sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

2007, o ano que eu não vi passar

Este foi o ano em que ganhei o troféu Panda, alguns quilos inexperados, puxadas de orelha e olheiras indesejadas. O ano que eu pulei carnaval até amanhecer doente na quarta-feira de cinzas. O ano em que eu te esqueci, que conheci novas pessoas, desejei que fossem iguais a você e me desapontei. O ano em que quis encontrar alguém diferente, mas não dei chance para que acontecesse. O ano em que que perdi o medo de dirigir sozinha na estrada, que aceitei meu pai do jeito que é, que aprendi a ser amiga da minha mãe. O ano em que quase desisti do jornalismo. Que me formei e comprovei as supeitas: de que nada aprenderia na faculdade. O ano em que voltei a querer ser jornalista. O ano em que não tirei férias. O ano que mais comi chocolate. O ano que voltei para a análise. O ano em que não me apaixonei. O ano em que eu resolvi mudar, mas isso ficou pro ano que vem.

Que 2008 seja completamente diferente de 2007.

Que em 2008 eu volte a fazer ioga, correr na lagoa e seja mais suadável. Que em 2008 eu pule carnval até amanhecer doente na quarta-feira de cinzas. Que em 2008 eu encontre alguém muito melhor que você. Que eu aprenda a ser menos exigente comigo mesma, que aprenda a dobrar as minhas roupas, que saiba dizer mais sim. Que eu esteja mais aberta a novas pessoas, que eu não tenha medo de me apaixonar. Por favor, que eu saiba dizer mais sim! Que tenha mais tempo para os amigos. Que eu finalmente tenha coragem de pular de asa-delta, de jogar voley na praia, que eu compre uma bicicleta e de fato use. Que eu veja mais por-do-sol, que eu trabalhe menos e receba mais. Que eu leia mais livros, atualize mais o blog e tenha mais tempo para os amigos. Que eu tenha paciência para sair a noite, que organize o armário de sapatos e tenha disciplina para passar cremes no rosto. Que eu possa voltar a dizer eu te amo e ouvir de volta "eu também". Que eu viaje, conheça novos lugares e quem sabe decida ficar por lá mesmo por um tempo. Que eu contribua para novas revistas. Que eu não fique tão ocupada a ponto de esquecer de mim mesma. Que em 2008 eu aproveite tanto que o tempo demore a passar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Histórias do Municipal

Espanta fantasmas

Atenção é palavra de ordem para o grupo de mais de 30 homens responsável pelas trocas de cenário do Teatro Municipal. Uma pequena falha é o suficiente para desordenar todo o espetáculo. Primeiro a chegar e último a sair, o grupo conhece o as entranhas do teatro na palma na mão. Cada passo em falso, cada ruído suspeito é detectado instantaneamente. Luis Gonzaga, 57 anos, 30 de labuta no Municipal é que o diga, está tão acostumado a conviver com os fantasmas locais que já até desenvolveu uma técnica para afastá-los: acender as luzes. O truque é o mesmo que usa para encantar a platéia de O Quebra-Nozes, já que o responsável pela iluminada árvore de natal do cenário.

Certa vez, por volta da meia-noite, estava jogando carteado com um colega de trabalho, quando ouviu o som de um violino. “Eu sabia que não tinha ninguém no fosso da orquestra, mas mesmo assim corri para ver quem tocava tão tarde da noite. Quando acendi as luzes, a música parou. Não havia ninguém lá”, conta o maquinista. As brincadeiras do além já quase causaram sérios acidentes. Era fim do expediente quando a vara da cenografia disparou, fazendo com que todo o cenário se soltasse e caísse no chão. O grupo ficou apavorado. Gonzaga saiu correndo e ligou as luzes. “Mais uma vez tudo se acalmou. Já descobri como espantar os fantasmas”, revela orgulhoso.

A mais recente aparição

Até o término da apuração desta reportagem, o último fenômeno sobrenatural registrado pelos maquinistas do Teatro Municipal ocorreu durante a cerimônia de entrega do Prêmio Craque do Brasileirão 2007, na noite do dia 03 de dezembro. Gonzaga estava sentado na varanda, quando foi chamado por um colega. “A porta da escada de operações estava batendo, como se alguém tivesse trancado lá dentro e não conseguisse sair. Havia muito barulho de gente gritando. Foi horrível”, diz. Apesar de já ter presenciado tantos fenômenos, Gonzaga garante bravura. “Não tenho medo, aqui é assim mesmo”.

O grito

Eram 19h30, de algum dia do final da década de 90, quando Sérgio Domingos, funcionário do Municipal há 27 anos, hoje responsável pelos figurinos dos espetáculos, saiu de sua sala no foyer da galeria do lado da Av. Treze de Maio para fumar um cigarro. O teatro estava vazio. A porta que dá acesso a sala de espetáculo estava aberta. “Não sei porque fui olhar o palco. Quando vi, exatamente no mesmo sentido que eu, porém do lado oposto, quatro fileiras de cadeiras estavam ocupadas por homens. Eles vestiam terno e chapéu e olhavam atentamente para o palco”, conta. Intrigado pela presença dos homens, Sérgio foi investigar. Andou pelos corredores até o outro lado da platéia. Não encontrou ninguém. “Fiquei paralisado e trêmulo. A minha única reação foi gritar: ‘Aldaaaaaa me ajudaaaa!’”, recorda. Alda era a colega de trabalho, que ao chegar no local nada encontrou.

O susto

Era noite de grande espetáculo. Ana Botafogo se preparava para entrar no terceiro ato de O lago dos cisnes. Sérgio fazia companhia no camarim. Antes de sair, a pedido da bailarina, levou para o palco uma garrafa d’água pela metade e um copo meio cheio, que repousavam lado a lado em cima da mesa do camarim. Era praxe que Ana pedisse um gole entre um passo e outro. Durante o terceiro ato, antes de entrar no palco para fazer a variação do grand pas-de-deux, Ana bochechou o líquido do copo. Imediatamente cuspiu tudo. “Não era água, era álcool com éter para tirar a cola que prende o penteado das bailarinas!”, lembra Sérgio. “Mesmo assim ela executou os passos lindamente, parecia mesmo movida a álcool”, brinca.

A lenda viva

A vida de José Bertelli Sobrinho renderia um livro. De seus 87 anos, 57 foram dedicados a trabalhos voluntários no Municipal. Formado em medicina, fundou o centro médico do Teatro, mas essa não sua única função. Seu Bertelli é dos responsáveis pelo sistema de iluminação local. “Fui eu que fiz as plantas de iluminação da maioria dos espetáculos encenados aqui. Na ópera “O escravo”, a idéia de colocar a orquestra crescendo a medida que o dia fosse amanhecendo também foi minha”, gaba-se. Diz ter ganhado uma medalha das mãos de Getúlio Vargas, recebido elogios de Castelo Branco pela iluminação de “Vida e morte Severina”, nomeado pessoalmente por Carlos Lacerda para o cargo de chefe de iluminação e ser primo do Papa Paulo VI.
O Teatro Municipal já foi palco de muitas histórias na vida de Seu Bertelli. Historias felizes, mas a principal delas, digna de filme hollywoodiano. Foi no teatro que conheceu e perdeu sua esposa. Solista, bailarina e professora da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, antigamente localizada atrás do Municipal, Virginia Lucia de Carvalho Bertelli morreu em 1997, aos 54 anos, atropelada em frente ao Municipal. Deixou a Seu Bertelli um filho único, que hoje mora em São Paulo. “Sou um homem muito sozinho, a minha vida é o teatro”, diz.

Tutu feito com amor

Jarina Neves de Azevedo, 68 anos, aprendeu a costurar sozinha. Aos 7 anos, fez com as próprias mãos seu primeiro uniforme escolar. “É a minha vocação”. Hoje é chefe de costura do Theatro Municipal, responsável pela execução de figurinos de todos os espetáculos encenados no local. Para o Quebra Nozes, fez apenas reparos nas roupas já existentes. Enquanto conversávamos, cuidava da Madame Bombom. Natural de Santa Maria Madalena, quando Jarina chegou no Rio de Janeiro, há mais de 30 anos, recusou-se a trabalhar em casa de família. “Quando vi o teatro fiquei louca! Não desisti enquanto não aprendi a fazer tutu”, diz. O primeiro tutu foi para a netinha usar num baile de carnaval da Penha. A primeira peça profissional foi para nada mais nada menos que a ópera Turandot. “Desde então, sempre choro de alegria quando o espetáculo fica pronto”, revela a costureira, que de tanta emoção já foi até parar no hospital.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

De olho na rua

Ler blogs alheios agora faz parte do trabalho. Ganhei de bandeja um aperitivo de kani e mordi achando que fosse caviar. Cilada. Fui contaminada. A partir dessa semana publicarei uma coluna na revista com as melhores sacadas dos blogueiros nacionais. Maneiro? Entediante. 98% dos blogues são paulistas. 95% não têm praticamente texto. 93% são um diário. 90% sobre sacanagem. Esses números eu inventei, mas a verdade mesmo é que não sei o que publicar do blogue dos outros. Todos os blogues cariocas mencionam a árvore de natalda lagoa e todos os paulistas a queda do corinthians (que aliás eu só soube porque agora eu leio blogs de são paulo (!) ). Tão entediante quanto aqui. Tiro na testa.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Quando eu crescer...

Ser arqueóloga era a primeira opção para quando crescesse. Para as brincadeiras no jardim também. Depois veio fase da arquitetura. Passava horas e horas desenhando plantas do apartamento ideal, onde moraria quando fosse grande. No dia em que descobriu que seria bom ganhar algum dinheiro e ser independente, decidiu ser advogada. Quatro anos depois, faculdade no fim, prateleiras completas de jurisdição, resolveu que queria mesmo era escrever para sempre. As decisões começaram a ficar cada vez mais complexas e, prevendo o fracasso de ser escritora, optou por ser editora. Na dúvida pelo curso ideal, foi ser jornalista. Descobriu as pessoas, se apaixonou pela cidade, contaminou-se pela adrenalina. Esqueceu que um dia desejou andar pelo mundo desvendando histórias antepassadas. Parou de se preocupar com o sonho da casa ideal. Apagou da memória os dias em que se sentiu adulta andando pelo Centro de tailleur. Aguardou com saudades as histórias que leu, as orelhas que escreveu e os livros que ajudou a publicar. A gaveta ficou cheia de reportagens assinadas por ela, alguns personagens foram eternizados pelas palavras dela, e só para ela. Percebeu que havia finalmente crescido, mas que ainda não podia ficar em pé com as próprias pernas. As reportagens não trouxeram conhecimentos como a arqueologia trazeria. A busca pela palavra ideal não era pilar estruturado o suficiente para que tivesse sua própria casa. As armas da imprensa não vinham acompanhadas do sálario fornecido pela justiça. A linguagem seca e jornalistica a fez perder a fantasia necessária para o grande romance, entedeu que precisava ainda de muito mais para ser editora. Quando finalmente cresceu, o jornalismo a abandonou. Agora, antecipa o sentimento de não saber o que fazer com tanto tempo livre.

Delícias do dia: Sentir a serotonina atuando no organismo ao som de Franz Fernidand e querer corre cada vez mais rápido; amendoim com coca-cola; barulho da chuva; calça de moleton; e o melhor de tudo: dois novos travesseiros de pena de ganso. Só faltou aquele abraço.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Trabalha, trabalha, de graça

Quando só se consegue escrever posts no trabalho (e sobre trabalho), quando todos os convites tem que ser recusados e, a primeira coisa que você faz ao atender o telefone - mesmo que seja o de casa - é dizer o nome da empresa, é sinal de que se está trabalhando demais. Quando se começa a trocar o nome dos familiares pelos dos colegas de trabalho, e seus sonhos são povoados por gente do escritório, é sinal de que a coisa está feia, muito feia. Quando vc sente o quadril alargando em função da quantidade de horas sentada em frente ao computador, quando todas as refeições são feitas na cantina e o banheiro do escritório é o único em que vc consegue ir, definitivamente é hora de tirar férias. E a prova maior disso é chegar em casa e ver televisão no mute por duas horas para descansar a mente. O que aconteceu com a ioga, meu deus?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Assim que conseguir parar, eu volto

Ando com saudade de escrever aqui. Ando sem inspiração também. Ando meio em ziguezague e tropeçando em algumas pedras. Ando descalça, a pé e sem fôlego. Algumas vezes ando arrastando chinelo, outras me equilibrando no salto alto. Me perdi muitas vezes nos caminhos e sinceramente não sei aonde vou parar. Tento pular alguns buracos. Meus joelhos estão ralados e a ladeira é ingrime demais. As distâncias estão mais longas e a estrada de tijolos amarelos deveria ser depois daquela rua a esquerda, mas toda vez que acho que já está chegando, ainda falta mais um pouco. Ando meio sonâmbula. As letras se misturam formando palavras que não conheço. Talvez tenha esquecido, não sei. O laço do tênis desamarrou e as cascas de banana estão a cada novo passo. Ando por aí sem saber muito bem de mim e acho que assim não consigo parar para escrever.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Girl talk

Animadas pro nosso findi? Muito. Aposto todas as minhas fichas, to até com medo. Muita expectativa. Já tenho a idéia do meu modelito, psycho total. Vou fazer compras. Quero consultaria da jow. Gente, eu vou estar tensa pq vou estar amando ver essas bandas e com um bando de homem de nao deveria estar junto no mesmo lugar! Jow, o que está in? hmmm...tenho varias dicas!! In: saia e calça de cintura alta, blusa com estampa preta e branca... Quero dicas que valorizem o culote e o busanfa. Pois é...cintura alta esta in...ok...mas para quem tem menos 10 de quadril. Precisamos de uma reunião. Cada uma leva uma mala lá pra casa. Faremos um desfile. Ai adolescencia reprimidaaaaa. Mala /desfile/homens/tensão/homens/bandas/beck (pq temos q ter)... Muita coisa p um final de semana só. Eu não tenho homens, então tenho q multiply o beck. (de volta na adolecencia -= desfile, arruma com o irmão , mala). Se fumar, vou beijá-lo. Quem bota um hífen e depois de beijo, não merece beijar na boca. NERD!! Vou agarrá-lo. Meninas, vou partir daqui!! liguem-me quando puderem-lo!!! beijo-las . mesóclise forte!!! babem garotas!! o máximo q sei é hiperboles.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Se f..e aí ou momentos bullying da assistente

Prefácio: esses fatos são reais e a assistente sou eu

1.
assist. de redação: O meu texto está estourando 50 linhas, posso ganhar mais uma página?
chefe: Não, se fode aí.

2.
assist. de redação: A legenda da foto 1 é a segunda, e a da foto 2 é a primeira
chefe: tem certeza?
assist. de redação: tenho
chefe: isso não foi o que você me disse ontem
assist: vou conferir
(chefe para tudo e observa a assistente conferir. O caderno da assistente cai no chão. O estojo também. Canetas se esparramam)
assist: acho que eu estava errada. a legenda da foto 1 é a primeira e a da foto dois a terceira
chefe: vc acha?
assist: quer dizer, a da foto 1 é a primeira, a da foto 2 é a segunda
chefe: isso é o q vc me disse ontem.
(chefe sai para tomar um café aparentando irritação)

3.
chefe: repórter a sua matéria ganhou mais uma página, tirei uma página da assistente. A assistente tem agora uma página só
repórter: jura?
(assistente permanece muda) chefe: se engalfinhem aí
repórter: vamos brigar na lama
repórter dois, que escutava atentamente, diz: até criar uma poça de sangue
assistente permanece muda
chefe assume feição "se fode aí"

4.
chefe: você conferiu TODOS esses nomes?
(chefe abana a folha na cara da assistente)assistente: já conferi
chefe: repórter, confere se a assistente já conferiu
repórter pelo msn para a assistente: cara, você não conferiu né? Essa parada é com a , não com e
assistente pelo msn para o repórter: conferi. Juro. até na foto está escrito assim
repórter: No fotolog diz que se escreve com e , não com a
(chefe olha para assistente com olhar de fúria)
(assistente se esconde atrás do computador, enquanto vai escorregando na cadeira)
No dia seguinte, chefe diz: repórter, adorei a sugestão de pauta, pode fazer, mas faz tranquila, para não enrolar com a outra matéria.
assistente de redação se mete na conversa: essa matéria é tranquila, você faz em um dia
chefe: você está enganada, se quiser pegar todos os nomes certos não da pra fazer a pauta em 1 dia só


5.
revisor: a minha sobrinha, que também era assim, mais avantajada, só se vestia de roupa escura
(assistente de redação pega o papel revisado e saí. No dia seguinte aparece no trabalho vestida de branco)

6.
chefe: assistente, quero que você faça a matéria da moda do esmalte colorido
chefe ri maleficamente
assistente: oquei
assistente pensa: "é de propósito"

7.
chefe: assistente, estou lendo aqui a sua matéria, o que o personagem gosta de comer na Colombo?
assistente pensa em responder cu, mas diz: não sei, vou ligar e perguntar
chefe diz: para ser jornalista, você tem que ser mais curiosa
assistente pensa: se fode aí

domingo, 21 de outubro de 2007

Olhou para aquele tempo e compreendeu alguma coisa que não compreendia antes. Eles estiveram juntos apenas para que ela estivesse com aquelas pessoas agora. Cada coração tem seu tempo de cura. O dela demorou mais do que o normal, força das circunstâncias. Agora, era só olhar para trás e perceber o quanto tudo pareceu um sonho. O medo de ser a única a realizar que aquilo aconteceu a preocupava. Não queria mais uma vez ter vivido uma fantasia apaixonada. Estava sentada numa mesa de bar quando um deles lembrou o quanto incrível foi aquela época. Alívio total. Mais uma caipisakê de lischia, por favor. Vamos pra festa? E dançaram. E reencontram antigos conhecidos. E ela se sentiu feliz. Sentiu-se menos jiló que no dia anterior.
Esses amigos são souveniers da viagem do sonho.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Chata, muito chata

Os bichinhos de luz atacam com velocidade total. É o verão chegando e eu afirmando que não estou pronta para ele. Um bichinho de luz bateu na minha testa, outro entrou no meu decote. Os raios do sol apareceram e esse é o único motivo que me alegra estar de plantão. Ainda não aprendi a dançar, nem coube nas roupas do meu armário. Quero uma máquina do tempo para fazer o verão não começar. Os números de criminalidade aumentam no calor, diz um especialista. Os bandidos bebem mais cerveja e os policiais ficam mau-humorados por estarem trabalhando. Os jornalistas também, ainda mais quando são atacados por bichinhos de luz. Quando só se consegue escrever sobre trabalho, é sinal de que se está trabalhando demais. Li em algum lugar que quando só se consegue ir ao banheiro no escritório também. Quando se está querendo adiar o verão, então... Estou ficando é muito chata, isso sim. Essa seria a hora perfeita da Bella entrar em campo e contar coisitas divertidas por aqui, mas parece que apesar de estar toda serelepe com óclinhos charmosos na festa de ontem, a Bella abandonou o blogue. É verdade, fui numa festa ontem, mas só fiquei um pouquinho, tinha plantão hoje. Chata.....

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Aos personagens

O fotolog do entrevistado diz: "reporter escuta o q vc fala mas só escreve o que pensa". O e-mail enviado pelo outro termina com: "não quis ser grosseiro ou mal educado com você (...) mas prefiria ter ficado fora dessa, sucesso". E assim começa mais uma semana na vida de uma repórter. O meu conselho para quem vai ser personagem de reportagem ou mesmo da vida real é o seguinte: Pensem antes de falar baboseira. Pensem bem, porque estou anotando tudo, às vezes literalmente gravando. Não existe essa história de inventar, repórter transcreve as informações que estão no bloquinho ou na fita. Se você não pensou antes de falar... so sorry beibe. Porque se elas mostram o personagem dizendo coisas absurdas, melhor ainda.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

"Queria lhe dizer algumas pérolas, mas me faltam ostras"

tirei a frase do fotolog do Orlando Pedroso, genial.

domingo, 7 de outubro de 2007

Os dentes

Os dentes ainda estão dentro do saquinho plástico transparente. Tenho medo de jogá-los no lixo. Vai que me clonam. Perderia toda a originalidade de ser eu. Não vai dar. Pro lixo é que eles não vão. Dentes são materiais genéticos de alta qualidade. E não estamos falando aqui de pequenos dentes de leite. Os meus cisos medem praticamente 1 cm, resquícios da idade da pedra. Não vou jogá-los no lixo e pronto. Imagina se alguém achar? Vai que a pessoa pensa que eles pertencem a um cadáver. Realmente, não sei o que fazer.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Step by step, uh baby

Tá foda. A vida: monografia, plantão, capa da semana que vem e extração de sisos (dois!), bodas dos avós maternos, aniversário do avô paterno, não deixam tempo para coisas interessantes. Eu queria ter escrever bem o suficiente para descrever a ida ao democráticos com a turma de dança. Os olhares, os risos, os constrangimentos, desculpa pisei no seu pé, essa música tá muito rápida, meus pés não acompanham, ela veio dizendo que eu não sei dançar e eu respondi: calma lá, quem não está fazendo os passos é você, meia lua, andadinha, um, dois três. Queria escrever sobre os meninos que não acreditaram que eu não sei dançar e se depois se deram mal, mas a culpa não é minha porque eu avisei. Queria contar a sensação de sobrevoar o salão nos braços do professor, contar aos meninos que se o cara comanda bem, não tem erro, a menina acompanha. Queria contar a aula em que aprendi a seguir, a fechar os olhos e confiar no parceiro (já escrevi sobre isso?).
E também dizer que ele tirou os dentes e os colocou num recipiente de plástico. Que ainda nem começamos a nossa relação direito e ele já vai assim deixando lágrimas e extraindo traumas de infância. Até agora não entendo porque ele pedia tantas desculpas durante o ato. Pelo menos dessa vez alguém acha que a culpa não é minha. Imaginei uma vida ao lado dele. O telefone tocou às 18hs para saber como eu estava. Ligações no fim do dia são as melhores. Pena que estou com a bochecha direita gigante, senão bem que lhe tascava um baccio. Até parece.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Eu quero paz, já me cansei de ser a última a saber de ti

"Só os ricos com consciência social que não entendem que guerra é guerra", a frase é do Tropa de Elite, cuja discussão deixo para um próximo post. Mas foi justamente essa frase que me fez dizer não ao editor-chefe do Cidade. Ir ao Complexo do Alemão na noite de domingo não é uma proposta recusável, principalmente quando se passa o dia inteiro esperando pelo momento. Declinei o convite. Ele assentiu com o olhar de quem agora não me vê tão jornalista como antes. O Complexo do Alemão é, no momento, uma das favelas mais instáveis do Estado. A noite deste domingo prometia não ser silenciosa. Seria a primeira nos últimos cinco meses em que não se ouviriam tiros, e sim música. Tive escolha, optei pelo não. Melhor não abusar da sorte, já que no jornalismo não faltam oportunidades para conhecer o outro lado da cidade partida. A curiosidade que me move pode um dia ser o fator crucial para virar o jogo. Mesmo quando a promessa é gerar paz por meio da música, a sorte é entidade de respeito. Perdi um legítimo baile funk comandado pelo Furacão 2000. Perdi a oportunidade de ser uma das mais de 800 pessoas assistir a cantora Marisa Monte trocar pela primeira vez o público da Zona Sul carioca pelo de comunidades carentes. Ganhei mais uma noite de sono no meu Universo Particular. Me informaram por telefone que não havia policiamento no local. Que em torno dos 500 metros quadrados de palco, no campinho de futebol da comunidade do Canitá, em Inhaúma, Zona Norte do Rio, uma das portas de entrada para o Complexo, os traficantes agiam discretamente, como de costume. Preferi não estar por perto. Tive medo de enfrentar. Fugi. Atravessei os três túneis de vidro aberto, fingindo que o Rio de Janeiro não é uma cidade em guerra.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Disse à chefe coisas que não devia. São 9h30 de sexta-feira, quero adiar a ida à redação. A vida anda bem entediante, entre monografia, pescoção, plantão e o cancelamento de uma entrevista com um cara pop (não citarei o nome por razões óbvias)que me renderia o prêmio Esso, me deparo com 52 minutos no trânsito durante um percurso que demoraria 3min e meio (sem exageros). Tempo suficiente para pensar e repensar as palavras ditas à chefe e a todos aqueles com quem me comuniquei meia hora que antecedeu o momento. Estou de ressaca Moral. Devo desculpas a pelo menos três pessoas que não acreditam que fatores externos são desculpas razoáveis para turbulências internas, que causam sérios danos no ambiente ao redor. TPM + Monografia + Plantão + Pescoção + o dia em que subi na balança. Quando essa fase vai acabar?

domingo, 23 de setembro de 2007

Tire suas maos de mim

É sábado a noite, o quarto está escuro, o teto roda (ou seria a cama?). É difícil achar uma posição. A cama é de casal. O lado direito está desocupado. O corpo se esparrama numa tentativa de ocupar o espaço vazio. Ilusão. A mão esquerda não é suficiente para a direita - não dá para enganar, elas se reconhecem: "Me larga. Procuro algo que não seja eu" Ponto final Backspace até o início da frase

