Esta é uma história real. Diablo Cody, a vencedora do Oscar de melhor roteiro de 2008, por Juno, estava prestes a completar 25 anos e ainda se sentia uma adolescente com formigas na calcinha. Medo de cruzar a fronteira para o lado negro dos 20 anos e perder a última chance de fazer uma grande loucura sem ter que lidar com responsabilidades da vida adulta. Para fugir do tédio, decidiu tirar a roupa em bares sujos de Minnesota – rebolando por notas de 10 dólares e passando noites em claro agarrada a um poste, ou qualquer coisa vertical e dura, depois escrever o livro Minha vida de stripper, ganhar o tal prêmio da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood e, e aí sim, fazer a vida valer a pena.
Longe de ser uma diva do sexo, Diablo não é o tipo que chama a atenção ao atravessar a rua e jura – no livro – que até ter decidido virar stripper nas horas vagas era praticamente beata. Afinal, nunca havia andado de moto, engravidado por acidente ou feito um aborto, jogado bebida na cara de alguém no meio de um porre, roubado batom de uma loja bacana. Pior: recebeu cada um dos sacramentos católicos, com exceção do matrimônio e da extrema-unção e terminou a faculdade em exatamente oito semestres. “Podia sentir meu fogo apagando. Minha crise dos 25 anos pesou no estômago como um cheeseburguer duplo. Acho que esta é uma das razões para eu ter acabado seminua numa boate”, escreve no livro, em que conta absolutamente tudo sobre a experiência, que deve ser muito mais interessante que fazer mochilão pela Europa, intercâmbio na Nova Zelândia, cortar o cabelo curtíssimo, ou essas coisas que as garotas com medo de chegar aos 30 costumam fazer.
Dá até vontade de seguir as sugestões da moça. Literalmente. Ela lista as 10 melhores e piores músicas para tirar a roupa – a melhor fica com Remix to ignition, de R. Kelly, seguida por Purple rain, do Prince: “Arqueie suas costas como se o próprio Prince estivesse derramando glitter no seu abdômen. Tem mais efeito em lojas de suco quase vazias, que promovem uma atmosfera emocionante”, escreve. Será? Acho que não... O fato é que Diablo vive com a mesma intensidade com que escreve. O característico humor ácido, rápido e pra lá de moderninho de Juno é usado com a ousadia de quem passa longe de ser uma diva do sexo, mas tem coragem de leiloar a própria calcinha ao som de Honky tonk woman, dos Rolling Stones, ao mesmo tempo em que trabalha como redatora em uma agência de publicidade. E ela conta tudo sobre a indústria do sexo pago, com os mínimos detalhes. Talvez picantes até demais, mas que nas palavras de Diablo soam mais como conversa de garotas moderninhas que papo de filme pornô.
Pois foi com esse espírito – com, digamos, com a Diablo Cody no corpo – que convidamos escritoras brasileiras também pra lá de moderninhas para se despirem de moralismos e se sentirem na pele de uma stripper. Em microcontos de cerca de 20 linhas, as nossas divas deveriam escrever experiências de um striptease. A poeta Maria Rezende levou a brincadeira para o lado romântico, sem deixar de ser exibida. A consagradíssima Ana Miranda transforma o ritual em sagrado, praticamente místico. A autora teatral e romancista Manoela Sawitzki experimenta a negociação com o contratante do serviço. A sempre moderna Ivana Arruda Leite faz uma enfermeira tirar o uniforme ao som de Roberto Carlos. Todas elas e Diablo colocaram em suas personagens a adrenalina pulsante de quem expõe suas maiores vulnerabilidades em público.
(Leiam mais sábado, no caderno Idéias, do Jornal do Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário