Descobriu que as coisas não começam do zero, nunca. Pode-se mudar de casa, de amigos, até mesmo de cidade, mas jamais se começa alguma coisa do zero. Se deu conta de que aonde quer que fosse, carregaria consigo tudo que já tinha acontecido até então. Mesmo assim ficou feliz, afinal tinha feito uma tentativa. Soube reconhecer seu esforço. Tudo que era seu, ela sempre carregaria consigo. Tudo que lhe pertencia parecia um rabo que sempre a atrapalhava na hora que tentava fechar a porta. Entendeu que não adiantava cortar o rabo, porque eram que nem os de lagartixa, cresciam de novo como se nunca tivessem sido cortados. O que ela tinha que fazer agora, era fechar a porta somente depois que o rabo inteiro tivesse para dentro. Mas para isso teve que entender muita coisa também. Que só se está sozinha de verdade, quando a possibilidade de encontrar alguém se reduz a zero. Que suas histórias não são só suas, na medida em que alguém pode se apropriar delas sem nem pedir licença, e que provavelmente esse alguém seria algum amigo seu. Que cozinhar e deixar o boiler ligado ao mesmo tempo gera um blackout. Que, em Milão, os homens acompanham as mulheres no supermercado. Que morbido em italiano quer dizer macio; e tambien não é italiano, mas espanhol. Que as histórias de amor acabam sem ter chegado ao fim. Que saudade existe sim, e não é só uma palavra unicamente da língua portuguesa. Que liberdade demais pode ser excesso. Que uma cama de casal é feita para dois, embora adore se esparramar na hora de dormir. São tantas, tantas coisas... Ela sabe que ainda tem muito o que aprender. Sua vida está longe de estar resolvida, e ainda assim, ela só consegue pensar em quem estará do seu lado quando ela for passar o reveillon no pedalinho.
* Ao som de Nina Simone, Just like a women
2 comentários:
(tinha feito um comentario que acho que sumiu)
Mas enfim....as coisas não começam do zero...e que bom que já temos material para começar a construir ne!
Adorei o primeiro post italiano!
Beijos enormes!
essa sensação...!
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