terça-feira, 11 de setembro de 2007

Próxima parada: Piauí

O dia começou às 6h30. O café esfumaçante não estava na xícara de porcelana, nem no bule de prata, nem na garrafa térmica. A água não fervia na boca do fogão. A certeza de que seria um dia arrastado se instalou. Vestida com o uniforme escolar, minha irmazinha comia pão com manteiga e leite com Nescau na mesa da cozinha. "Já tá na hora de você aprender a se mexer de manhã...", me repreendeu. Decidi não tomar o café.

Antes mesmo que eu tivesse tempo de escolher entre o túnel e a Niemeyer o telefone tocou. (Eram 7h14): Anna? É, quem fala? Vocês está dirigindo um Peageut azul? Sim, quem fala? Eu sou oficial de justiça. Estou dirigindo o astra prata atrás de você. Como? Olhe pelo retrosivor, esse dando tchau sou eu. O seu porteiro me avisou que você estava no carro que saiu logo que eu cheguei, então resolvi te seguir. Sei.... Você pode, por favor, encostar o carro? Escuta aqui amigo, pra começar aqui não tem onde encostar, estou indo pra Ipanema, se você quiser me seguir até lá, fique a vontade. Mas tá vendo que tá trânsito, né? EU só preciso que você assine esse papel...

Encostei o carro. Abri o vidro sem dizer uma palavra. Ele veio animado.

Muito bom dia, Anna. Olha que sorte a minha conseguir ter te achado no meio desse montão de carros! (ele estava sorridente. Me deu o papel.) Só preciso que a senhora assine esse mandado de intimação, no qual o senhor seu pai pede exoneração de pensão alimentícia. Não esquece de colocar o número da identidade e data ao lado, tá? Você não acha incrível que eu tenha conseguido alacança-la? Quando eu contar lá no Fórum ninguém vai acreditar!

Continuei muda. Assinei o papel. Ele ficou parado, me olhando.

Me desculpa, seu oficial, gostaria muito de comemorar essa vitória com o senhor, mas são 7h25 da manhã, estou atrasada pro dentista, não tomei café e pelo visto não vou poder tomar nunca mais, já que o meu pai não quer mais pagar a minha alimentação. Tenha um bom dia.

Deixei ele parado ali mesmo, no meio da rua. Escolhi a Niemeyer. Não sei porque, mas sempre que estou chorando escolho a Niemeyer. Dessa vez foi uma boa escolha, 7h50 estava procurando vaga em Ipanema. Vaga! Cone na vaga. Outra vaga! Dois cones na vaga. Vaga!Ignorei o cone. O flanelinha veio falar comigo.

Não pode parar aí não, tia. Não tá vendo o cone? Tô vendo sim. Mas a vaga é pública e se eu quiser parar nela eu páro. (engatei a primeira. o cara tirou o cone) Dá uma ajuda pelo menos aí na volta, tia? Não. Não? A rua é pública meu amigo. Qualquer pessoa que se aposse dela assim não ganha nem um centavo vindo de mim. Mas eu tirei o cone pra senhora estacionar! Se eu não tivesse tirado, o que a senhora ia fazer, passar por cima? ô gente mal educada! Não, eu ia tirar eu mesma. (morri de medo, mas deixei o carro ali mesmo).

Essa é a radiografia da sua arcada dentária. Seu ciso inferior direito está incluso e inflamado. Vamos ter que extraí-lo, disse o dentista. Eram 8h15, o dia estava apenas começando.

Às 14hs tive a notícia que justificaria a total insanidade dos acontecimentos até então: Fui escalada para cobrir o campeonato brasileiro de kite surf, em Luís Corrêa, há 6 horas de carro de Teresina, no Piauí. Surreal.

Aguardem cenas dos próximos capítulos.

2 comentários:

Mariana disse...

nossa... muito acontecimento pra nem metade do dia ainda ser...

eu passaria numa igreja para uma benção, sei la... apelaria pro pai nosso que está no céu, pq "tá brabo" hein braile...

beijinhos!

Pedro Lago disse...

Fantástico!!!