sexta-feira, 12 de junho de 2009
A felicidade pode vir numa caixa
Eu tinha vinte e seis anos no dia em que ele colocou a caixinha em cima da mesa. A caixinha de papelão em cima da mesa redonda do bistrô vazio. Todos os meus sonhos dentro da caixinha de papelão naquela noite chuvosa. O resto da minha vida naquela noite chuvosa. Ele disse “não vai abrir?” e eu pedi um tempo. Só mais alguns minutos para observar todos os meus sonhos dentro da caixa. “A felicidade está ao alcance de todos”, eu disse certa vez a uma amiga. Estávamos dentro de uma grande loja de roupas a preços populares e ela acabara de me mostrar um anel de brilhantes de plástico. “Felicidade para você se resume em recebe um anel de brilhantes?”, ela perguntou. Caímos na gargalhada e a frase ficou grudada na minha cabeça. Não muito tempo depois, eu tomava vinho tinto em um bistrô vazio, numa noite chuvosa de abril, quando a caixinha foi posta sobre a mesa redonda. Eu queria ficar para sempre olhando a caixinha de papelão azul e branca. Sabia que aquela não era só mais uma caixa, que um anel não era felicidade, que ele não seria mais meu namorado. O segredo era o significado por trás do gesto. Naquela noite chuvosa de abril, uma caixinha de papelão era uma escolha de vida, o anel era um pedido de cumplicidade, ele era o homem com o qual eu passaria o resto da minha vida. E por isso eu relutei em abrir a caixa, na tentativa de aproveitar ao máximo aquilo tudo. Antes que ele ajoelhasse ao meu lado, antes que meus olhos enchessem de lágrimas, antes que ele perguntasse se eu não ia dizer que sim, antes que eu respondesse que ele não tinha pedido nada, antes que as palavras “você quer casar comigo?” saíssem da boca dele. Antes que fôssemos felizes para sempre. Por que momentos como aquele, só acontecem uma vez.
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