terça-feira, 31 de julho de 2007

O nosso amor a gente inventa

Porque isso tudo está me consumindo por dentro. Porque eu tenho ataques de risos descontrolados. E ando sentindo muito ciúmes também. Bipolar? Porque não vou ouvir nada do que vocês estão todos dizendo. Porque eu quero acreditar num mundo melhor e viver uma utopia. Quero continuar tendo os ataques de risos. E continuar mentindo sobre o meu destino, só para não ter que dar carona pra ninguém. Não quero companhia no carro, porque quero eternamente dirigir cantando. Porque sou uma cantora frustrada, uma pintora que acabou fazendo colagem, uma escritora que preferiu escrever em blogs e uma atriz da vida real. Vou fingir a minha vida eternamente e vocês digam o que disserem que eu não quero ouvir. A vida pode ser bem mais divertida assim. Porque fazemos dela o que quisermos. Por isso vou acreditar eternamente no amor eterno, no destino, na fidelidade e na pessobilidade da felicidade entre duas pessoas que se amam. Paz no mundo. E vocês podem dizer o que quiserem, inclusive que eu não estou entendendo. Eu vou fechar os meus ouvidos, acreditar que a vida é muito boa, andar nas nuvens e cantar em voz alta toda vez que estiver sozinha. Me deixa cantar, pintar, escrever, inventar, fingir e ser o que eu quiser, porque estamos aqui para viver em voz alta. Se você quiser, te dou uma carona. Mas vai ter que me ouvir desafinar. E cantar também. Diversão garantida.

domingo, 29 de julho de 2007

I just call to say...

Todas as coisas acontecem por uma razão. Aposto que descobrir o motivo que me fez perder o celular no início da noite de uma sexta-feira não será nada fácil. Algumas hipóteses me vêm à cabeça:
1. Noé pode estar construindo uma nova Arca. A previsão do tempo é prova disso. Então perdi o telefone, porque como eu não acho que seja a pessoa mais indicada para dar continuidade à espécie humana, inconcientemente achei melhor não deixar que ele me achasse;
2. Talvez perder o aparelho seja a única forma de conseguir me libertar das mensagens de texto que aquele cara que eu estou proibida de mencionar o nome me mandou um dia, ou noite, ou tarde;
3. Uma hipótese melhor ainda: apagar de uma vez por todas o número do telefone dele. E de todos os amigos dele;
4. A perda do celular foi um castigo por todas as vezes em que desliguei o telefone na cara dos vendedores das operadoras. A punição foi passar a manhã de sábado falando com operadores de telemarketing, perder mais de três horas da tarde de domingo numa fila na loja da Vivo, na Barra, sair de lá com um celular de R$49,90, e chegar em casa e descobrir que o aparelho é tão barato porque não pega no meu quarto;
5. Aprender que discar aleatoriamente números de telefones que lhe vêm a cabeça não é uma boa maneira de descobrir a quem eles de fato pertecem;
6. Decorar os telefones das pessoas queridas é fundamental;
7. Ficar incomunicável durante um final de semana inteiro incentiva o contato com familiares, do mesmo jeito que ficar sem energia elétrica nas noites de domingo.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Anna diz:
vai no festival indie hj?
Julio diz:
Bem que queria ir no magic numbers
Julio diz:
dia desses procurei o cd deles e não achei...
Anna diz:
eu tb não tenho o cd não, mas dá pra baixar
Julio diz:
ué não sou pirata
Julio diz:
sou uma das últimas pessoas que ainda compram cd hehe
Julio diz:
comprei 3 essa semana...
Julio diz:
e fico triste cada vez que chego nas lojas e tem menos cd, na saraiva o bonus é até menor para comprar cd. muito vacilo.
Anna diz:
não é pra vc gravar cd, é para baixar a música no comp.
Anna diz:
isso não é pirataria é tecnologia
Julio diz:
é pirataria! tá baixando a musica sem pagar por ela.
Julio diz:
quem vem aí em breve é the killers
Julio diz:
eu tenho um cd deles...acho bacana
Anna diz:
hahahaha vc compra cd, fala "bacana"
Anna diz:
ô raça nordestina
Julio diz:
engraçadinha
Julio diz:
o escama também compra cd
Julio diz:
confesso que é o meu unico amigo q conheço que tambem compra
Anna diz:
ele deve falar bacana tb
Julio diz:
qual é o problema de falar bacana?
Julio diz:
será que vc é de outra geração?
Anna diz:
estou ficando desconfiada
Julio diz:
mais de 3 anos de diferença é outra geração
Julio diz:
provavelmente só viu transformers agora que chegou no cinema.
Anna diz:
não vi transformers
Julio diz:
outra geração
Julio diz:
fato
Anna diz:
pronto solucionamos todos os problemas
Julio diz:
bacana...
Anna diz:
irado
Julio diz:
eu nao estou zangado não.
Anna diz:
quem falou que vc tá?
Julio diz:
vc, qd disse irado
Anna diz:
irado é bacana na minha geração
Julio diz:
aaaaah não sabia
Anna diz:
outra geração
Julio diz:
outra geração. fato.
Anna diz:
geração do julio (imigrantes do nordeste) vê transformers, compra cd, fala bacana
Julio diz:
nao sei se é minha geração
Julio diz:
a maioria já pirateia as coisas
Julio diz:
as pessoas pirateiam, compram drogas...tá tudo errado. tuuudo errado. mundo tá de cabeça pra baixo.
Anna diz:
vamos todos ficar caretas
Julio diz:
depois não reclamem qndo o poste mijar no cachorro, qndo tiver fila na igreja só para comer ostia...
Anna diz:
hahahahha
Anna diz:
julio, tenho que te contar um segredo
Julio diz:
por favor
Anna diz:
muita coisa mudou neste tempo em que vc andou pelo mundo
Anna diz:
os indies estão aí
Julio diz:
os postes já estão mijando nos cachorros
Julio diz:
eu lembro qndo li no jornal que um porteiro paraiba viu um tubarao na praia da barra.
Julio diz:
mergulhou, deu uma gravata no tubarao, meteu um monte de soco nele. e trouxe o bicho pra areia
Julio diz:
entrevistaram o paraiba e ele respondeu "o bicho é tinhoso, mas eu sou mais"
Anna diz:
haahahaha
Julio diz:
isso deve ter uns 5-6 anos.
Anna diz:
não tenho memória dessa época, as drogas não deixam
Julio diz:
de lá pra cá, as coisas ficam cada vez mais esquisitas.
Anna diz:
imagino , deve realmente ser um espanto acompanhar a evolução
Anna diz:
foi bom falar com vc, mas os indies me esperam
Julio diz:
vamos nos falar até sabado né. tem que ver esse negócio do casamento
Anna diz:
demoro, nos falamos
Anna diz:
demoro = legal
Anna diz:
beijos

terça-feira, 24 de julho de 2007

Central de atendimento ao consumidor

Ligou o carro, abaixou o freio de mão, deu a ré, engatou a primeira e enquanto descia a ladeira ligou o rádio. Não ouviu música. Escutou o som do trânsito lá fora, do motor, da chuva caindo no vidro, do pára-brisa tentando contê-la, o som da própria respiração. Mas nada de música. Quinze minutos antes Nouvelle Vague quase estourava as caixas, In a manner of speaking. Parou o carro no acostamento. Tirou a frente do rádio, assoprou a partezinha dourada. Não adiantou nada. Apertou todos os botões. Ele estava morto. E agora? é possível dirigir sem música? Os carros vizinhos estavam de vidros fechados, não queriam emprestar a ela um pouco de seu universo particular. Parece que tem sido assim ultimamente. Ela não tem tido acesso a universos particulares. O dela próprio estava sendo desconstruído aos poucos. Como reconhecer-se em alguém que nunca imaginara ser? Estacionou. Subiu as escadas. Era um dia incomum, precisava de som. Não havia silêncio interno. A cabeça não parava de pensar. Precisava distrair. Ligou a tv. Nada. Por favor, ligue para nossa central de atendimento ao consumidor: 4004-777. OFF. Ligou o computador, impossível encontrar o servidor. Nouvelle Vague no ipod. Acabou a bateria. A única saída era dormir. No dia seguinte, o carro não pegou. Ela perdeu a ioga. Chegou no jornal e a pauta caiu. Pensou se não estaria soltando faíscas. Caiu um prantos. Soluçou. A barriga tremeu. A chefe se preocupou. A lente escapou do olho. Ufa! Ela conseguiu segurá-la antes que caísse no chão. E as lágrimas não paravam de brotar. Se sentiu com cinco anos, indefesa. Precisava de colo, de cafuné, de abraço de urso. Precisava de férias, mas não sabia ficar sem trabalhar. Tinha medo de ter tempo para olhar a si mesma. Encontrar algo que não gostaria. Todo mundo sabia que ela tinha mania de perfeição. Se exigia tanto, mas tanto, que quando algo dava errado debulhava-se em lágrimas. Mas como tudo poderia dar tão certo se ela era apenas uma? Se tivesse uma dupla, talvez tudo se resolvesse. Se olhasse mais para si, teria uma dupla. Mas ela não sabe ficar parada. E o tempo passa. E o início torna-se final, e o final início, num ciclo eterno. Ela quebrou, a água escorria por seus olhos e não há central de atendimento para humanos. Mas o carro já está na oficina, o ipod carregou, a net está no ar, e como vocês podem ver, ela está online. Dando choque, mas online. Portanto, cuidado.

**

Da série "não consigo parar de ler": Como fazer uma canção , por Elvis Costello

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Na praia (momento resenha de livros)

Na Praia, do inglês Ian McEwan, começa num quarto de hotel, palco da noite de núpcias de um jovem casal. Os dois são virgens. É o que o leitor fica sabendo na primeira linha do romance. Enfim, sós. Mas Florence e Edward não estão sozinhos, e sim acompanhados de suas histórias. Ele, um rapaz da província, professor de história, tem uma mãe com problemas mentais, e um pai que é professor do ensino médio. Ela, promissora violinista de família abastada, tem pai industrial e mãe professora de filosofia na Universidade de Oxford. Como se não bastasse carregarem em suas bagagens particularidades e diferenças , também sofrem o peso da moral vigente da época. O romance se passa em fins da década de 60, logo antes da chamada revolução sexual. Um tempo em que a sociedade dizia uma coisa, e o corpo, outra.
Lentamente, McEwan narra a noite das núpcias dos dois jovens que ali, parados, inexperientes, não sabem o que fazer. A história é simples: a primeira vez de um jovem casal. Mas o narrador vai construindo a cena com tamanha delicadeza que captura o interesse do leitor. Descreve um beijo, que poderia ser mostrado com apenas oito dígitos, em página inteira. Isso porque detalha cada momento, com minúcias: "Com os lábios firmemente colados nos dela, devassou-lhe o fundo carnudo da boca, e em seguida fez um movimento circular por trás dos dentes da arcada até o vazio onde três anos antes um dente de siso crescera torto, para acabar removido sob anestesia geral". A história entrelaça sensações e sentimentos que se misturam com as sensações e sentimentos do próprio leitor. A precisão dos detalhes faz da cena principal quase um ensaio de cinema. A narração é construída de modo a que sejam dadas informações da vida dos personagens, adiando desse a concretização do ato em si. Com isso, o narrador cria um jogo temporal que justifica os medos e angústias dos personagens diante da sua própria castração. O que é fundamental, já que são as suas historias que eles carregam para dentro do quarto de hotel. As diferença ficam claras. Apesar de ambos terem passado a adolescência em Londres, cada um tem o seu mapa da cidade. Um definitivamente não coincide com o do outro. Enquanto ela mora em um albergue severo para moças, praticando quatro horas de violino por dia, ele estuda história do outro lado da cidade, com os hormônios ávidos para se libertarem. Ela ouve os clássicos: Mozart, Beethoven. Ele: Stones, Beatles. Então, estão eles lá, no quarto, com suas diferenças, frente à frente, tentando ao máximo esconder seus medos. O medo dele vinha da ansiedade, da inexperiência. O dela vinha de sua rigidez, de sua sensibilidade feminina. Os dois medos não se entendem. Ele, ingênuo demais, é um homem no cio. Ela, racional demais, sente dificuldade de se entregar. Por terem tempos diferentes, ela se sente oprimida pelas expectativas dele e, interrompendo o sexo, sai em disparada em direção à praia. Ele, humilhado, vai atrás. Ela precisava de um tempo para entender. Ele queria explicações dela para entender.
A retomada da cena é uma revisão da vida dos personagens. Revisão que passa lentamente, como que para dar sentido às escolhas feitas no passado. Sabemos que a cena já se perdeu no tempo quando, mais velho, Edward retoma o momento de suas núpcias não realizadas. O narrador, que antes era democrático, agora fala pelos sentimentos revisitados. É como se, dando um gosto de presente à cena passada, tentasse dar sentido a sua vida, que corre veloz, em apenas quatro páginas, nas quatro últimas páginas da narrativa.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Um pé depois do outro

Refazer um trajeto significa anotar-se no mundo. Deixar uma pegada, uma bandeira. Refazer um trajeto escava a cicatriz da passagem. Não é apenas o descompromisso da mão única.
Você me faz falta. Você me fez falta antes que eu te conhecesse. Você me faz falta agora. Isso significa refazer um trajeto. Voltar a você e à falta que você me fez e me faz e há de me fazer sempre. Mesmo que eu esteja ao seu lado. Mesmo que eu sinta a sua mão dentro da minha e o seu corpo fabricando ondas de calor. O suor discreto da sua mão dentro da minha.
Há outro modo? Se é preciso (e é preciso) ter você, há outro modo?

E SE não houver outro modo?
E SE a passagem que podemos fazer um pela vida do outro for esta? Apenas esta? A passagem do viajante?
E SE eu continuar a desenhar você obsessivamente, como fiz durante um ano, pelos próximos dez ou vinte ou trinta?
E SE nos encontros não vierem com o rótulo da família, do cartório, da aliança, da hora do jantar, do jornal à porta pela manhãs, das compras de supermercado, dos chinelos ao pé da cabeceira, da tábua do vaso do banheiro, das escovas de dente, da biblioteca e da discoteca, dos recados presos na geladeira, das xícaras de café sobre a pia com um círculo preto ao fundo, da toalha de banho habitual, do habitual lugar à mesa, da marca preferida de xampu, da secretária eletrônica, da regulagem da torradeira e do retrovisor do carro, das contas ao final do mês, dos amigos em comum?
E SE for preciso assumir a fragilidade de nós mesmo na fragilidade daquilo que somos juntos? Viajantes?

(...)

A viagem nos ensina algumas coisas. Que a vida é o caminho e não o ponto fixo no espaço. Que nós somos feito a passagem dos dias, dos meses e dos anos, como escreveu o poeta japonês Matsu Bashõ num diário de viagem, e aquilo que possuíamos de fato, nosso único bem, é a capacidade da locomoção. É o talento para viajar.

:: Transcrever aqui este trecho de Adriana Lisboa, em Rakushisha, foi inevitável. Estou contaminada pelo que estas palavras significam lado a lado. Não consigo parar de repeti-las, e de lê-las, relê-las. Para andar, basta colocar um pé depois do outro. Um pé depois do outro. Não é complicado. Não é difícil. Dá para ter em mente pequenas metas: primeiro só a esquina. Ou a melhor das viagens, aquela em que não é preciso sair do lugar.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Maracujá, abacaxi, melancia e um limão OU O dia em que ganhei um cd do Songoro Cosongo

