quarta-feira, 14 de maio de 2008

Um abrigo

Lê poesia no banheiro, é bom para passar o tempo. Pede mentalmente que ele volte, antes que seja tarde demais e descubra que é sonho. Fecha a porta. Para o lado de lá, o toque do telefone, o e-mail do chefe, a foto enquadrada piscando no canto da tela. No bolso da calça jeans o ingresso desbotado, uma nota de dois reais, o botão que caiu da blusa. Um chiclete com gosto do beijo na saída da escola, do esconderijo, daquele lugar. Lembrou aonde perdeu o botão. Escova os dentes já mentolados, o ar frio ocupa o espaço dentro da boca, a língua desliza nos dentes, os lábios grossos pedem outros. Abaixa os olhos, a barra da calça molhada de chuva, a pele dos pés já enrugada. Provas. O azulejo gelado sob a sola tem a temperatura da realidade.

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