quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

É preciso se lembrar


Primeiro é preciso se lembrar como se faz. Escrever.


Não foi a primeira vez que entrei na casa de alguém que não conhecia. A profissão exige. Entrar na casa de um estranho à tarde pode ser bem invasivo. Ainda mais quando não se está sendo esperado. Ainda mais quando é hora do almoço, quando alguma coisa está no fogo, quando tem bife, arroz, feijão e batata. Quando a luz entra pela janela e bate direto no sofá. Quando é verão e tem brisa. Quando há gatos que, como fantasmas, aprecem sorrateiramente. É preciso chegar à tarde, sem avisar, na casa de quem não se conhece, para de fato capturar a atmosfera. Nada foi preparado. A moeda repousa no cinzeiro. O telefone antigo não toca. Dvds estão empilhados ao lado da televisão, um par de tênis seca na varanda e há roupa no varal. Não que fosse ser diferente, mas é preciso. É preciso esperar por uns 20 minutos na casa de alguém que não te conhece para entender o que se passa. Nunca sente direto no sofá, nem que ele seja de couro, nem que tenha mil almofadas coloridas, nem que tenha apoio para o pé e uma pilha de livros ao lado. É preciso sentar-se de frente para a porta, caso alguém chegue desapercebido. É preciso não cochilar. É preciso olhar cada detalhe, afim de se entender o que se passa na casa de quem não se conhece. 

Nenhum comentário: