sexta-feira, 18 de julho de 2008

A maldição de Newton

Muito antes que eu começasse a desejar um dia com mais 8 horas e o mundo contemporâneo criasse o tempo real, tornando cada vez menor a possibilidade dos sonhos se realizarem, Platão acreditava que o tempo era parte de uma ordem divina, Aristóteles fazia de sua noção algo intrínseco ao universo, Santo Agostinho dizia que o passar dos segundos resultava do movimento de todos os corpos, Kant acreditava que apesar de essencial, o tempo era destituído de realidade, até que um dia Newton afirmou que o tempo era de fato uniforme, e aí criaram o relógio, e por consequência surgiu o meu desespero. Por que quando dá sexta-feira, e eu fico quinze minutos deitada enrolada no edredon antes da angústia de perder a vida que está passando lá fora me empurre para o Baixo, tudo o que eu mais queria é que não estivesse tão cansada. Por que quando a Pri me convida para ir para Angra, tudo o que eu queria é que não estivesse precisando tanto da minha casa. E quando o chefe me oferece uma nova coluna, eu queria muito poder aceitar sem que isso se tornasse mais um estresse. E os freelas. E a proposta da Produtora. E o livro. E a natação. E aquele livro que eu queria ler. E aquele texto que eu pensei em escrever. O e-mail que eu não tive tempo de responder. Todos os filmes que estão no cinema e eu não vi. A exposição da amiga que eu simplesmente esqueci. Aquele amigo que eu deixei falando sozinho no msn. E para piorar a arrumadeira foi embora, a pilha de roupa suja está amontoando, eu já acordei atrasada, não deu tempo de fazer a cama, nem de gravar o vídeo para o chá de panela daquela amiga, nem de separar as fotos de infância com aquela outra, nem de fazer uma salada para o almoço. E agora vou ter que pedir delivery do Espoleto e comer macarrão aqui no teclado, porque ainda tenho duas matérias para escrever, e mais três colunas para pensar, e já são 20hs e o chefe está me perguntando o que está acontecendo com a qualidade do meu trabalho. O que está acontecendo? O que está acontecendo é que eu não durmo mais de 5 horas por noite, choro escondido no banheiro da redação e passo muito mais tempo Online no MSN do que eu gostaria - e não é para bater papo, é que o meu chefe acredita que MSN é a melhor forma de comunicação da humanidade. O que está acontecendo é que a minha vida tem sido para o trabalho, e por mais que eu ame tudo que eu faço, agora eu estou muito cansada para sair. Muito cansada para tomar chope com as amigas, com preguiça de conhecer alguém novo e sem paciência para papinho. Vamos logo ao que interessa. E mesmo assim, só de pensar em me arrumar me dá preguiça. Hoje eu quero sair de pijama. Só vou dançar se puder ir com a minhaa calça xadrez de flanela rosa e não precisar colocar lentes. Hoje só vou se for de óculos e mesmo assim só se não precisar dirigir. Só vou se for para te encontrar e você gostar de mim assim mesmo, com essas olheiras. E até que ponto vale a pena conseguir fazer tudo em 24 horas (menos 5 horas para dormir), se no final, eu só queria mesmo um abraço (e quem sabe aquelas 5 horas de sono pudessem ser ao seu lado).

2 comentários:

Pedro Lago disse...

NO dia que você ler o Rubem Braga, vai ter um troço.
bjs
PL

Anônimo disse...

O tempo, minha cara... sempre ele. De repente vc tem muito tempo, tempo demais que passa bem devagar. Estou há 17 dias me recuperando e foi difícil desacelerar meu tempo. Aprendi algo interessante: o tempo é quase psicológico. Em breve meu tempo correrá tão rápido qto o seu, mas o q não der pra fazer, não vou fazer. E que se dane a roupa suja! Quero mesmo é correr. Sem deixar de ver o q está em minha volta: um sorriso, uma flor, a luz, a chuva. O importante é viver, mesmo correndo. E de óculos! bjs