim, a minha maior novidade é uma saia cinza de cintura alta bem justinha. Ontem saí com ela por aí, e se esbarrasse comigo aposto que você nem acreditaria que sou eu, confesso que eu também demorei a me acostumar. Eu e o corpo. Vê só, as coisas não mudaram muito por aqui. Sempre vai ter o dilema do corpo.
A P. sempre vai arrumar o topete. A L. terá a mesma gargalhada. E espero que você esteja sempre com o seu sorriso. Não deixe o inverno, nem os italianos te deixarem no sério.

Beijos,

Anna