Ou , deixa estar jacaré que a maré há de secar
Ou, a vida é mesmo muito estranha
Ou, um quinhão por uma vida regrada
Ou, a partir de amanhã tudo vai ser diferente
Ou, sobre madaleines, macarrons, sushi, padres, zoológicos e astrologia
Quando o despertador tocou às 6h30, como era de se esperar quando o alarme toca, eu apertei o botão que me dá mais cinco minutos na cama e virei para o lado direito, travesseiro em baixo do joelho esquerdo dobrado, perna direita esticada, edredom até a orelha, tudo em seus devidos lugares, só mais cinco minutos não vai ter problema nenhum. Quando virei para o lado esquerdo e estiquei o braço para alcançar os óculos, pegar o celular e olhar as horas, vi que já eram 9h30 e eu estava atrasada de novo. Ah não, começou, e eu não entendo mesmo porque não consigo seguir uma vida regrada de gente normal, com hora para dormir e acordar, gente que não é tão mimada e consegue no mínimo obedecer o despertador e diferente de mim, não faz só o que quer. De hoje em diante eu quero fazer planos e chega de energia gasta com aventuras que não levam a lugar nenhum. Decidida a mudar de vez toda uma filosofia de vida, fiz como dizem os livros de auto-ajuda e a filosofia oriental e comecei pelas pequenas coisas. No café-da-manhã troquei iogurte com aveia por meio papaya, um pedaço de queijo minas e uma xícara de café preto. Talvez o erro tenha sido clicar na página do horóscopo gravada na minha lista de “favoritos”, por que sei, que partir do momento que li as primeiras linhas sobre o dia de hoje, decidi também que não leria mais horóscopo, porque eles estão sempre certos e isso influência muito tudo ao meu redor. O de hoje era uma mistura de “libertar as amarras que prendem a alma ao passado“, com “não acreditar nas coisas que acontecem” e “preguiça adota máscaras enganosas”. Eu que já sentia que seria um dia muito estranho, tinha agora a certeza. “Vivemos num mundo de cobras”, era a frase de uma conhecida no MSN. “Quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré”, a da outra. E o mundo já parecia um zoológico, quando um beija-flor verde garrafa entrou junto comigo pela porta do carro, na boa, eu comecei a não acreditar nas coisas que aconteceriam dali em diante, MESMO. Vamos aos fatos: Um e-mail chega à minha caixa de entrada. “Parabéns pela reportagem, blablablabala … A foto do abre é um dos melhores retratos que vi em toda a história da revista, monalisa pura”. Isso mesmo, a pessoa usou “Monalisa Pura” como adjetivo. Me diga se não é mesmo sensacional. Enquanto isso, o Marechal imprime 20 páginas. Desce para pegar as impressões no andar de baixo. Sobe. Gargalha. Diz: “Monalisa Pura!”. Imprime mais 20. Desce. Sobe. Ri. Diz: “O romance tem 500 páginas, foi recusado por duas grandes editoras. É que Anna, 150 páginas são só de sacanagem”. Imprime mais 20. Desce. Sobe. Ri. Passa os olhos pela página. Diz. “Justamente as 150 que estou imprimindo. Monalisa Pura!”. Gargalha. Monalisa Pura vira sinonimo de maravilha, sensacional, incrível, e o que mais a sua imaginação mandar. Até que os padres da igreja colada ao jornal, começam uma partida de futebol. E como qualquer partida de futebol, o espetáculo fica por conta da torcida, que vibra: “ Olê, olá, São Judas vem aí, e o padre vai pegar” , “Jesus! Jesus! Jesus!”, “ê ô, ê ô, Jesus é o terror!”. Aí o Nelson diz que 33 é veterano, e o Júlio completa que diferente do Pelé, Jesus soube a hora de parar. E piadinhas é o que não faltam, e alguém solta “Monalisa Pura”. E todo mundo ri muito. Aí corre o boato que o estagiário foi o enterro do Fausto Wolff e perguntou para o dono do jornal quem era o dono do jornal, e isso não é piada. E no meio disso tudo, vem o outro e me diz no google talk que “gente com cara de madelaine não sabe achar bangu no mapa”, e eu digo que surpreendi o outro por gostar de cabrito enquanto ele achava que eu tinha cara de sushi de cinquenta reais, e ele insiste: “você não tem cara de sushi, tem cara de madaleine“. Esse aí ainda vai se surpreender muito comigo, eu sou ótima de mapa. Não que eu queira achar Bangu, mas enfim... o chefe reponde o meu e-mail "segue o texto para essa semana" com uma única palavra: “Tintuntá”. E eu sem entender porque não consigo ter uma vida regrada…. Deixa estar jacaré, que a maré há de secar.
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