sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Já é Natal

Escondo as unhas roídas. Mãos atrás do corpo magro e pequeno. A franja lisa começa a grudar na testa, estou um pouco suada. É dezembro, está quente e minha mãe me forçou a usar meia calça. Tem um embrulho grande na árvore de Natal. Deve ser uma bicicleta, tem que ser uma bicicleta. Papai Noel está sentado na cadeira ao lado da árvore. Os primos formam uma fila indiana. É por ordem de idade. Eu sou a segunda da fila. A primeira mulher de uma família de homens, muitos homens. Estou nervosa. Esse ano Papai Noel não vai me dar presentes. Sei que não fui uma boa menina. Estou com vontade de chorar. O Bom Velhinho chama meu primo. A bicicleta é para ele. Eu quero ir embora. Não quero ficar na fila. Ter que pensar em tudo o que passou. Papai Noel pede para ver as minhas mãos. Eu digo que não mostro. Desde pequena só faço o que quero. Pergunta se quero sentar no colo dele. Eu digo que não com a cabeça e uma lágrima escorre pelo meu rosto pequeno cheio de sardas. Eu quero ir brincar. Papai Noel me coloca sentada no colo dele. A roupa tem cheiro de mofo e me dá ataque de espirros. Preciso de ar. Não quero conversar com Papai Noel. Ele não pode ver que eu roí as unhas. Eu quero uma boneca Patinadora e patins novos. Para isso, me forçam a ficar na fila, mostrar as unhas, prometer que no ano que vem não vou sujar o meu vestido de festa na terra do parquinho, não vou implicar com o meu irmão, não vou ficar acordada até tarde, não vou fazer guerra de massinha, nem desarrumar o sofá da sala para montar uma cabana com almofadas. E depois me perguntam por que eu não gosto de Natal...

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