sexta-feira, 6 de julho de 2007

Depois do rosa blush, a moda é azul bic

Quando a gente menos espera vem uma poerinha e cai no nosso olho, mudando todos os conceitos primordiais da visão humana. Essa é a principal lei de Murphy, toda partícula que voa encontra um olho. Mas para isso o olho deveria estar aberto. O meu nem tava tanto, acho que tava piscando, mas mesmo assim a micro-partícula entrou. Desde então nada tem sido o mesmo. Ainda estava bem cedo quando decidi sair de casa usando os óculos de grau, aqueles mesmos que uso para ficar em casa. Virei a esquina e lá estava ele. Aposto que só porque estava usando os tais óculos caseiros, só porque a poerinha entrou no meu olho, só porque o mundo tem se mostrado diferente nas últimas semanas. E logo agora, que eu já esquecera de procurá-lo em cada esquina, de o confundir com cada corpo moreno correndo na praia, com cada olho verde, com cada risada gostosa, aperto carinhoso, beijo molhado. Já tinha até esquecido como era bom deitar em seu peito, o Flamengo já estava perdendo a importância e Jeeps não chamavam mais tanta atenção. Tudo estava ganhando mais cor, as lentes de contato tinham ficado ao lado da pia do banheiro. Passei longe, camuflada entre as cores da cidade aos primeiros raios de sol da manhã. Não dá para usar óculos escuros por cima de óculos de grau. O fundo dos meus olhos doem com a luminosidade do dia de sol. Acho que não estavam mais acostumados a tantas cores. Meu segredo é ter olhos verdes e ninguém saber, como a Clarice. As imagens ainda estavam meio turvas devido a claridade da vida nas últimas semanas, mas mesmo assim eu consegui ler a contracapa daquele livro perdido naquela mesa cheia de livros. No topo da pilha de cores. Capas coloridas estão na moda. Uma história de amor narrada por alguém que tenta se enviar para Anna em palavras. Alguém é a multiplicidade de si mesma, enrodilhada em nossos temores e alegrias efêmeras. Seu estado é sempre o de um equilibrio precário, como os objetos do quarto onde se encerra e gira infinitamente, como amor que busca sem cessar, como a própria existência da escrita, as palavras rudes e deslizantes expondo seus limites mas também incitando o leitor a mergulhar em sucessivos devaneios críticos com sabor de redenção. Acho que é isso. Tenho tentado me enviar a mim mesma, mas não consigo. Não reconheço o remetente, o destinatário e muito menos o endereço.

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