A quase 3 mil quilômetros do Rio, na cidade de Luís Correia, no norte do Piauí, o vento sopra forte, entorta árvores e embaraça os cabelos. O sol seca a carne do boi e do homem, enruga a pele, e quem esquecer de passar protetor solar nas pernas brancas corre risco de ficar que nem tomate assado. (Tomate assado é a versão nordestina para carolina recheada, ou seja, eu). A estrada de terra leva ao infinito, a estrada de areia se move com o vento e cobre a estrada de terra, o vento sopra a areia, a areia caí no olho de quem não usa óculos escuros. (Dessa eu me livrei. Em Luís Correia não há farmácia para comprar colírio). O vento leva kitesurfistas às alturas, que por sua vez levam jornalistas à loucura.
Os quase 3 mil quilômetros de distância entre a cidade maravilhosa e a cidade aonde o vento faz a curva são percorridos em mais de 12 horas de viagem. Tempo suficiente para repensar a vida inteira e considerar a hipótese de começar a praticar kitesurf. Tempo para perceber que o cara espremido ao meu lado no avião tem uma garrafinha de uísque dentro da bolsa e já tomou 3 Xingu. Tempo para notar que o Brasil é uma terra imensa e que se leva menos tempo para chegar na Ásia. Tempo para ouvir 634 músicas no ipod. Tempo para decidir pular pela saída de emergência, e decidir voltar atrás.
Não vi jacaré no igarapé, nem comi acarajé, mas tive que voltar de macha-ré quando o jipe atolou e fiquei cheia de lama no pé. (amei isso). Aprendi que cajú mancha; que só neutrox solta nó; que wave, regata e freestyle são categorias da competição de kite; que viajar sozinha deixa a pessoa carente; que nem eu me aguento carente; que quando a pessoa se enturma já está na hora de ir embora. (Isso me lembrou colônia de férias, e eu achei melhor ir embora mesmo, antes que os pesadelos infantis retornassem das profundezas do meu ser: PERIGO TOTAL).
Nenhum comentário:
Postar um comentário