domingo, 2 de setembro de 2007

Dia nada estranho, sem gente esquisita

Quando o telefone tocou, o domingo chuvoso despertou.

E aí, amiga, o que você achou dele?
Achei que vocês formam o casal perfeito.
Você tá dormindo?
Agora já acordei, pode falar.
Jura? Fala mais então, você tava vendo tudo de camarote.
Então, acho que ele é o cara, vai fundo.
Você acha mesmo?
Sei bem que vi o clima chegando. Da minha mesa dava pra ver a mão dele hesitando em tocar na sua perna. E eu bem que vi ela tocando...
Risos
O beijo foi bom?
Foi incrível. No bar, no carro, na garagem, no elevador, no hall. Ai amiga.... Acho que ele é o cara.
Tô falando... Então. Vou levantar e te ligo pra gente fazer algo.
Ih, não vou poder, chá de panela.
Aí que saco, de novo. Essa gente não acha que somos muito novas pra casar, não?

***

Oie. Pode ir me contando tudo da noite de ontem.
Incrivel, Anna
To passando aí em cinco, vamos tomar café.

Estacionei enquanto ela não descia. Normal, ela sempre demora para descer. Do outro lado da rua, dois meninos faziam a mudança. Alugaram uma van tipo sacola da Mary Poppins. Colchão de casal, duas poltronas, dois quadros, mesinha de computador, mesa de centro, abajur, uma casa inteira saia dali. Eles engenhosamente tiravam peça por peça, desse jeito que só homens sabem fazer. Porque homem que é homem, pega carro emprestado pra fazer mudança, carrega a casa numa sacola, dá marcha-ré como ninguém, deixa a barba por fazer, quando toca: toca, anda de bicicleta e, definitivamente, sabe cortar birra de mulher. Já sei que a dupla aí sabe fazer mudanças. E eu bem que estou precisando de uma. Precisando começar um novo filme. Se alguém souber o andar deles, na Nascimento Silva, por favor, avise. Eu gosto de decorar.

****

Assim começou o domingo. Assim continuou o domingo. Meninos de roupa de borracha olhando o mar. Meninas olhando meninos olharem o mar. O mar. O vento. O cinema às 16h30. As lágrimas às 17h15. O insight simultâneo. Tudo tem que mudar, e mudar agora. Fim do filme. Rosto inchado. Não é nada disso que eu esperava. Férias com chuva devem significar o fim dos novos tempos. Fim das noites de três pessoas dançando na Pista 3. Aonde é o baço? Dói embaixo da minha costela esquerda... fígado? Se eu tirar uma costela, viro uma nova mulher? Conseguirei dormir mesmo sabendo que não há compromissos para o dia seguinte? O que fazer com o dia seguinte? Meus olhos abriram as 5h15. Não posso me atrasar para o trabalho. Só que é domingo, e mesmo já fosse amanhã, estou de férias. Estresse? Não quero trabalhar, quero dançar, correr 10 km, ler, ler, ler, ioga, roupas novas, dvds, beijo na boca e noites bem dormidas. E os sonhos atrapalham. Os sonhos das noites também. Eu não to legal, quero mais birita.

3 comentários:

Anônimo disse...

como sempre, interessantes e muito bem escritos...adorei !
beijos p/ voce,carol.
pathy

Anônimo disse...

Como meus comentários são extremamente episódicos, vou condensar tudo aqui, em vez de seguir a ordem dos textos:

1- Antonio Prata!?... você costumava a ser mais crítica. (cadê aqueles velhos irritantes que escrevem tão bem a ponto de pensarmos em desistir dessa sina; Saramago, Borges, etc, etc)

2- Nunca é tarde para reconhecer a genialidade dos Simpsons.

3- Tudo é igual a tudo e tudo é diferente de tudo (essa é uma lei ontológica básica). Portanto, não se preocupe com as repetições e as diferenças; preocupe-se com o olhar que as identifica. Interessante como esse é um tema recorrente para você... já reparou nisso?

4- Grande evolução! Seus textos estão cada vez mais fluentes - só sinto falta de uma ficção mais elaborada (cadê os contos?).

Bjs,

Felipe

Isabella Heine disse...

Incrivel Anna! :)