“Teve um dia em que achei até um bilhete, amor com rasura e que não segue linha de folha pautada, mas foi realmente dessas coisas que não devem acontecer uma segunda vez” ponto final
Copiei as palavras da escritora Carol Bensimon - do texto Queda, publicado na sessão de ficção inédita da Bravo!, de agosto - esperando que elas funcionassem como um túnel, uma passagem a algum lugar cheio de palavras, sentidos, frases completas que diriam aquilo que há tempos não consigo dizer. Mas se eu fosse Carol, se eu conhecesse a Carol, ia dizer para ela escrever meio diferente.
“Teve um dia em que achei até um bilhete. Era amor com rasura, daquelas que não seguem linha de folha pautada. Mas foi realmente uma dessas coisas que acontecem apenas uma vez”.
Mas não conheço Carol, nem tenho intimidade com as palavras - minhas e dela. Naquela tarde de domingo, em silêncio, li Carol falando sobre a morte, em como há algo tão estúpido no fato de um livro durar mais do que uma pessoa, em como as coisas se transformam, até se tornarem partículas infinitas num universo sem tempo e espaço.
“Antonia vai virar outras coisas, porque outras coisas viraram Antonia antes, mas o que interessa ter restos de estrelas nos ossos ou ir para o fundo do mar na forma de partículas invisíveis?”, ela diz.
Naquela tarde de domingo, mais uma vez, perdi as palavras.
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