É sábado a noite, o quarto está escuro. Rodamos, rodamos, rodamos e não conseguimos parar em lugar nenhum. Já faz uma semana que o Seu Martin fechou e elas ainda se sentem um pouco desorientadas. Nenhum outro lugar é tão íntimo quanto o Seuma. Nenhum outro lugar tem tantas histórias quanto o Seuma. Nem a lembrança de tantos encontros, términos e beijos. Nem tantas risadas, fofocas e lágrimas. Enfim, o que fazer agora sem o Seuma? Será dificíl arrumar mesa em outro lugar Ponto final backspace até o início da frase

É sábado a noite, o quarto está escuro e eu tenho medo. Medo de nunca mais me apaixonar Ponto final backspace até o início da frase

É sábado a noite, o quarto está escuro e eu não quero nunca mais levantar da cama. Estou com medo. Por que tenho que ser sempre tão boa aluna? A tarefa era aprender a ficar sozinha. Estou me formando com louvor. Agora tenho medo de nunca mais desaprender. Medo de nunca mais me apaixonar. Ando exigente e chata. Acho lá fora entediante e igual. Até o Seuma fechou as portas, sem ele o teto nunca mais vai girar. Meu corpo se esparrama por todos os lados. Carolina recheada de chocolate. O corpo se esparrama numa tentativa de ocupar o lugar vazio, em vão. Estou cheia de mim mesma. A mão esquerda não é suficiente para a direita - não dá para enganar, elas se reconhecem: "Me larga. Procuro algo que não seja eu".

xxxxxx

É sábado a noite. O quarto está escuro. As palavras surgem em minha mente como pesadelos, espantam o sono. Preciso escrevê-las, mas o corpo não aguenta, sabe que assim que chegar ao computador já terão desaparecido. Rascunhos mentais começam a se formar. Os parágrafos não têm continuidade. Também não agradam. Idéias soltas. Amanhã. Amanhã, assim que acordar eu escrevo.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O vento e o tempo

A quase 3 mil quilômetros do Rio, na cidade de Luís Correia, no norte do Piauí, o vento sopra forte, entorta árvores e embaraça os cabelos. O sol seca a carne do boi e do homem, enruga a pele, e quem esquecer de passar protetor solar nas pernas brancas corre risco de ficar que nem tomate assado. (Tomate assado é a versão nordestina para carolina recheada, ou seja, eu). A estrada de terra leva ao infinito, a estrada de areia se move com o vento e cobre a estrada de terra, o vento sopra a areia, a areia caí no olho de quem não usa óculos escuros. (Dessa eu me livrei. Em Luís Correia não há farmácia para comprar colírio). O vento leva kitesurfistas às alturas, que por sua vez levam jornalistas à loucura.

Os quase 3 mil quilômetros de distância entre a cidade maravilhosa e a cidade aonde o vento faz a curva são percorridos em mais de 12 horas de viagem. Tempo suficiente para repensar a vida inteira e considerar a hipótese de começar a praticar kitesurf. Tempo para perceber que o cara espremido ao meu lado no avião tem uma garrafinha de uísque dentro da bolsa e já tomou 3 Xingu. Tempo para notar que o Brasil é uma terra imensa e que se leva menos tempo para chegar na Ásia. Tempo para ouvir 634 músicas no ipod. Tempo para decidir pular pela saída de emergência, e decidir voltar atrás.

Não vi jacaré no igarapé, nem comi acarajé, mas tive que voltar de macha-ré quando o jipe atolou e fiquei cheia de lama no pé. (amei isso). Aprendi que cajú mancha; que só neutrox solta nó; que wave, regata e freestyle são categorias da competição de kite; que viajar sozinha deixa a pessoa carente; que nem eu me aguento carente; que quando a pessoa se enturma já está na hora de ir embora. (Isso me lembrou colônia de férias, e eu achei melhor ir embora mesmo, antes que os pesadelos infantis retornassem das profundezas do meu ser: PERIGO TOTAL).

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Próxima parada: Piauí

O dia começou às 6h30. O café esfumaçante não estava na xícara de porcelana, nem no bule de prata, nem na garrafa térmica. A água não fervia na boca do fogão. A certeza de que seria um dia arrastado se instalou. Vestida com o uniforme escolar, minha irmazinha comia pão com manteiga e leite com Nescau na mesa da cozinha. "Já tá na hora de você aprender a se mexer de manhã...", me repreendeu. Decidi não tomar o café.

Antes mesmo que eu tivesse tempo de escolher entre o túnel e a Niemeyer o telefone tocou. (Eram 7h14): Anna? É, quem fala? Vocês está dirigindo um Peageut azul? Sim, quem fala? Eu sou oficial de justiça. Estou dirigindo o astra prata atrás de você. Como? Olhe pelo retrosivor, esse dando tchau sou eu. O seu porteiro me avisou que você estava no carro que saiu logo que eu cheguei, então resolvi te seguir. Sei.... Você pode, por favor, encostar o carro? Escuta aqui amigo, pra começar aqui não tem onde encostar, estou indo pra Ipanema, se você quiser me seguir até lá, fique a vontade. Mas tá vendo que tá trânsito, né? EU só preciso que você assine esse papel...

Encostei o carro. Abri o vidro sem dizer uma palavra. Ele veio animado.

Muito bom dia, Anna. Olha que sorte a minha conseguir ter te achado no meio desse montão de carros! (ele estava sorridente. Me deu o papel.) Só preciso que a senhora assine esse mandado de intimação, no qual o senhor seu pai pede exoneração de pensão alimentícia. Não esquece de colocar o número da identidade e data ao lado, tá? Você não acha incrível que eu tenha conseguido alacança-la? Quando eu contar lá no Fórum ninguém vai acreditar!

Continuei muda. Assinei o papel. Ele ficou parado, me olhando.

Me desculpa, seu oficial, gostaria muito de comemorar essa vitória com o senhor, mas são 7h25 da manhã, estou atrasada pro dentista, não tomei café e pelo visto não vou poder tomar nunca mais, já que o meu pai não quer mais pagar a minha alimentação. Tenha um bom dia.

Deixei ele parado ali mesmo, no meio da rua. Escolhi a Niemeyer. Não sei porque, mas sempre que estou chorando escolho a Niemeyer. Dessa vez foi uma boa escolha, 7h50 estava procurando vaga em Ipanema. Vaga! Cone na vaga. Outra vaga! Dois cones na vaga. Vaga!Ignorei o cone. O flanelinha veio falar comigo.

Não pode parar aí não, tia. Não tá vendo o cone? Tô vendo sim. Mas a vaga é pública e se eu quiser parar nela eu páro. (engatei a primeira. o cara tirou o cone) Dá uma ajuda pelo menos aí na volta, tia? Não. Não? A rua é pública meu amigo. Qualquer pessoa que se aposse dela assim não ganha nem um centavo vindo de mim. Mas eu tirei o cone pra senhora estacionar! Se eu não tivesse tirado, o que a senhora ia fazer, passar por cima? ô gente mal educada! Não, eu ia tirar eu mesma. (morri de medo, mas deixei o carro ali mesmo).

Essa é a radiografia da sua arcada dentária. Seu ciso inferior direito está incluso e inflamado. Vamos ter que extraí-lo, disse o dentista. Eram 8h15, o dia estava apenas começando.

Às 14hs tive a notícia que justificaria a total insanidade dos acontecimentos até então: Fui escalada para cobrir o campeonato brasileiro de kite surf, em Luís Corrêa, há 6 horas de carro de Teresina, no Piauí. Surreal.

Aguardem cenas dos próximos capítulos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Olha a cabeleira do Zezé

Ele se aproximou. Boné, mochila nas costas, camiseta de banda alternativa, bermudão. Não deu tempo de reparar o que ele calçava, em menos de 10 segundos parou ao meu lado no balcão. Enquanto eu checava a conta, imaginava como seria a garota que aquele gatinho viera buscar. O que mais um gatinho daqueles estaria fazendo ali, senão buscar a namorada. Buscar a irmã? A mãe? Estavamos em uma casa de depilação, ora bolas. Meninos não buscam familiares em casas de depilação. Depois imaginei ele dando o fora nela, nós dois felizes para sempre, nós dois contando aos nossos filhos como encontramos a alma gêmea da forma mais inusitada possível: no Pelo Menos. O timing era perfeito, afinal eu tinha acabado de fazer virilha cavada com faixa, axila e perna inteira. Mais preparada para O momento impossível. No mesmo minuto em que lembrei que Murphy nunca deixaria que eu estivesse TOTALMENTE sem pêlos no exato momento de encontrar o príncipe encantado, ele falou, com a voz grave: Eu gostaria de fazer a sobrancelha, por favor. Derrubei todas as moedas do troco no chão. Algumas rolaram para debaixo do balcão. "Não precisa se preocupar não", eu disse, ainda meio sem voz. E saí correndo dali o mais depressa possível. O que diabos está acontecendo com os homens???
Ainda pensando no assunto, continuei o ritual de beleza. Próxima parada: Cristal. Serviços agendados: Sobrancelha (com pinça, é claro. Todo mundo, com exceção dos homens, pelo visto, sabe que a sobrancelha só fica boa com pinça. Se bem que tem aquela técnica israelense de linha, mas isso já é assunto para outro post); manicure e pedicure. Conhecido por ser um dos salões preferidos pelas madames da alta sociedade carioca, o Cristal localiza-se no coração de Ipanema. "Os preços são mais caros que o normal, mas a qualidade do atendimento e do ambiente compensam", dizem elas. Fios de cabelo raramente estão no chão. Parte da estaff local tem sotaque francês. Os últimos modelos das bolsas mais cobiçadas do mundo desfilam pelo salão. Contigo é revista para Britto, no Cristal as Vogue, Elle, Bazzar e outras bíblias da moda são atualizadas em diversos idiomas mensalmente.
Enquanto folheava a última edição da Vogue americana, "The biggest issue ever", com a Siena Miller na capa, meus pés repousavam dentro da bacia prateada de água morna. Foi então que eu notei algo um pouco estranho no ambiente. Na minha diagonal direita, havia um homem gordo aparando a barba com ninguém menos que a Mandi. Semana passada fiz uma matéria sobre os 5 cabeleireiros mais caros do Rio. A Mandi foi a 5ª colocada. Quanto deve custar se barbear com ela?
Na minha diagonal esquerda, estava ele. Não aquele do Pelo Menos, mas outro tão gatinho quanto. Tatuagem na batata da perna, mochila nas costas, ipod no ouvido, bermuda cargo bege, camiseta verde abacate, tênis Vans "estilo pé de elefante", barba por fazer e cabelo meio comprido, meio bagunçado. Quem o encontrar andando de skate por aí, nem imagina que ele frequenta salão. Com um olho no anúncio da nova bolsa Fendi e outro no garoto, esperei o momento dele dizer que queria fazer uma cauterização seguida de escova inteligente, por favor. Essa hora não veio. Mas em 10 minutos, ele estava sentado no lavatório. Raspou a nuca (para tirar o volume do cabelo, provavelmente), aparou o cabelo estilo não to nem aí, secou com o secador. O cabeleireiro deu as últimas repicadas. O garoto voltou pro lavatório, molhou a cabeça e secou com a toalha. Saiu do Cristal com pinta de quem nem sabe o que é um secador.
Agora, me digam vocês, o que está acontecendo com os homens? Estamos em estado de calamidade pública, e não é só no Rio. Do outro lado do mundo os caras são mulheres. Eu nunca fui pra China, mas acompanho tudo pelas revistas. Só dá pra ter certeza do sexo dos orientais se verificarmos as partes íntimas, e mesmo assim, desconfie. A situação é crítica. Eles ditam as tendências e dominarão o mundo. Hoje, os cariocas fazem a sobrancelha e pagam caro pelo corte do cabelo. To vendo o dia que meu filho vai chegar em casa e vou confundi-lo com a irmã. Isso se eu conseguir ter filhos até lá, porque toda mulher sabe que está faltando macho no mundo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Admirável comentário novo

Felipe,

Mas que honra ter seus comentários no meu modesto blogue... vc anda acompanhando as minhas aventuras e desventuras? Agora ficarei tímida, terei que melhorar a qualidade em um milhão. Talvez implodir alguns posts já publicados. Enfim... Seguem repostas aos comentários (lidos e relidos com um enorme sorriso no rosto):

você disse... - Antonio Prata!?... você costumava a ser mais crítica. (cadê aqueles velhos irritantes que escrevem tão bem a ponto de pensarmos em desistir dessa sina; Saramago, Borges, etc, etc).

eu digo... - Amo e sempre amarei meus antigos companheiros, incomparáveis ídolos, eternos mestres da palavra. Se os continuasse lendo com tamanha assiduidade, nunca conseguiria ter começado a colocar pensamentos e impressões nesse blogue. Você conhece bem minhas exigências... O meu amor pelo Antonio Prata é menos platônico. Sabe? mais pé no chão. Amor sem tanta idolatria, mas nem por isso com companhia menos divertida. Amor leve. Amor com defeitos. Estar gostando de Antonio Prata define bem meu espírito nos últimos meses. De repente, é uma fase. De repente, não. Quem sabe aprendi a aceitar os defeitos alheios? Ou a conviver com a “humanidade” de cada um. Cansei de admirar SOMENTE (por favor, não pule o “SOMENTE”) os Deuses. Cansei de sonhar. Quero ser real. O Antonio Prata me soa próximo. Quem sabe, amor possível? (risos)

você disse... - Nunca é tarde para reconhecer a genialidade dos Simpsons.

eu digo... – Finalmente eu me redimo e admito que você sempre me avisou...

você disse... Tudo é igual a tudo e tudo é diferente de tudo (essa é uma lei ontológica básica). Portanto, não se preocupe com as repetições e as diferenças; preocupe-se com o olhar que as identifica. Interessante como esse é um tema recorrente para você... já reparou nisso?

eu digo... – Nunca reparei. Será que não entendi? Você quer dizer “as repetições e as diferenças”? Agora que você tocou no assunto, desenvolve. Com exemplos para simplificar, please.

você disse... - Grande evolução! Seus textos estão cada vez mais fluentes - só sinto falta de uma ficção mais elaborada (cadê os contos?)

eu digo...- Ando com preguiça da ficção mais elaborada. Como estava dizendo, não sei mais se quero ser profunda. Dá muito trabalho... Ando me divertindo no raso. Vou te contar o secret du jour: pode não parecer, mas muita coisa escrita aqui é ficção pura. Tudo bem que não é elaborada, mas você tem que entender que ando me esforçando muito pra ser simples. Se não, fico muito confusa, questionadora, filosófica, ou seja, um saco. Nem eu agüento os meus dramas. Então resolvi simplificar e quando cansar, eu volto. Não conta pra ninguém, mas tenho uns contos escondidos na gaveta. Tenho vergonha deles, são meio sem pé nem cabeça.

Foi bom ouvir pelo menos um elogio vindo de você, ó crítico dos críticos (e não adianta fazer esse meio sorriso, com a boca um pouco de lado, que eu te conheço bem, viu?). Escreva sempre.

Um beijo.

domingo, 2 de setembro de 2007

Dia nada estranho, sem gente esquisita

Quando o telefone tocou, o domingo chuvoso despertou.

E aí, amiga, o que você achou dele?
Achei que vocês formam o casal perfeito.
Você tá dormindo?
Agora já acordei, pode falar.
Jura? Fala mais então, você tava vendo tudo de camarote.
Então, acho que ele é o cara, vai fundo.
Você acha mesmo?
Sei bem que vi o clima chegando. Da minha mesa dava pra ver a mão dele hesitando em tocar na sua perna. E eu bem que vi ela tocando...
Risos
O beijo foi bom?
Foi incrível. No bar, no carro, na garagem, no elevador, no hall. Ai amiga.... Acho que ele é o cara.
Tô falando... Então. Vou levantar e te ligo pra gente fazer algo.
Ih, não vou poder, chá de panela.
Aí que saco, de novo. Essa gente não acha que somos muito novas pra casar, não?

***

Oie. Pode ir me contando tudo da noite de ontem.
Incrivel, Anna
To passando aí em cinco, vamos tomar café.

Estacionei enquanto ela não descia. Normal, ela sempre demora para descer. Do outro lado da rua, dois meninos faziam a mudança. Alugaram uma van tipo sacola da Mary Poppins. Colchão de casal, duas poltronas, dois quadros, mesinha de computador, mesa de centro, abajur, uma casa inteira saia dali. Eles engenhosamente tiravam peça por peça, desse jeito que só homens sabem fazer. Porque homem que é homem, pega carro emprestado pra fazer mudança, carrega a casa numa sacola, dá marcha-ré como ninguém, deixa a barba por fazer, quando toca: toca, anda de bicicleta e, definitivamente, sabe cortar birra de mulher. Já sei que a dupla aí sabe fazer mudanças. E eu bem que estou precisando de uma. Precisando começar um novo filme. Se alguém souber o andar deles, na Nascimento Silva, por favor, avise. Eu gosto de decorar.

****

Assim começou o domingo. Assim continuou o domingo. Meninos de roupa de borracha olhando o mar. Meninas olhando meninos olharem o mar. O mar. O vento. O cinema às 16h30. As lágrimas às 17h15. O insight simultâneo. Tudo tem que mudar, e mudar agora. Fim do filme. Rosto inchado. Não é nada disso que eu esperava. Férias com chuva devem significar o fim dos novos tempos. Fim das noites de três pessoas dançando na Pista 3. Aonde é o baço? Dói embaixo da minha costela esquerda... fígado? Se eu tirar uma costela, viro uma nova mulher? Conseguirei dormir mesmo sabendo que não há compromissos para o dia seguinte? O que fazer com o dia seguinte? Meus olhos abriram as 5h15. Não posso me atrasar para o trabalho. Só que é domingo, e mesmo já fosse amanhã, estou de férias. Estresse? Não quero trabalhar, quero dançar, correr 10 km, ler, ler, ler, ioga, roupas novas, dvds, beijo na boca e noites bem dormidas. E os sonhos atrapalham. Os sonhos das noites também. Eu não to legal, quero mais birita.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Saldo das férias (até agora)

36 horas para fazer o que quiser. 3 horas de exercícios aeróbicos, 2 horas de musculação, -2 dias sem doces e frituras, 4 novos amigos, 1h30 de aula de samba de gafieira, fim do trauma de infância de não saber bater palmas no ritmo da música, grandes probabilidades de ficar viciada em dançar, infinitos minutos de riso descontrolado, plano Tim Festival organizado, 100% de surpresa com a genialidade dos Simpsons (só agora?, você deve estar pensando. Perder o preconceito não é fácil, eu respondo), 2 garrafas de vinho, 1 tênis novo, 1 momento flerte (que eu preferia que não tivesse acontecido), 80% de abertura a novos relacionamentos (20% de proteção, para se tudo der errado...), 1 currículo enviado para o emprego da minha vida, 1001 possibilidades de tudo mudar no próximo segundo.

sábado, 25 de agosto de 2007

O perigo do tédio (da série: a vida debaixo do viaduto)

O tédio pode fazer as pessoas se apaixonarem. Esse é o grande perigo das tardes de sábado
passadas em branco na redação de um jornal. O plantão estava entediante. Eu já havia cavucado o orkut de todos os meus ex-namorados, ex-ficantes, ex-amigos, e futuros ex qualquer coisa; já havia descoberto coisas que não queria saber, coisas que não me importava saber e mais algumas sem nenhuma relevância. Já tinha lido os blogs de todos os conhecidos e daqueles que espero conhecer um dia. Fuxiquei fotologs de pessoas que não imagino quem sejam. Anyway, no meio do maremoto que o tédio pode causar, um raio de luz atingiu a minha mente e tive o melhor insight da minha vida: o Antonio Prata é a minha alma gêmea. Agora, não tenho a menor idéia do que farei com essa informação. Nem com as outras que descobri...

Sem ignorarmos o fato de que o Antonio acabou de voltar da China, e eu ainda sonho em ir pra lá; que ele é escritor, e eu ainda sonho em ser; que ele está escrevendo um romance, e eu ainda quero escrever, somos almas gêmeas.

Por exemplo, na quinta-feira, depois de mais uma noite com três pessoas dançando na pista da Pista 3, tive uma sensação que vem se repetindo incessantemente, mas nada do mundo me fazia conseguir colocá-la em palavras. O Antonio conseguiu, leia "alguma coisa melhor para fazer", no blog dele. É praticamente a versão masculina da minha história.

"tive o primeiro lampejo existencial e me dei conta de que estava atravessando uma noite absolutamente vazia e sem sentido ao fim da qual minha vida não haveria mudado nem um milímetro, apenas minhas roupas teriam um terrível cheiro de cigarro. Será que eu estaria atravessando uma vida absolutamente vazia e sem sentido?"

O ministério da saúde adverte: Saber tantas novidades sobre tantas pessoas ao mesmo tempo,
e não ter nada além delas para pensar,pode causar sério problemas mentais.

Carta aos que foram

Galera,

O sábado amanheceu deslumbrante. Eu amanheci no jornal, vocês embriagados em Paraty. Da janela da redação vejo os jambeiros e amendoeiras dançando ao som da leve brisa quente, típica de um dia de verão. Os raios de sol da manhã fazem o lado de fora parecer o sonho que eu não tive essa noite. Vanilla Sky. Minha vizinha de mesa abre uma tangerina que impesta o ar com o aroma cítrico. Não há dúvidas que estou no Brasil. Ontem, a cantina serviu feijoada. Mas o chope na saída do trabalho, eu recusei. Queria estar com vocês tomando cachaça em Paraty. Passear no Love boat em águas claras. Mas estou no jornal. Não tive muita escolha. Era isso ou rua. Quase escolhi rua. Se tivesse coragem suficiente para protestar... Se fosse carnaval... Enfim. Jornalista que late, não morde. Aproveitem muito a viagem, lembrem de mim e tragam uma cachaça de souvenir. Quem sabe semana que vem vamos à Búzios? Ainda há esperança. Sempre. A cada minuto temos uma nova chance de mudar nossa vida inteira.

Um beijo,
Escrava Isaura

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Trabalhar ou protestar, eis a questão

Estou sem inspiração porque trabalho mais de 14 horas por dia há mais de 2 semanas sem intervalo. Não tenho palavras para descrever a decepção de conseguir uma semana de férias, e ela cair justamente no fim de semana do plantão. Tenho dúvidas se neste caso protestar é infantilidade ou ato louvável. Estou pensando seriamente em greve. Será que eles me mandam embora se eu simplesmente não vier? Vou pagar para ver e talvez virar mártir. Aí, daqui há alguns anos, quando alguém se sentir injustiçado em ter que trabalhar no fds durante as férias(isso não faz o menor sentido), alguém dirá: "Reza a lenda que uma garota faltou o plantão e nunca mais conseguiu um emprego". Ou então, alguém lerá o meu currículo pensando: "Acho que é aquela garota que se rebelou e faltou o plantão. Nem pensar contratá-la".
Esse tipo de coisa acontece porque na verdade ninguém luta mais por nada. Continuamos vivendo na época da escravidão e não sabemos. Quer dizer, eu sei: muito prazer, escrava Isaura. E também porque a nossa geração não sente mais nada, não se mobiliza, não age. Um bando de gente que vive na inércia e se espanta ao ver alguém chorar. Quer saber: eu sinto. Amo o meu trabalho, mas estou no limite. É férias ou morte.

"Tudo o que é realmente grande e inspirador é criado pelo indivíduo que pode trabalhar em liberdade" A. Einstein

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

(No) me gusta

Eu não gosto de você, porque a sua casa é uma bagunça; porque tem um riso que é constante, meio grave e irritante; porque tem mania de soltar uns pigarros de cinco em cinco minutos; porque me chamou sem eu te dar a menor bola; porque faz isso com todas; porque me faz sentir especial; porque me faz sentir uma na multidão; porque estica a mão dura e carrega a escova de dentes munida de pasta no meio de todos como se não houvesse; porque chega de mau humor; porque tem uma calça jeans que me irrita; porque tem um andar desengonçado; porque fala alto; porque fala baixo; porque tem um toque de celular tão chato daqueles que ficam na memória, uma vez que ele não pára de tocar; por causa das verdades absolutas; por causa da (i)maturidade; porque me chama pelo meu nome e sobrenome; porque é indisplicentemente requintado ou refinadamente indisciplinado; porque tem um humor sarcástico; porque é roquenrol; porque é bossa nova; porque quer saber o porquê de tudo que não devia; porque eu entendi que você é desse jeito.

E o pior de tudo é que eu gosto de você exatamente pelos mesmos motivos.

"Porque tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda."

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Descompasso

Só lembro dos filmes que quero assistir quando não estou na locadora. Só encontro roupas que eu quero comprar quando não tenho dinheiro para adquiri-las. Só ando com minha bolsa equipada quando não preciso de nada. Só tenho o telefone de alguém quando não preciso telefonar para este alguém. Só encontro a frase certa que eu tinha que falar depois que eu já falei alguma asneira. Só passo pela lavanderia quando estou sem roupas para lavar. Só encontro aquele cara, aquele que eu passei meses tentando forjar um encontro, quando ele já é só uma poeira cósmica na minha vida. Só encontro R$ 10 em algum bolso perdido do casaco quando tenho dinheiro suficiente na carteira. Só recebo aquela ligação que eu esperei durante dias quando ela não vale mais um segundo da minha lembrança. Só me aceitam NO emprego da minha vida quando eu já tive que aceitar àquela proposta mais ou menos. Só tenho idéias de posts incríveis quando não estou na frente do computador.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Coisa de menina

O mais engraçado era como ele dizia àquelas frases. Não sei porque falava com tanta certeza e confiança que eu acreditava em cada vírgula, cada ponto de exclamação. Até porque, naquele discurso não havia espaço para interrogações, embora as dúvidas reinassem dentro de mim. Passado algum tempo, agora sou quem tenta convencê-lo de suas próprias convicções, de suas próprias certezas, que agora já são minhas também.

Saudades de mim

Me falaram que o Sérgio Rodrigues parece o Leôncio do pica-pau e quando eu falei Leôncio, soou como onço e imediatamente senti saudades de mim na época em que eu e você estávamos juntos. Sabe onço, o amor nos tira do sério. As coisas que fazíamos naquela época, os apelidos, as cartas, os beijos, os banhos, as camas, os chãos, as mesas, as cadeiras, os ônibus, as trilhas... as caronas na estrada de baixo de chuva, as caminhadas do Centro ao Flamengo, as horas e horas de leitura na rede. Ah a rede.... Sabe que não foi fácil te encontrar. Te reencontrar foi ainda mais difícil. Tenho sentido muita saudade de mim. Da coragem de dar o salto, de largar as mãos do trapézio, de arriscar e me aventurar para sempre. Saudades de inventar apelidos. Saudades de ser ridícula sem sentir. Onço é ridículo. Mas eu amo onço. E te estranhei. Te reconheci de longe pelo andar, mas a medida que a imagem se aproximava te vi como outro. Três anos fazem diferença, não é? Mas há tanta coisa que hoje é tão minha, mas que só apareceu por sua causa. Você me ensinou a fazer renda e eu te ensinei a namorar. Te ensinei bem? Como anda o seu namoro? Por um tempo eu consegui tecer as nuances do pôr-do-sol, o vento na cara, a nova literatura. Mas apesar de continuar observando a lua quando cheia, a vida tem começado a dar nó. Estou com saudades de mim. Estou com saudades de mim com você. Estou com saudades de mim apaixonada por você. Pena que hoje somos outros. As tardes na cama, as invenções gastronômicas, as viagens ao léo e todo o resto não cabem mais no mesmo lugar. O seu cabelo cresceu de novo. O meu também. Saudades onço. Saudades da pessoa que não posso ser mais. Saudades de mim. Saudades da pessoa que você não pode ser mais. Saudades de você. Saudades de nós. Saudades da vida que ficou para trás. SaudadeS com S porque é mais gostoso de falar.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O salto, de Antonio Prata

A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas -- mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte -- quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.

domingo, 12 de agosto de 2007

Há dois tipos de segredos:
aqueles que escondemos dos outros,
e aqueles que escondemos de nós mesmos.

Não quero pensar sobre isso agora.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Mais um ciclo se completa

O mistério foi solucionado. O abrigo de inverno nº 2007 das formigas gigantes está localizado na terceira prateleira, de cima para baixo, da parte direita do closet do meu quarto, atrás da pilha de camisetas de tom verde/azul. Já mandei exterminar. Agora, só no inverno do ano que vem. O que significa que o projeto musa do verão 2008 deve começar imediatamente. Será que existe um AA para pessoas que comem compulsivamente?

Secret du jour: coincidência, ou não, este é o qüinquagésimo post deste blogue. Início de um novo ciclo, fato.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Como dois e dois são cinco

Ninguém precisa ler Nieztche ou Foucault para saber que uma coisa só começa quando a outra está devidamente terminada. Essa idéia tão simples, sabedoria nordestina, me atormenta o pensamento. Quase uma equação insolúvel. Eu aqui, tentando entender as oscilações dos planetas, as máximas filosóficas, as sabedorias mitológicas, e não consigo compreender uma coisa tão simples. Como diria meu avô que nasceu no sertão da Bahia: Tá amarrado!!!!

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O Momix me fez dançar

Não sei porque não ouvi minha mãe e continuei no balé. Não sei porque não ouvi minha mãe e continuei na natação, no tênis, na aula de piano...e por aí vai. Sou do tipo que vai a um show e sonha com a idéia de ser uma cantora. Pelo menos por um dia, vai. Quando vejo aquela final de tênis, penso que se me esforçasse um pouco, só um pouco, poderia estar me vendo numa final. Ai, mas...quando vejo um espetáculo de balé, meu coração dispara, meus olhos vibram, remelexo meu corpo todo com uma vontade enorme de estar no palco. Por mais que eu seja uma dessas pessoas vira-casaca, que quer o tempo inteiro o que não tem (bem que meu pai falou para eu ser um pouco mais persistente), com o balé o negócio é sério! Talvez seja porque foi com o que eu cheguei mais próximo de algum lugar (se é que isso quer dizer alguma coisa). Fiz balé dos dois aos quatorze anos. Bem naquela fase pré-adolescente em que as espinhas não acompanham o desejo de estar bonita, em que a boca está grande e o nariz pequeno e vice-versa. Aquela fase que você acha que já ficou adulta o suficiente para escolher o que quer da vida, e com certeza quer mudanças radicais. Dito e feito, saí das minhas aulas de balé. E hoje, depois de assistir ao belíssimo Momix, não pude deixar de sentir esta sensação recalcada de incompletude. Que coisa mais linda! Adoro essas danças modernas em que a luz, o cenário, o figurino, os objetos de palco, tudo faz e completa o espetáculo. Fui assistir ao Opus cactus, onde o deserto é o cenário e os bailarinos, através da dança, simulam árvores, "dinossauros"(foi o que me pareceu), serpentes e flores. Uma beleza! Aqueles corpos que se entrelaçam e, juntos, vão formando os cenários, os bichos. Sozinhos, eles seriam dança. Juntos, eles são animais dançantes, árvores que balançam, serpentes que rastejam. E eu alí na platéia, mais especificamente na primeira fila, estupefata com todo aquele pas-de-deux moderno que meus olhos observavam. Daquela posição em que me encontrava, podia ver tudo nos mínimos detalhes, como os sorrisos largos, os corpos minuciosamente delineados, os passos delicados e fortes, a força que me parecia fácil. No final, foi tudo tão intenso, que eu até me esqueci que queria estar do lado de lá. Porque mesmo sentada na platéia, o Momix me fez dançar.

Life's good technology


Vou ter que comprar um laptop só para poder usar o celular novo. O aparelhinho lê pdf, excel, word, tem pen drive, memória externa, saída usb, tem bluetooth, leitor de mp3, câmera de vídeo e foto, gravador de voz, modo avião, e outras coisitas que eu não faço a menor idéia de como usar. Há algo de muito suspeito nesse presente, será que existe um rastreador por trás de tudo isso? E o pior, a Vivo ofereceu o mesmo modelo de graça pro meu irmão! Com certeza há algo estranho aí. Quem sabe um convênio com lojas de computadores.... Preciso urgentemente de um laptop. Depois vou querer um ipod último modelo, uma nova câmera fotográfica e de vídeo. Ser uma pessoa multimídia faz total parte dos planos profissionais. Uma máquina de teletransporte e invisibilidade também não seria nada mal. Só descobri hoje que LG significa Life's good...

domingo, 5 de agosto de 2007

Ah se ela soubesse...

Há exatos 45 anos Vinicius de Moraes fazia sua primeira apresentação pública. Ao seu lado estavam João Gilberto, Tom Jobim, o grupo Os Cariocas, entre outros mestres da Bossa Nova. Era primeira vez também que "Garota de Ipanema" foi cantada em show. Quase meio século depois, a rua que leva o nome do compositor virou palco para festa. Na calçada em frente à livraria Toca do Vinícius, mais de 500 pessoas acompanharam em pé e debaixo de chuva as notas tocadas por Os Cariocas.
O cantor e compositor Tito Madi foi um dos que prestigiaram mais um ano na terceira idade da Garota de Ipanema, mas acabou sendo também homenageado por conta de seu aniversário. Pelo telefone celular, ouviu o público cantar em alto tom "Parábéns pra você". Outro músico, Júlio Carvana, filho do ator Hugo Carvana, também esteve ao evento como quem cumpre uma rotina: vizinho da Toca do Vinicius, ele tem o privilégio de, muitas vezes, escutar os shows da janela do seu apartamento.
– Assisti a quase todos os shows realizados aqui durante minha vida. Não podia faltar a esse de jeito nenhum – diz.
A primeira apresentação de Garota de Ipanema aconteceu em 1962, na boate Au Bon Gourmet, em Copacabana. A temporada de shows no local durou 45 dias e refletiu a época de ouro da Bossa Nova. No repertório também estavam "Só danço samba", "Samba do avião", "Samba da benção" e "Astronauta".
– Ipanema é o berço intelectual da Bossa Nova. Pessoalmente acho o "Samba do avião" a música mais bonita, mas "Garota de Ipanema" é internacional e dá relevo à realidade local do bairro —, opina Carlos Alberto Afonso, dono da Toca do Vinícius que promove shows no local uma vez por mês.
Grandes nomes da música como Toquinho, João Donato, Wagner Tiso e Quarteto em Cy já se passaram por lá. A livraria é um estabelecimento inteiramente voltado para a música brasileira. Durante seus 14 anos de existência – a serem completados em setembro – a Toca do Vinicius é um dos principais alicerces da história do gênero atuando em prol do fortalecimento da cultura local. Para o escritor e jornalista Ruy Castro, autor do livro "Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova", o ritmo é um gênero musical que não cabe maiores discussões.
– O Brasil não vai descansar enquanto não acabar com o Rio, o carnaval e a Bossa Nova. Mas o que impressiona é que existem mais discos de Bossa Nova vendendo nas lojas hoje do que em qualquer outra época. O gênero está aí e vai ficar para sempre - diz.

***

Secret du jour: quero ser musa inspiradora de Tom e Vinícius. Quando eu tinha uns oito ou nove anos fui escolhida pela turma do colégio para ser a Garota de Ipanema numa apresentação de final de ano da escola. A única pessoa que suspirou ao me ver passar foi minha mãe... ela até chorou.

Dica du jour: Vale a pena entrar no site da Helô Pinheiro. É de morrer de rir, tem até blog com fotos do aniversário da filha dela, um coleção cafonérrima de biquines, entre outras bizarices.

sábado, 4 de agosto de 2007

...A vida depois do vidauto (continuação do texto abaixo)

A Bella não abandonou, a Bella percebeu que era que nem esses insetos que caiam de para-quedas debaixo do túnel. E, quando teve uma epifania, quis se mudar para outro lugar. E ai, finalmente se libertou. Mas, é claro, levou com ela todas as coisas, todas as pessoas, os banheiros sem papel, as comidas de avião, as conversas de messenger, as reuniões de pauta, as broncas , os fechamentos, os toques de celular do comercial. E, de supetão, depois de uma noite bem dormida, se preparando para mais um dia de trabalho, decidiu, ou melhor, entendeu que alguma coisa estava fora da ordem. E apartir dai tudo ficou claro. Simples. Foi só chegar e falar, com toda clareza que aquilo exigia. O dificil foi se despedir das pessoas, que começaram a fazer parte do dia-a-dia. Mas fácil, foi entrar no carro, atravessar os dois túneis, e voltar para casa. Enfim livre!

