sábado, 17 de maio de 2008

Por medo de amar, preferiu não estar

“Atendeu o telefone e disse: ‘Eu não estou.” Desde que olhara as nuvens pesadas e negras no céu e sentira o ar abafado que antecede o temporal , decidira que não estaria, simples assim. A voz ecoou no silêncio do outro lado da linha e ele repetiu: “Eu não estou.” As gotas densas ressonavam na máquina do ar-condicionado. O céu aliviava-se por sua ausência. Nenhum dos dois atreveu-se a apertar o botão vermelho que terminava a ligação. Do lado de lá, ela prestava atenção na respiração forte de alguém que não estava, no som ao redor e jurava que no fundo no fundo ele escutava blues. A presente ausência doía no peito dela. O mundo dele estava caindo e ela compartilhava em silêncio. - - - - - - - - - - - - - - -- - - - -- - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- . Por mais que desejasse largar o telefone em cima da mesa, bater a porta sem ao menos se calçar e atravessar a cidade molhada ao encontro do abraço reconfortante do corpo dele, não havia o que fazer senão consentir. “Eu não estou.” Desligou o telefone sem adeus. Pela janela observou os guarda-chuvas amontoados. As cores escorriam como na aquarela do pintor, não se sabe se era efeito das gotas no vidro da janela, da lágrima em seus olhos, ou se a realidade simplesmente derretia. Por dentro permaneceu estático. Era mais fácil não estar. Há quem não suporte a ponta de dor que há em todo amor. “Tout le reste est littérature”.

Um comentário:

Anônimo disse...

simplesmente amei!

adoros seus posts, to sempre acompanhando!

beijos