segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O mar

Você se lembra do dia que nos conhecemos? Eu quero dizer o quanto eu te amo. Venha comigo, meu amor, vem para o mar. Eu quero te dizer. Só funciona se me deixar livre, se me deixar digitar aqui essas palavras, sentada na soleira do janela, no escuro, olhando a noite negra, vivendo no meu mundo paralelo. E é assim. Está na hora de deixar-me ser. O contrário não é amor. Se você me deixa andar pela rua, e pela sua rua, enquanto a noite cai. Se você me deixa comprar uma arma, nem que seja branca, dessas de partir o coração. Todo o resto é trilha sonora de sitcom. Anuncie aí a minha ida. Partida para o lugar onde seja livre nas ruas escuras. Acordar numa cidade com calor. Esse lugar pequeno, onde andar descalça é proibido, os olhos abaixam, esse lugar de pessoas sozinhas e tristes... Já disseram eu te amo mil vezes antes. Mas agora é diferente. É a mesma pessoa. A única pessoa. Mas se vou jurar, é melhor você estar sem nenhum sinal de honra, escutar o espaço e o tempo, me deixar entrar. Uma vez eu quis ser alguém que pudesse explicar os sentimentos. Sem franzir os olhos, ou arrumar o cabelo. Um vez eu quis. Aí veio o vento. Me levando pela sua rua escura. Nós nunca tivemos escolha. Eu preciso que você me diga que lembra. Levei a marca da arma. O peso no bolso, e depois , quando tudo se acalmou e você deitado no meu lado, de volta para mim. Depois. Tão perto, seguro, tão calmo. Bem, aí… Aqui está o meu amor. Vem para o mar, vem.