sexta-feira, 9 de maio de 2008

Uma carta em braile

Achei que precisava te responder. É que por mais que seja belo, o texto, o poema e tudo mais, eu não concordo. Não me leve a mal, mas é que a minha opinião fica aqui meio morando dentro de mim e às vezes ela tem que dar uma volta, encontrar outras idéias e quem sabe até voltar meio diferente. É raro, mas às vezes a idéia volta mesmo modificada, como num texto a quatro mãos, quando os pontos vão se unindo e depois não se sabe de onde partiu.


É por isso que eu queria te dizer (mesmo que não seja novidade para você), que Homero não inventou sua própria Odisséia. A Ilíada foi contada oralmente na tradição grega, e passada de boca em boca, até que alguém fez um mexidão e deu-se o que deu. Homero pode ter sido um contador de histórias, um pseudônimo, um cego, assim como escreve Pound em seus Contos “pobre velho Homero, cego, cego como um morcego”, ou até mesmo tudo isso junto. Mas não acredito que ele tenha escrito um texto a quatro mãos, mas sim dado forma a milhares de vozes que contavam a história, a sobrancelhas que se levantavam a cada batalha, suspiros de jovens que esperavam a volta do amor. É como se Homero fosse aquela deusa indiana das mil mãos, sabe?


Outra coisa é que você fica dizendo que eu sou uma jovem escritora, mas eu não sou. E sinceramente, nem sei se quero ser uma escritora. Eu gosto (e em resposta ao Rilke: preciso) escrever e só – talvez essa seja a única certeza que tenho agora. É que ando em fase de mudanças radicais e isso pode significar o fim de qualquer rastro do que já fui um dia. Ando gostando de não saber aonde o meu rio vai desaguar. Se numa grande baía, em outro rio maior, ou no oceano sem fim. (RS). A certeza do desconhecido e os mistérios do futuro me alentam. Não quero parar no que sou agora, por isso peço para que não me rotule. Deixe-me ser. Não quero caber em nenhum grupo, sindicato ou generalidade. Não sou escritora e nem reconheço a tal poesia dentro de mim. Minhas palavras não servem para iluminar, no máximo distrair. Deixe-me ser só mais uma folha, reunião de palavras, amontoado de sonhos; que tenho estado feliz e isso já basta.


Não me leve a mal, mas como disse lá no início, quando a opinião fica meio entalada, não tem jeito. Tem que sair para ver gente...


Com toda a simpatia,


Eu.

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