É mais um começo de noite de domingo no Rio de Janeiro. Isso mesmo, domingo. Não é sexta-feira à noite, muito menos madrugada de sábado. Ao mesmo tempo que boêmios da cidade ocupam as mesas dos botecos preferidos para o último gole do final de semana, familiares se despedem do tradicional almoço semanal e crianças escrevem as últimas linhas do dever de casa, uma fila de gente na faixa dos 30 anos se forma na esquina da rua Farme de Amoedo e Prudente de Moraes, em Ipanema. Às 19h30, ambos os lados da calçada do quarteirão entre as ruas Visconde de Pirajá e Prudente de Moraes estão ocupados por carros. Motoristas impacientes buzinam em fila única, inconformados com o trânsito causado pelos manobristas em frente ao Clube 69, boate descolada que cativa a juventude cool da cidade. Ali, seguranças de terno e gravata e a hostess da casa decidem quem é digno ou não de se acabar em mais um Bailinho. Isso mesmo, Bailinho – a festa de nome vintage (existe algo mais in que vintage?) que durante 35 semanas ferveu o Rio. Sim, ferveu.
Domingo passado foi o último – embora ninguém da fila soubesse disso. A festa, que a princípio seria exclusiva para amigos e os amigos dos amigos do ator-produtor-diretor-DJ-agitador cultural Rodrigo Penna alcançou notoriedade e tornou-se um inferno, e passou a ser mais uma a usar indiscriminadamente o antigo, mas tão atual, conceito de VIP, sigla para Very Important People.
E é exatamente por causa disso que a fila de jovens que dobrava um dos quarteirões mais nobres de Ipanema não saía do lugar. E mais: crescia em progressão geométrica, a medida em que mais pessoas se infiltravam nela – afinal, no Rio, todo mundo conhece alguém na fila. O problema é que para entrar na casa, hoje, só com o reconhecimento do staff. “Só entra VIP, quem não tem nome na lista tem que esperar”, berra o leão de chácara.
Amigo do amigo
Ok, mas uma vez que a cena relatada aqui não é exclusividade do Bailinho e repete-se na porta de outras casas pela cidade, quem é VIP?
Bem, definir o conceito VIP carioca não é fácil. Isto por que, além de dândis, modelos, filhos de gente importante, celebridades e grã-finos, as listas estão repletas de... amigos. Gente que conhece quem organiza a casa, quem convida, quem promove, gente que é amigo do amigo. Nem sempre com dinheiro, mesmo assim, gente que paga a entrada. Sim, no Rio, muito “VIP” paga a entrada.
As pessoas que conseguiram entrar no Bailinho domingo passado, por exemplo, não eram VIP, mas amigos. Pelo menos foi o que me disse Rodrigo Penna: “Nós temos uma lista amiga. Só quem entra sem pagar são os Djs que já tocaram na festa, designers e fotógrafos envolvidos no processo de produção do evento”. A tal lista amiga à qual Rodrigo se refere é uma mala direta normalmente enviada por e-mail a amigos, freqüentadores cativos e pessoas que conhecem esses nomes, tornando possível definir e estabelecer o público específico – sem misturar grupos. E, principalmente, deixando a playboyzada de fora. Gente descolada odeia playboy, ou seja, gente que vai para a night só para pegar mulher.
*Lista amiga, um glossário do vocabulário vip carioca, muita polêmica sobre a noite no Rio e a continuação deste texto, na revista Domingo
Um comentário:
Como havia colocado na minha lista de "Coisas Abomináveis": " área vip; cara de quem está dentro da área vip; dicussão sobre o que é "ser vip".
bjs,
Piotr Pitrovich
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