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

A vida debaixo do viaduto II

Quando vi um trio de formigas gigantes passeando pela tela do computador da redação, meu cérebro congelou e tudo o que consegui pensar foi na estranha razão pela qual esses insetos de médio porte atravessaram dois túneis e resolveram me acompanhar em mais um dia de labuta. O que eles levariam de mim desta vez? Tentando descobrir o motivo da invasão, desempilhei os jornais velhos, vasculhei a gaveta lotada de releases, desorganizei os catálogos das exposições, fiz uma limpa nos convites e atá apaguei e-mails datados. De nada adiantou. Esse ano elas estão impossíveis. Darwinianamente desenvolveram capacidades de construirem um ninho invisível ao meu olhar. Só mais tarde descobri o que mudaria naquele dia. A Bella foi embora. Acordou numa manhã de sol, olhou para o mar de Ipanema e decidiu de uma vez por todas que três meses vivendo debaixo do viaduto já eram mais do que suficiente para exaurir sua experiência jornalística. O processo de despedida foi simples. Basicamente, oi e tchau, estou aqui mas já de saída, bom dia e boa sorte. A Bella du jour pegou sua bolsa e sem olhar para trás se foi, deixando para sempre mapas astrais sem interpretação, pautas sem conclusão e uma parede de tijolinhos de artes plásticas por ser construída. Em compensação, sentiu-se livre. Free Bella. Foi viver o começo do fim de sua vida. Desde então a vida ali debaixo não tem sido a mesma. Vide o e-mail que circulou na redação a tarde de hoje. Devida a questões autorais, os nomes mencionados foram alterados. Segue o texto:

"Tá todo mundo arrasado com a saída da Bella, inclusive o XYZ. Apesar de sua blusa mamãe-sou-forte de cor coral florescente com bordas brancas denotar felicidade, as olheiras e a caixa de lexotan sobre o teclado transparecem seu real estado de espírito. Na verdade, não é fácil adivinhar o que o XYZ sente. Ele que passa os dias alheio aos gritos da Valéria, ao vento encanado do ar-condicionado e aos toques do celular das peruas do comercial, de olhos virados para a tela do PC, que por sua vez está virado para a parede. O sentimento de solidão e isolamento total das coisas do mundo se agravou qd soube que sua companheira de aventuras no fechamento da Programa, com quem esbarrava cotovelos há menos de três meses, se iria para sempre. Cogitou se matar. Visitou sites que falavam de magia negra e outros que calculavam o tempo exato que uma pessoa leva para morrer ao se jogar do primeiro andar da Brasil. Cogitou mergulhar fundo nas águas turvas e rasas do canal da Paulo de Frontin até que a última micrograma de oxigênio se esvaisse do corpo já vazio de esperança e joir de vivre. XYZ nunca irá se recuperar deste trauma. Nem com terapia comportamental, nem com bioenergética, nem com astrologia".

E mais conversas estranhas rolaram no msn entre cinco jornalistas:

Braile tá se sentindo excluída; ela faz umas correntinhas rasta na nossa comunidade; contextualizando; é q a gente vai pra santa, mas não é pra explanar nossos planos; desculpa esfarrapada; a gente vai virar uma comunidade braile; não se esqueçam que eu praticamente já morei em santa; é uma sociedade alternativa secreta; hj à noite; uma comunidade braile?; na cs do sé; pra kátia cega; como é isso?; cega e nua; braile já foi hippie; é verdade, passava todos os fds em santa; parapan; então jah eh; (símbolo de bonequinhos dançantes); (símbolo de menininha balançando a cabeça); (símbolo de homem de barba branca alisando a barba); olha a sacanagem; q sacanagem?; pai mei é o poder; é que eu to atrasada; cega e nua; a flávia tá com a bunda formigando; eta; qq coisa tb tem a baiana de acarajé embaixo da minha casa; zappa quebra caneta!!; acarajé!; vamos logo então, tchurma; estou indo nessa, tenho q dar uma passada na casa dos meus pais e dps encontro vcs, a Braile incluída; flávia só vai se for agora;
ela é mandona pra caramba; eu decreto, eu mando nesta merda; 1,2,3, levanta; vamos todos pra santa; xiiiii; eu não vou, já deixei de ser hippie há tempos; eu sou a chefinha; Rafael saiu da conversa; lá a gente brinca de pique; a zappa é minha testa de ferro; eu vou na minha festa high socciety; sobe nas árvores; vestida de estola de esquilo; não; vou sair dessa zona; muita fofocada; Carlos saiu da conversa; bjoooo e bom fds.

terça-feira, 31 de julho de 2007

O nosso amor a gente inventa

Porque isso tudo está me consumindo por dentro. Porque eu tenho ataques de risos descontrolados. E ando sentindo muito ciúmes também. Bipolar? Porque não vou ouvir nada do que vocês estão todos dizendo. Porque eu quero acreditar num mundo melhor e viver uma utopia. Quero continuar tendo os ataques de risos. E continuar mentindo sobre o meu destino, só para não ter que dar carona pra ninguém. Não quero companhia no carro, porque quero eternamente dirigir cantando. Porque sou uma cantora frustrada, uma pintora que acabou fazendo colagem, uma escritora que preferiu escrever em blogs e uma atriz da vida real. Vou fingir a minha vida eternamente e vocês digam o que disserem que eu não quero ouvir. A vida pode ser bem mais divertida assim. Porque fazemos dela o que quisermos. Por isso vou acreditar eternamente no amor eterno, no destino, na fidelidade e na pessobilidade da felicidade entre duas pessoas que se amam. Paz no mundo. E vocês podem dizer o que quiserem, inclusive que eu não estou entendendo. Eu vou fechar os meus ouvidos, acreditar que a vida é muito boa, andar nas nuvens e cantar em voz alta toda vez que estiver sozinha. Me deixa cantar, pintar, escrever, inventar, fingir e ser o que eu quiser, porque estamos aqui para viver em voz alta. Se você quiser, te dou uma carona. Mas vai ter que me ouvir desafinar. E cantar também. Diversão garantida.

domingo, 29 de julho de 2007

I just call to say...

Todas as coisas acontecem por uma razão. Aposto que descobrir o motivo que me fez perder o celular no início da noite de uma sexta-feira não será nada fácil. Algumas hipóteses me vêm à cabeça:
1. Noé pode estar construindo uma nova Arca. A previsão do tempo é prova disso. Então perdi o telefone, porque como eu não acho que seja a pessoa mais indicada para dar continuidade à espécie humana, inconcientemente achei melhor não deixar que ele me achasse;
2. Talvez perder o aparelho seja a única forma de conseguir me libertar das mensagens de texto que aquele cara que eu estou proibida de mencionar o nome me mandou um dia, ou noite, ou tarde;
3. Uma hipótese melhor ainda: apagar de uma vez por todas o número do telefone dele. E de todos os amigos dele;
4. A perda do celular foi um castigo por todas as vezes em que desliguei o telefone na cara dos vendedores das operadoras. A punição foi passar a manhã de sábado falando com operadores de telemarketing, perder mais de três horas da tarde de domingo numa fila na loja da Vivo, na Barra, sair de lá com um celular de R$49,90, e chegar em casa e descobrir que o aparelho é tão barato porque não pega no meu quarto;
5. Aprender que discar aleatoriamente números de telefones que lhe vêm a cabeça não é uma boa maneira de descobrir a quem eles de fato pertecem;
6. Decorar os telefones das pessoas queridas é fundamental;
7. Ficar incomunicável durante um final de semana inteiro incentiva o contato com familiares, do mesmo jeito que ficar sem energia elétrica nas noites de domingo.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Anna diz:
vai no festival indie hj?
Julio diz:
Bem que queria ir no magic numbers
Julio diz:
dia desses procurei o cd deles e não achei...
Anna diz:
eu tb não tenho o cd não, mas dá pra baixar
Julio diz:
ué não sou pirata
Julio diz:
sou uma das últimas pessoas que ainda compram cd hehe
Julio diz:
comprei 3 essa semana...
Julio diz:
e fico triste cada vez que chego nas lojas e tem menos cd, na saraiva o bonus é até menor para comprar cd. muito vacilo.
Anna diz:
não é pra vc gravar cd, é para baixar a música no comp.
Anna diz:
isso não é pirataria é tecnologia
Julio diz:
é pirataria! tá baixando a musica sem pagar por ela.
Julio diz:
quem vem aí em breve é the killers
Julio diz:
eu tenho um cd deles...acho bacana
Anna diz:
hahahaha vc compra cd, fala "bacana"
Anna diz:
ô raça nordestina
Julio diz:
engraçadinha
Julio diz:
o escama também compra cd
Julio diz:
confesso que é o meu unico amigo q conheço que tambem compra
Anna diz:
ele deve falar bacana tb
Julio diz:
qual é o problema de falar bacana?
Julio diz:
será que vc é de outra geração?
Anna diz:
estou ficando desconfiada
Julio diz:
mais de 3 anos de diferença é outra geração
Julio diz:
provavelmente só viu transformers agora que chegou no cinema.
Anna diz:
não vi transformers
Julio diz:
outra geração
Julio diz:
fato
Anna diz:
pronto solucionamos todos os problemas
Julio diz:
bacana...
Anna diz:
irado
Julio diz:
eu nao estou zangado não.
Anna diz:
quem falou que vc tá?
Julio diz:
vc, qd disse irado
Anna diz:
irado é bacana na minha geração
Julio diz:
aaaaah não sabia
Anna diz:
outra geração
Julio diz:
outra geração. fato.
Anna diz:
geração do julio (imigrantes do nordeste) vê transformers, compra cd, fala bacana
Julio diz:
nao sei se é minha geração
Julio diz:
a maioria já pirateia as coisas
Julio diz:
as pessoas pirateiam, compram drogas...tá tudo errado. tuuudo errado. mundo tá de cabeça pra baixo.
Anna diz:
vamos todos ficar caretas
Julio diz:
depois não reclamem qndo o poste mijar no cachorro, qndo tiver fila na igreja só para comer ostia...
Anna diz:
hahahahha
Anna diz:
julio, tenho que te contar um segredo
Julio diz:
por favor
Anna diz:
muita coisa mudou neste tempo em que vc andou pelo mundo
Anna diz:
os indies estão aí
Julio diz:
os postes já estão mijando nos cachorros
Julio diz:
eu lembro qndo li no jornal que um porteiro paraiba viu um tubarao na praia da barra.
Julio diz:
mergulhou, deu uma gravata no tubarao, meteu um monte de soco nele. e trouxe o bicho pra areia
Julio diz:
entrevistaram o paraiba e ele respondeu "o bicho é tinhoso, mas eu sou mais"
Anna diz:
haahahaha
Julio diz:
isso deve ter uns 5-6 anos.
Anna diz:
não tenho memória dessa época, as drogas não deixam
Julio diz:
de lá pra cá, as coisas ficam cada vez mais esquisitas.
Anna diz:
imagino , deve realmente ser um espanto acompanhar a evolução
Anna diz:
foi bom falar com vc, mas os indies me esperam
Julio diz:
vamos nos falar até sabado né. tem que ver esse negócio do casamento
Anna diz:
demoro, nos falamos
Anna diz:
demoro = legal
Anna diz:
beijos

terça-feira, 24 de julho de 2007

Central de atendimento ao consumidor

Ligou o carro, abaixou o freio de mão, deu a ré, engatou a primeira e enquanto descia a ladeira ligou o rádio. Não ouviu música. Escutou o som do trânsito lá fora, do motor, da chuva caindo no vidro, do pára-brisa tentando contê-la, o som da própria respiração. Mas nada de música. Quinze minutos antes Nouvelle Vague quase estourava as caixas, In a manner of speaking. Parou o carro no acostamento. Tirou a frente do rádio, assoprou a partezinha dourada. Não adiantou nada. Apertou todos os botões. Ele estava morto. E agora? é possível dirigir sem música? Os carros vizinhos estavam de vidros fechados, não queriam emprestar a ela um pouco de seu universo particular. Parece que tem sido assim ultimamente. Ela não tem tido acesso a universos particulares. O dela próprio estava sendo desconstruído aos poucos. Como reconhecer-se em alguém que nunca imaginara ser? Estacionou. Subiu as escadas. Era um dia incomum, precisava de som. Não havia silêncio interno. A cabeça não parava de pensar. Precisava distrair. Ligou a tv. Nada. Por favor, ligue para nossa central de atendimento ao consumidor: 4004-777. OFF. Ligou o computador, impossível encontrar o servidor. Nouvelle Vague no ipod. Acabou a bateria. A única saída era dormir. No dia seguinte, o carro não pegou. Ela perdeu a ioga. Chegou no jornal e a pauta caiu. Pensou se não estaria soltando faíscas. Caiu um prantos. Soluçou. A barriga tremeu. A chefe se preocupou. A lente escapou do olho. Ufa! Ela conseguiu segurá-la antes que caísse no chão. E as lágrimas não paravam de brotar. Se sentiu com cinco anos, indefesa. Precisava de colo, de cafuné, de abraço de urso. Precisava de férias, mas não sabia ficar sem trabalhar. Tinha medo de ter tempo para olhar a si mesma. Encontrar algo que não gostaria. Todo mundo sabia que ela tinha mania de perfeição. Se exigia tanto, mas tanto, que quando algo dava errado debulhava-se em lágrimas. Mas como tudo poderia dar tão certo se ela era apenas uma? Se tivesse uma dupla, talvez tudo se resolvesse. Se olhasse mais para si, teria uma dupla. Mas ela não sabe ficar parada. E o tempo passa. E o início torna-se final, e o final início, num ciclo eterno. Ela quebrou, a água escorria por seus olhos e não há central de atendimento para humanos. Mas o carro já está na oficina, o ipod carregou, a net está no ar, e como vocês podem ver, ela está online. Dando choque, mas online. Portanto, cuidado.

**

Da série "não consigo parar de ler": Como fazer uma canção , por Elvis Costello

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Na praia (momento resenha de livros)

Na Praia, do inglês Ian McEwan, começa num quarto de hotel, palco da noite de núpcias de um jovem casal. Os dois são virgens. É o que o leitor fica sabendo na primeira linha do romance. Enfim, sós. Mas Florence e Edward não estão sozinhos, e sim acompanhados de suas histórias. Ele, um rapaz da província, professor de história, tem uma mãe com problemas mentais, e um pai que é professor do ensino médio. Ela, promissora violinista de família abastada, tem pai industrial e mãe professora de filosofia na Universidade de Oxford. Como se não bastasse carregarem em suas bagagens particularidades e diferenças , também sofrem o peso da moral vigente da época. O romance se passa em fins da década de 60, logo antes da chamada revolução sexual. Um tempo em que a sociedade dizia uma coisa, e o corpo, outra.
Lentamente, McEwan narra a noite das núpcias dos dois jovens que ali, parados, inexperientes, não sabem o que fazer. A história é simples: a primeira vez de um jovem casal. Mas o narrador vai construindo a cena com tamanha delicadeza que captura o interesse do leitor. Descreve um beijo, que poderia ser mostrado com apenas oito dígitos, em página inteira. Isso porque detalha cada momento, com minúcias: "Com os lábios firmemente colados nos dela, devassou-lhe o fundo carnudo da boca, e em seguida fez um movimento circular por trás dos dentes da arcada até o vazio onde três anos antes um dente de siso crescera torto, para acabar removido sob anestesia geral". A história entrelaça sensações e sentimentos que se misturam com as sensações e sentimentos do próprio leitor. A precisão dos detalhes faz da cena principal quase um ensaio de cinema. A narração é construída de modo a que sejam dadas informações da vida dos personagens, adiando desse a concretização do ato em si. Com isso, o narrador cria um jogo temporal que justifica os medos e angústias dos personagens diante da sua própria castração. O que é fundamental, já que são as suas historias que eles carregam para dentro do quarto de hotel. As diferença ficam claras. Apesar de ambos terem passado a adolescência em Londres, cada um tem o seu mapa da cidade. Um definitivamente não coincide com o do outro. Enquanto ela mora em um albergue severo para moças, praticando quatro horas de violino por dia, ele estuda história do outro lado da cidade, com os hormônios ávidos para se libertarem. Ela ouve os clássicos: Mozart, Beethoven. Ele: Stones, Beatles. Então, estão eles lá, no quarto, com suas diferenças, frente à frente, tentando ao máximo esconder seus medos. O medo dele vinha da ansiedade, da inexperiência. O dela vinha de sua rigidez, de sua sensibilidade feminina. Os dois medos não se entendem. Ele, ingênuo demais, é um homem no cio. Ela, racional demais, sente dificuldade de se entregar. Por terem tempos diferentes, ela se sente oprimida pelas expectativas dele e, interrompendo o sexo, sai em disparada em direção à praia. Ele, humilhado, vai atrás. Ela precisava de um tempo para entender. Ele queria explicações dela para entender.
A retomada da cena é uma revisão da vida dos personagens. Revisão que passa lentamente, como que para dar sentido às escolhas feitas no passado. Sabemos que a cena já se perdeu no tempo quando, mais velho, Edward retoma o momento de suas núpcias não realizadas. O narrador, que antes era democrático, agora fala pelos sentimentos revisitados. É como se, dando um gosto de presente à cena passada, tentasse dar sentido a sua vida, que corre veloz, em apenas quatro páginas, nas quatro últimas páginas da narrativa.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Um pé depois do outro

Refazer um trajeto significa anotar-se no mundo. Deixar uma pegada, uma bandeira. Refazer um trajeto escava a cicatriz da passagem. Não é apenas o descompromisso da mão única.
Você me faz falta. Você me fez falta antes que eu te conhecesse. Você me faz falta agora. Isso significa refazer um trajeto. Voltar a você e à falta que você me fez e me faz e há de me fazer sempre. Mesmo que eu esteja ao seu lado. Mesmo que eu sinta a sua mão dentro da minha e o seu corpo fabricando ondas de calor. O suor discreto da sua mão dentro da minha.
Há outro modo? Se é preciso (e é preciso) ter você, há outro modo?

E SE não houver outro modo?
E SE a passagem que podemos fazer um pela vida do outro for esta? Apenas esta? A passagem do viajante?
E SE eu continuar a desenhar você obsessivamente, como fiz durante um ano, pelos próximos dez ou vinte ou trinta?
E SE nos encontros não vierem com o rótulo da família, do cartório, da aliança, da hora do jantar, do jornal à porta pela manhãs, das compras de supermercado, dos chinelos ao pé da cabeceira, da tábua do vaso do banheiro, das escovas de dente, da biblioteca e da discoteca, dos recados presos na geladeira, das xícaras de café sobre a pia com um círculo preto ao fundo, da toalha de banho habitual, do habitual lugar à mesa, da marca preferida de xampu, da secretária eletrônica, da regulagem da torradeira e do retrovisor do carro, das contas ao final do mês, dos amigos em comum?
E SE for preciso assumir a fragilidade de nós mesmo na fragilidade daquilo que somos juntos? Viajantes?

(...)

A viagem nos ensina algumas coisas. Que a vida é o caminho e não o ponto fixo no espaço. Que nós somos feito a passagem dos dias, dos meses e dos anos, como escreveu o poeta japonês Matsu Bashõ num diário de viagem, e aquilo que possuíamos de fato, nosso único bem, é a capacidade da locomoção. É o talento para viajar.

:: Transcrever aqui este trecho de Adriana Lisboa, em Rakushisha, foi inevitável. Estou contaminada pelo que estas palavras significam lado a lado. Não consigo parar de repeti-las, e de lê-las, relê-las. Para andar, basta colocar um pé depois do outro. Um pé depois do outro. Não é complicado. Não é difícil. Dá para ter em mente pequenas metas: primeiro só a esquina. Ou a melhor das viagens, aquela em que não é preciso sair do lugar.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Maracujá, abacaxi, melancia e um limão OU O dia em que ganhei um cd do Songoro Cosongo

Misturado com cachaça fica muito bom. Esse é o nome do CD da banda mais Pan-Americana do mundo. Isso é quase tudo o que eu sabia sobre o Songoro Cosongo. Sabia que eles se encaixavam na categoria "opções culturais" de qualquer um dos 41 países da capa da revista Programa desta semana - que sugere comidas, bebidas e opções culturais relacionadas a todas a nacionalidades que estão no Rio para o Pan. Se encaixava em Antigua e Barbuda, mas o rugby é o esporte mais praticado nas ilhas. Ficaria bem em na Bolívia, se não tivesse que atirar o primeiro poncho quem nunca topou com o grupo de música andina que adapta ao seu estilo sucessos do pop internacional, como My heart will go on, da Celine Dion, na Rua São José. Seria dança perfeita para o Suriname, se a maioria do povo não fosse hidu. Assim, o Songoro Cosongo foi obrigado a definir a República Dominicana. Outra coisa que eu sabia sobre o grupo, é que eles se apresentaram no Circo Voador, no dia 24 de maio. Mesmo dia em que escrevi "Anjos do Picadeiro", sobre o romance dos palhaços Maku e Chaco. O post terminava assim: "Quem ainda está sem programa para esta sexta à noite, e estiver precisando dar umas boas gargalhadas, poderá assitir ao espetáculo de Chaco e Maku, na Noite de Gala Anjos do Picadeiro, na Fundição Progresso. E quem sabe, depois, a boa risada pode dar bons frutos durante o show do Songoro Cosongo, um septeto formado por músicos da Venezuela, Colômbia, Chile, Argentina e Brasil, residentes no Rio. Dizem por aí que a banda tem um estilo musical inconfundível: Psico Tropical Music. Você sabe o que é? Nem eu. " Pois é, hoje eu descobri. Descobri tudo e não sei explicar nada. Descobri que eles são bons, parecem chorinho, mas me fazem gargalhar. Me imaginar dançando Psico Tropical Music a dois me faz gargalhar. Provavelmente dançar ao som de uma banda chamada Songoro Cosongo vai fazer as minhas bochechas e a minha barriga doerem de tanto rir. E essa é uma das minhas sensações preferidas. Se for misturado com cachaça então....

sábado, 14 de julho de 2007

Queimando o livro (até a última ponta)

Pense como um mané e conquiste o seu mané*

Americana maluca lança livro em que diz, entre outras coisas, que na primeira transa as mulheres só devem fazer papai-e-mamãe. E também aconselha que as mulheres enganem os homens. Faça respiração de ioga para ler esse texto

Nunca um livro causou tanta indignação na equipe da TPM como Pense como um homem e conquiste o seu, de Giuliana DePandi. Prontas para as pérolas? "Não se mostre muito interessada em crianças, bebês e cachorrinhos. Não fique toda melosa - ele vai achar que você está louca para ter um filho." E, na dica 24, assusta de novo: "Na primeira transa, não faça nada ousado demais. Você vai ficar parecendo uma vadia. Fique no papai-e-mamãe o máximo possível... Sempre que ele tentar alguma coisa ousada, diga a ele que está com vergonha, assustada ou que aquilo parece 'indecente'. Sim, finja que você é frígida, não goze, não aproveite. Homem não gosta de mulher que gosta de sexo e o que importa é agradá-los para conseguir casar, nos ensina a autora deturpadora! "Nunca, de jeito nenhum, beije no primeiro encontro" (bem, então não é primeiro encontro). A pior de todas: "Não termine o namoro, a menos que tenha outro em vista." Ela diz que a gente deve, enquanto está namorando, ter um substituto em mente. Claro, esse homem estepe deve ser mais gostoso (ou mais rico) que o anterior. Vamos queimar este livro com toda a nossa ira!
*Nina Lemos, para TPM nº67

Se a minha mãe falasse inglês, eu teria certeza que ela andou conversando com essa tal de Giuliana. Será que elas se falaram em francês? É bem verdade que há anos mamãe tenta me ensinar algumas dessas regrinhas. É mais verdade ainda que no final da conversa eu sempre acabo fazendo o que quero, mas admito que muitas vezes o que quero é segui-las. Não porque esteja querendo conquistar o mané, mas porque simplesmente não rolou clima suficiente para um beijo no primeiro encontro (e isso não significa que não vai rolar no segundo); porque crinças e cachorrinhos não me interessam at all, já bebês é outra história; porque às vezes eu realmente fico com vergonha quando os meninos tentam algo ousado (e até tenho ataques de riso); porque são tantas as vezes que tenho preguiça de explicar pro cara que não concordo nadinha com o que ele está falando, que prefiro concordar do que entrar numa discussão infinita, que possa até desagüar no fim do namoro. E aí ferrou, porque como sou uma das pessoas mais monogâmicas que conheço, nunca tenho um estepe. Ou pelo menos, nunca SEI que tenho um estepe.

