terça-feira, 19 de agosto de 2008

Dessas coisas que a gente diz - ou, parece mesmo um filme

Em 5 de julho de 1982, às 22:07:34, um pernilongo, capaz de bater as asas 40.743 vezes por minuto, é morto entre as palmas da mão de um senhor gordo alérgico ao tipo. No mesmo segundo, num café à beira mar carioca, guardanapos de papel voam levados pelo vento sudoeste fazendo com que o garçom em sua gravata borboleta corra para recolhê-los na calçada de pedras portuguesas. Nesse instante, no primeiro andar do número 50 da Avenida Vieira Souto, em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, Myriam Cabral deixa escorregar de suas mãos um copo de cristal ainda com restos de cabernet-sauvignon no tapete persa e pela primeira vez desde que conheceu seu marido, há 30 anos, solta um palavrão. Ainda neste mesmo segundo, um espermatozóide de cromossomo X, pertencente ao Sr. Alexandre de Albuquerque destacou-se do pelotão e alcançou um óvulo pertecente à Sra. Albuquerque, em solteira, Thereza. Precisamente nove meses depois, num rápido contrair de diafragma o primeiro sopro de vida alcançaria os meus pulmões, fazendo pela primeira vez o meu coração sair de seu ritmo contínuo, ao mesmo tempo que as primeiras lágrimas escorrem pelo rosto branco, ainda sem as marcas que um dia teria. Tudo isso para que muito tempo depois, palavras como as que seguem fossem trocadas:

- Nós devemos ter sido irmãos na outra vida. Ou amantes, sei lá.
- Melhor do que termos nos conhecido em outras vidas, é nos conhecermos nesta.

***

- Ou você escreve cada vez melhor, ou sou eu que te leio cada vez mais perto.
- A coisa é mais pra frente.

***

- Adoro quando estou nas suas palavras
- Uso tudo o que tenho

***

- Eu e você é diferente. É dessa vida, é de outra vida. Sei ser amiga, mas não sei se consigo ser só isso. Ainda vamos descobrir o caminho, com certeza será o melhor, no mínimo amigo. Desculpa essa confusão toda…
- Que confusão que nada, estamos na vida para se encontrar e se perder. Não necessariamente nesta ordem.
- Desculpa.
- Mas nunca mais faz isso, tá?
- Nunca mais, nunca mais…

Um comentário:

Pedro Lago disse...

Escreve um filme para mim. Você faria um filme na linha do Amelie Poulain, aliás, ela sempre me leva a você, ou você a ela.
bjs
PL