sexta-feira, 3 de agosto de 2007

A vida debaixo do viaduto II

Quando vi um trio de formigas gigantes passeando pela tela do computador da redação, meu cérebro congelou e tudo o que consegui pensar foi na estranha razão pela qual esses insetos de médio porte atravessaram dois túneis e resolveram me acompanhar em mais um dia de labuta. O que eles levariam de mim desta vez? Tentando descobrir o motivo da invasão, desempilhei os jornais velhos, vasculhei a gaveta lotada de releases, desorganizei os catálogos das exposições, fiz uma limpa nos convites e atá apaguei e-mails datados. De nada adiantou. Esse ano elas estão impossíveis. Darwinianamente desenvolveram capacidades de construirem um ninho invisível ao meu olhar. Só mais tarde descobri o que mudaria naquele dia. A Bella foi embora. Acordou numa manhã de sol, olhou para o mar de Ipanema e decidiu de uma vez por todas que três meses vivendo debaixo do viaduto já eram mais do que suficiente para exaurir sua experiência jornalística. O processo de despedida foi simples. Basicamente, oi e tchau, estou aqui mas já de saída, bom dia e boa sorte. A Bella du jour pegou sua bolsa e sem olhar para trás se foi, deixando para sempre mapas astrais sem interpretação, pautas sem conclusão e uma parede de tijolinhos de artes plásticas por ser construída. Em compensação, sentiu-se livre. Free Bella. Foi viver o começo do fim de sua vida. Desde então a vida ali debaixo não tem sido a mesma. Vide o e-mail que circulou na redação a tarde de hoje. Devida a questões autorais, os nomes mencionados foram alterados. Segue o texto:

"Tá todo mundo arrasado com a saída da Bella, inclusive o XYZ. Apesar de sua blusa mamãe-sou-forte de cor coral florescente com bordas brancas denotar felicidade, as olheiras e a caixa de lexotan sobre o teclado transparecem seu real estado de espírito. Na verdade, não é fácil adivinhar o que o XYZ sente. Ele que passa os dias alheio aos gritos da Valéria, ao vento encanado do ar-condicionado e aos toques do celular das peruas do comercial, de olhos virados para a tela do PC, que por sua vez está virado para a parede. O sentimento de solidão e isolamento total das coisas do mundo se agravou qd soube que sua companheira de aventuras no fechamento da Programa, com quem esbarrava cotovelos há menos de três meses, se iria para sempre. Cogitou se matar. Visitou sites que falavam de magia negra e outros que calculavam o tempo exato que uma pessoa leva para morrer ao se jogar do primeiro andar da Brasil. Cogitou mergulhar fundo nas águas turvas e rasas do canal da Paulo de Frontin até que a última micrograma de oxigênio se esvaisse do corpo já vazio de esperança e joir de vivre. XYZ nunca irá se recuperar deste trauma. Nem com terapia comportamental, nem com bioenergética, nem com astrologia".

E mais conversas estranhas rolaram no msn entre cinco jornalistas:

Braile tá se sentindo excluída; ela faz umas correntinhas rasta na nossa comunidade; contextualizando; é q a gente vai pra santa, mas não é pra explanar nossos planos; desculpa esfarrapada; a gente vai virar uma comunidade braile; não se esqueçam que eu praticamente já morei em santa; é uma sociedade alternativa secreta; hj à noite; uma comunidade braile?; na cs do sé; pra kátia cega; como é isso?; cega e nua; braile já foi hippie; é verdade, passava todos os fds em santa; parapan; então jah eh; (símbolo de bonequinhos dançantes); (símbolo de menininha balançando a cabeça); (símbolo de homem de barba branca alisando a barba); olha a sacanagem; q sacanagem?; pai mei é o poder; é que eu to atrasada; cega e nua; a flávia tá com a bunda formigando; eta; qq coisa tb tem a baiana de acarajé embaixo da minha casa; zappa quebra caneta!!; acarajé!; vamos logo então, tchurma; estou indo nessa, tenho q dar uma passada na casa dos meus pais e dps encontro vcs, a Braile incluída; flávia só vai se for agora;
ela é mandona pra caramba; eu decreto, eu mando nesta merda; 1,2,3, levanta; vamos todos pra santa; xiiiii; eu não vou, já deixei de ser hippie há tempos; eu sou a chefinha; Rafael saiu da conversa; lá a gente brinca de pique; a zappa é minha testa de ferro; eu vou na minha festa high socciety; sobe nas árvores; vestida de estola de esquilo; não; vou sair dessa zona; muita fofocada; Carlos saiu da conversa; bjoooo e bom fds.

Um comentário:

Helena&Luis disse...

Hahaha, passando mal de rir agora.
CZ