Otras cositas más que mummy tenta me ensinar há 24 anos e que eu teimo em não aprender: Mulher baixa deve sempre andar de salto alto, mas meus pés não agüentam. Mulher não deve ir a programas com a mesma roupa do trabalho, antes de ir, deve sempre passar em casa para tomar um banho. O que ela não entende é que o trio hora extra, não remunerada, é claro, + trânsito + túnel ou niemeyer não permite. Mulher que é mulher não vai a encontro de alguém, esse alguém sempre deve buscá-la em casa. No encontro, assim como em festas, mesmo que esteja com muita fome, a moçoila não deve se alimentar, nem beber. Mesmo se estiver muito irritada, é expressamente proibido levantar a voz ou ser de alguma forma ríspida. Mulher não fuma em pé (vai entender?!). Mulher não deve ganhar ou trabalhar mais do que o homem, nem ter muita opinião sobre nada. A frase "Sim, meu amor", seguida de um leve sorriso entre os lábios, bem no estilo Monalisa, deve ser a frase mais usada por uma mulher maravilha. O dinheiro de uma mulher não deve ser gasto em livros, mas sim em acessórios e roupas. Mas atenção: roupas da Maria Bonita Extra, modelitos com volume ou que sigam muito a moda, não valem. Homem gosta mesmo é de mulher clássica, e nos piores casos cafona, já que preferem as roupitchas apertadas. Mulher com M maíusculo deve sempre estar com cabelos penteados, unhas feitas, cheirosa, maquiada e com a depilação em dia. Não importa se você acabou de passar duas semanas na Amazônia: se você não é macho essas são apenas algumas de suas obrigações. Aliás, Amazônia só se for em hotel 5 estrelas.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

De bolo de laranja, nem as formigas gostam OU O mistério das formigas gigantes

Este não é um texto sobre aquele filme que eu esqueci o nome, mas tenho certeza que lembrarei assim que desligar o computador. Aquele, em que as crianças encolhem e encontram as formigas gigantes. Todo inverno me sinto um pouco como aquelas crianças. Observo o comportamento das formigas gigantes. Já tenho conhecimento suficiente para escrever a continuação de AntZ. Há mais de dez anos é a mesma coisa. No início do inverno elas começam a reconhecer o terreno. Geralmente o terreno é a estante do meu quarto, acho que por causa do acúmulo de livros e papéis. Uma das coisas que aprendi com a observação do comportamento das formigas gigantes que aparecem no inverno é que elas fazem ninho, formigueiro, sei lá, em lugares onda haja papel. Provavelmente o papel deve absorver a umidade do ar e criar um habitat parecido com a terra úmida. Ano re-retrasado descobri um ninho de formigas gigantes dentro de uma caixa de papelão cheia de fotos. Ano retrasado elas escolheram as pastas aonde eu guardava xerox antigas da faculdade. Até que foi um bom pretexto para que eu me livrasse da papelada. Ano passado, elas voltaram às caixas de papelão. Já tomei as devidas providências e as substituí por plástico. No entanto, esse ano algo muito estranho está acontecendo. Não consigo descobrir onde elas estão construindo o ninho. Depois de todos esses anos, acho que elas já me conhecem. Quando eu me aproximo para observá-las, elas brincam de estátua. As formigas gigantes nunca estão sozinhas, mas são espertas o suficiente para não fazerem fila revelando o esconderijo. Essa semana encontrei um par delas dentro da gaveta de revistas da mesinha de cabeceira. Nada de formigueiro ali. Tirei todas as gavetas, arrastei o móvel e não achei nada. Esta noite, ao acender a luz para matar um pernilongo - que conseguiu fugir e me obrigou a ligar o ar-condicionado em pleno inverno e a colocar uma colcha extra por cima do meu edredom de pena de ganso -, me deparei com um trio das marronzinhas andando pela parede atrás da minha cama. Fui obrigada a investigar. Ao me verem, elas congelaram. Fiquei com pena de matá-las, se eu acabar com a vida delas, nunca saberei aonde é o esconderijo. Estou desconfiada do forro da cabeceira da minha cama. Quando o ar-condicionado estava quebrado pingava no forro. O tecido deve ter ficado úmido. Habitat perfeito para as formigas gigantes que aparecem no inverno. Mistério a ser solucionado.

:: Ao contrário do que dizia a escritura na parede do Les Artistes, as formigas gigantes gostam muito de bolo de laranja. E eu também, principalmente se tiver aquele açúcar por cima. Devo ser uma formiga gigante. Aliás, nunca mais comi um bolo de laranja como o do Vicente.

:: Lembrei: Querida, encolhi as crianças.

sábado, 7 de julho de 2007

O grito

Macy Gray acabou de mandar all the beautiful people scream. As minhas cordas vocais quase arrebentaram. É uma boa sensação gritar sem razão, ainda mais quando não há ninguém em casa. Às vezes entro no elevador e fico tão são graça que penso qual seria a reação das pessoas se eu gritasse bem alto. Gritar no meio do vagão do metrô também não é uma má idéia. Essa noite sonhei que pulava de pára-quedas, mas não gritava. Estava em uma praia meio deserta, um lugar que eu nunca fui, mas que recorrentemente está presente em meus sonhos. Ela fica atrás de uma grande pedra, o mar é verde. Algumas pessoas estão presentes. Familiares e pessoas queridas. Ninguém tem coragem de pular. Eu tive. É necessário correr riscos para ter com o que se surpreender. Uma coisa que eu gosto é de surpresas. Entrei numa biblioteca escondida num sótão, cheia de coisas guardadas, abri uma janela e encontrei um deque. Um senhor me deu o pára-quedas. Quem me acompanharia no pulo era um cachorro. Pulei e tive a sensação real da queda livre. A água verde transparente amorteceu o choque com a terra, ou melhor, o mar. Nessa hora um desses meninos sem imaginação poderia ter perguntado se eu tinha caído do céu, porque parecia um anjo. Fiquei presa no tecido do pára-quedas. Um peixe que caiu na rede. Sereia? Não me afoguei. Eu quero viver. Viver num filme francês. Quero um capítulo em Paris, eu te amo só para contar as minhas histórias. Seria um filme coletivo sobre o que é viver, feito com retalhos de memória. A última cena definitivamente seria o grito ao infinito.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Depois do rosa blush, a moda é azul bic

Quando a gente menos espera vem uma poerinha e cai no nosso olho, mudando todos os conceitos primordiais da visão humana. Essa é a principal lei de Murphy, toda partícula que voa encontra um olho. Mas para isso o olho deveria estar aberto. O meu nem tava tanto, acho que tava piscando, mas mesmo assim a micro-partícula entrou. Desde então nada tem sido o mesmo. Ainda estava bem cedo quando decidi sair de casa usando os óculos de grau, aqueles mesmos que uso para ficar em casa. Virei a esquina e lá estava ele. Aposto que só porque estava usando os tais óculos caseiros, só porque a poerinha entrou no meu olho, só porque o mundo tem se mostrado diferente nas últimas semanas. E logo agora, que eu já esquecera de procurá-lo em cada esquina, de o confundir com cada corpo moreno correndo na praia, com cada olho verde, com cada risada gostosa, aperto carinhoso, beijo molhado. Já tinha até esquecido como era bom deitar em seu peito, o Flamengo já estava perdendo a importância e Jeeps não chamavam mais tanta atenção. Tudo estava ganhando mais cor, as lentes de contato tinham ficado ao lado da pia do banheiro. Passei longe, camuflada entre as cores da cidade aos primeiros raios de sol da manhã. Não dá para usar óculos escuros por cima de óculos de grau. O fundo dos meus olhos doem com a luminosidade do dia de sol. Acho que não estavam mais acostumados a tantas cores. Meu segredo é ter olhos verdes e ninguém saber, como a Clarice. As imagens ainda estavam meio turvas devido a claridade da vida nas últimas semanas, mas mesmo assim eu consegui ler a contracapa daquele livro perdido naquela mesa cheia de livros. No topo da pilha de cores. Capas coloridas estão na moda. Uma história de amor narrada por alguém que tenta se enviar para Anna em palavras. Alguém é a multiplicidade de si mesma, enrodilhada em nossos temores e alegrias efêmeras. Seu estado é sempre o de um equilibrio precário, como os objetos do quarto onde se encerra e gira infinitamente, como amor que busca sem cessar, como a própria existência da escrita, as palavras rudes e deslizantes expondo seus limites mas também incitando o leitor a mergulhar em sucessivos devaneios críticos com sabor de redenção. Acho que é isso. Tenho tentado me enviar a mim mesma, mas não consigo. Não reconheço o remetente, o destinatário e muito menos o endereço.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Sete razões para amar morar no Rio

Mesmo no inverno, poder ir à praia de manhãzinha. Na saída da praia, esbarrar com o Chico Buarque caminhando no calçadão de pedras portuguesas. Andar o dia inteiro de havaianas e só precisar calçar sapatos na entrada do escritório. Reconhecer carros de amigos na rua. Sentir-se morando numa aldeia. Terminar o dia com a visão da lua iluminando o mar.
Enfim, ter uma vida à la bossa nova.

sábado, 30 de junho de 2007

Dans l'ascenseur

Antes de Love Story ser praticamente a casa de todas as casas, é um filme de amor onde a moral da história é que amar é não precisar pedir desculpas. É justamente aquilo que eu digo, um pequeno gesto vale mais do que mil palavras.

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O meu olho arde quando fico com sono. Sei que não é desculpa, mas não tenho conseguido me concentrar em nada ultimamente. Acordo e fico enrolando na cama. Quando percebo uma hora já se passou. Tem dias que chego do trabalho e sento na poltrona do meu quarto. E quando percebo já é uma hora mais tarde. Ando tendo esse tipo de problema com o tempo. Não sei o que acontece, mas quando meu pensamento pára o tempo voa. Quando quero que o tempo passe, não consigo que o pensamento pare. Cachorro correndo atrás do rabo.

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Venho cultivando um ódio intenso pelo Pan. Pandemônio já dizem alguns. O Rio enlouqueceu e o Pan ainda nem começou. O trânsito já está uma loucura. As vitrines já estão monotemáticas. O jornal idem. A água mineral também. "Petrópolis a água do carioca". Edição especial jogos, com bonequinhos praticando esportes no rótulo. Ridículo. Nem deu pra respirar depois da Copa e ainda inventam o Pan. Verde e amarelo me dá náuseas.

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Funk music Fuck music I like fuck music I don't like elevator music I like music to fuck in the elevator Fuck me in the elevator Fuck me in the elevator :: Ménage à trois ::

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Na minha casa não tem elevador, nem no meu trabalho. Talvez por isso eu não saiba me comportar em elevadores. Nunca sei o que dizer. O elevador tem quatro cantos.

terça-feira, 26 de junho de 2007

A vida debaixo do viaduto

A vida debaixo do viaduto não estava sendo nada fácil. Para começar, tinha que começar. Não tinha papel higiênico, sabonete, nem requeijão. E ela estava cansada. Tão exaurida da rotina de levantar cedo, escolher entre a Niemeyer e o túnel, atravessar o Rebouças, fazer o retorno, sentar ali, procurar palavras, e mais palavras, escrever. Ela queria mesmo é afundar nas palavras, se engasgar com as letras. Mas não, tinha que ouvir vozes por mais de 10 horas diárias. E aquelas pessoas não paravam de falar nunca. Gostaria mesmo é de poder contar quantas palavras escutava por dia. Queria colocar o mundo em mute. Apertou o botão, mas não adiantou:

Você é a favor do poliamor? No futuro seremos todos a favor do poliamor. Na minha faculdade existia um movimento chamado A.T.T., aka, Amigos Também Trepam. Acho que as pessoas deveriam ser evoluídas a esse ponto. O desejo não está ligado apenas ao amor, é uma coisa permanete, o problema é quando temos que renunciar o desejo em nome do amor. Acho que com 26 anos eu tenho que querer tudo. O mundo inteiro me engole. Acho que com 25 anos eu quero só monogamia. Qual é o seu signo? Peixes com ascendente escorpião. Que isso! Nós vamos viver 100 anos! Cem anos nada, quero viver até os 60 no máximo! Temos o mesmo signo e ascendente, somos farinha do mesmo saco. É de alguém aqui esse telefone? É meu. Você deixou carregando aqui? Mas tá demorando hoje, né? essa galera não vai embora nunca. Eu só consigo escrever depois que eles vão embora. Tá uma zona isso aqui hoje. O telefone toca. A tevê fala Aproveite é sem entrada, todas as ofertas anúnciadas na concorrência. Ih, a sua matéria está aí com você? CCBB é em que página hein? Nesta sexta depois do Globo repórter, tem a volta de carga pesada. Posso pegar mais um biscoito. Olha o polenguinhoo. Esse cara da foto aqui é o Marão? Esse cara já fez ilustração pra mim no começo dos anos 90. Ele virou o que?Marrrrcellooo Maraaãooo muito talentoso! Uma leeeenda do jornal. Vou avisar a estagiária que ela deve estar pedindo para colocar coisas lá. Alguém tosse. Solte o seu medo bem devagar, chegue perto de mim. Posso pegar mais um biscoito? Pode, só comi três mesmo. Senta aê, toma um café. Aonde você conseguiu esse biscoito aí? Com ele, quer? Esses muleques ganharam a maior grana, venderam uma parte da empresa para aquela loja. Eu sei. Eles não te contaram? Contaram, mas eu tive que cortar 75% da matéria, acabei perdendo detalhes importante. sete meia dois oito. Qual foto? Coloca a foto de Santa Teresa aê. Se eu for pra lá pra ser fritado... Eu tinha pedido exatamente esse corte na foto. Mas ele não quer. Não quer por quê? Mas aqui ele não trocou nem chamada nem nada. O que é matéria? É a confusão. Aí ele fez as nossas chamadas. A chamada tá cortando. É a rotatividade. De namorados?

Utopia seria não precisar cortar as palavras pelo simples fato de não precisar delas.