Os nome das amigas na barra da saia, o vestido branco arrastando no chão, os votos de felicidade, eternos sim. É maio e as igrejas da cidade estão lotadas, votos de amor. Assim que o novo mês despontou no horizonte desta vida caótica, o editor anuncia a próxima matéria: um ensaio fotográfico de casamentos. Sou envolvida pelo ar romântico do tema e por um ideal que ainda há pouco não me encantava. R$ 4 mil é o preço médio para fotos ideias do dia perfeito. O meu começa com um anel de brilhante, o noivo de terno risca de giz e tênis Puma, pétalas de rosa vermelhas caindo do céu, o pôr-do-sol no horizonte visto do altar montado no jardim da minha casa, um poeta no lugar do padre (o que significa poesia no lugar do Pai Nosso), champanhe rosé, uma banda tocando, música até o amanhecer e um fusquinha bicolor decorado com flores e latinhas rumo ao Copa.
Quando o mês de maio despontou à meia-noite da última quinta-feira, como na história da Cinderela, só que às avessas, virei meio princesa. Ando com vontade de meninices, de ganhar flores, de não esconder as lágrimas quando elas escorrerem, de usar vestidos, de me sentir meio paparicada, deixar que eles escolham os programas, paguem a conta, digam eu te amo e todas essas coisas que sempre escondi por trás da fantasia da Mulher Maravilha. Não que ainda não goste de dirigir à noite sozinha, de ligar quando tenho vontade, de saber me virar em situações inusitadas, comprar sapatos e lingeries com o dinheiro ganho em horas e horas intermináveis de trabalho, de almoços solitários, tardes de leitura, da sensação de independência e liberdade e, principalmente, de ter espaço para dormir esparramada sozinha na minha cama. Mas é como a Sininho, que precisa ouvir que as crianças acreditam em fadas para existir. Ando precisando sentir que sonhos se realizam. Então, foi basicamente por isso que preferi não escrever sobre o telefone que não tocou, sobre o assalto que vi da janela do carro, sobre o menino preso na Marcha da Maconha, a noite frustrada de sexta-feira e os caras eternamente presos na própria adolescência. Estou dando uma chance aos sonhos.
Que toquem os sinos. (rs).
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