domingo, 13 de julho de 2008
Você conseguiu ser o centro das atenções. Ele me disse isso enquanto o M. pegava ar para continuar mais uma frase. Eu fiz aquela minha cara que faço antes de receber uma crítica. Dizem que é uma cara de "manda ver que eu agüento" misturada com "minha intenção não era essa", que resulta basicamente no olhar atento àquele que fala, e no pior dos casos um leve franzir das sobrancelhas e contração do canto da boca. Ele disse "você conseguiu ser o centro das atenções", o M. olhou para mim, eu fiz a cara de quem não entendia e ele continuou: Em cinco minutos de conversa você conseguiu que eu te contasse coisas que eu nunca disse para ninguém, e mais, me fez ouvir o meu irmão dizendo coisas que nunca ouvi ele dizer, e mais ainda, fez com que eu e ele praticamente brigássemos para ver quem ia falar primeiro. O M. ficou me olhando sério enquanto ele falava. E eu fiquei sem saber se aquilo era uma crítica ou um elogio. Quando ele disse que saber ouvir era uma qualidade rara, eu pude finalmente relaxar o lábio e a sobrancelha. Ele ficou me olhando, o M. ficou me olhando e eu me senti o centro das atenções, aí não consegui falar mais nada. Dei uma gargalhada para descontrair, mas aí ela chegou dizendo que ele estava dizendo aquilo porque nunca tinha sido entrevistado por mim. Ser entrevistado por mim era muito pior. Aí o outro disse que tinha medo do meu olhar. E era tanta gente reparando em mim que preferi mesmo é continuar muda, escapulir pelo buraco. Aì fiquei pensando nisso, pensando que tenho preferido mesmo escutar. É que ultimamente, quando tento colocar as coisas em palavras elas perdem a sua imensidão, mais ainda quando elas dizem respeito a mim. Deve ser por isso que não tenho conseguido escrever. As dimensões das palavras não significam nada sem o valor de seus sentimentos. O lado de dentro está tão sem forma, que as palavras embaralham e todos ficam me olhando com uma cara muito de não sei o que, meio sem entender porque eu segurei o choro na hora de falar, porque eu não consegui dizer nada. Acho que é por isso. Por isso que eu venho transformando as minhas conversas em entrevistas. Por isso que quando ele disse "Você conseguiu ser o centro das atenções" eu tomei como crítica. Porque o pior mesmo é quando as palavras ficam presas aqui dentro não porque eu não sei como dizê-las, mas porque talvez não haja quem possa compreendê-las. Talvez não haja quem de fato se interesse.
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