Misturado com cachaça fica muito bom. Esse é o nome do CD da banda mais Pan-Americana do mundo. Isso é quase tudo o que eu sabia sobre o Songoro Cosongo. Sabia que eles se encaixavam na categoria "opções culturais" de qualquer um dos 41 países da capa da revista Programa desta semana - que sugere comidas, bebidas e opções culturais relacionadas a todas a nacionalidades que estão no Rio para o Pan. Se encaixava em Antigua e Barbuda, mas o rugby é o esporte mais praticado nas ilhas. Ficaria bem em na Bolívia, se não tivesse que atirar o primeiro poncho quem nunca topou com o grupo de música andina que adapta ao seu estilo sucessos do pop internacional, como My heart will go on, da Celine Dion, na Rua São José. Seria dança perfeita para o Suriname, se a maioria do povo não fosse hidu. Assim, o Songoro Cosongo foi obrigado a definir a República Dominicana. Outra coisa que eu sabia sobre o grupo, é que eles se apresentaram no Circo Voador, no dia 24 de maio. Mesmo dia em que escrevi "Anjos do Picadeiro", sobre o romance dos palhaços Maku e Chaco. O post terminava assim: "Quem ainda está sem programa para esta sexta à noite, e estiver precisando dar umas boas gargalhadas, poderá assitir ao espetáculo de Chaco e Maku, na Noite de Gala Anjos do Picadeiro, na Fundição Progresso. E quem sabe, depois, a boa risada pode dar bons frutos durante o show do Songoro Cosongo, um septeto formado por músicos da Venezuela, Colômbia, Chile, Argentina e Brasil, residentes no Rio. Dizem por aí que a banda tem um estilo musical inconfundível: Psico Tropical Music. Você sabe o que é? Nem eu. " Pois é, hoje eu descobri. Descobri tudo e não sei explicar nada. Descobri que eles são bons, parecem chorinho, mas me fazem gargalhar. Me imaginar dançando Psico Tropical Music a dois me faz gargalhar. Provavelmente dançar ao som de uma banda chamada Songoro Cosongo vai fazer as minhas bochechas e a minha barriga doerem de tanto rir. E essa é uma das minhas sensações preferidas. Se for misturado com cachaça então....

sábado, 14 de julho de 2007

Queimando o livro (até a última ponta)

Pense como um mané e conquiste o seu mané*

Americana maluca lança livro em que diz, entre outras coisas, que na primeira transa as mulheres só devem fazer papai-e-mamãe. E também aconselha que as mulheres enganem os homens. Faça respiração de ioga para ler esse texto

Nunca um livro causou tanta indignação na equipe da TPM como Pense como um homem e conquiste o seu, de Giuliana DePandi. Prontas para as pérolas? "Não se mostre muito interessada em crianças, bebês e cachorrinhos. Não fique toda melosa - ele vai achar que você está louca para ter um filho." E, na dica 24, assusta de novo: "Na primeira transa, não faça nada ousado demais. Você vai ficar parecendo uma vadia. Fique no papai-e-mamãe o máximo possível... Sempre que ele tentar alguma coisa ousada, diga a ele que está com vergonha, assustada ou que aquilo parece 'indecente'. Sim, finja que você é frígida, não goze, não aproveite. Homem não gosta de mulher que gosta de sexo e o que importa é agradá-los para conseguir casar, nos ensina a autora deturpadora! "Nunca, de jeito nenhum, beije no primeiro encontro" (bem, então não é primeiro encontro). A pior de todas: "Não termine o namoro, a menos que tenha outro em vista." Ela diz que a gente deve, enquanto está namorando, ter um substituto em mente. Claro, esse homem estepe deve ser mais gostoso (ou mais rico) que o anterior. Vamos queimar este livro com toda a nossa ira!
*Nina Lemos, para TPM nº67

Se a minha mãe falasse inglês, eu teria certeza que ela andou conversando com essa tal de Giuliana. Será que elas se falaram em francês? É bem verdade que há anos mamãe tenta me ensinar algumas dessas regrinhas. É mais verdade ainda que no final da conversa eu sempre acabo fazendo o que quero, mas admito que muitas vezes o que quero é segui-las. Não porque esteja querendo conquistar o mané, mas porque simplesmente não rolou clima suficiente para um beijo no primeiro encontro (e isso não significa que não vai rolar no segundo); porque crinças e cachorrinhos não me interessam at all, já bebês é outra história; porque às vezes eu realmente fico com vergonha quando os meninos tentam algo ousado (e até tenho ataques de riso); porque são tantas as vezes que tenho preguiça de explicar pro cara que não concordo nadinha com o que ele está falando, que prefiro concordar do que entrar numa discussão infinita, que possa até desagüar no fim do namoro. E aí ferrou, porque como sou uma das pessoas mais monogâmicas que conheço, nunca tenho um estepe. Ou pelo menos, nunca SEI que tenho um estepe.

Otras cositas más que mummy tenta me ensinar há 24 anos e que eu teimo em não aprender: Mulher baixa deve sempre andar de salto alto, mas meus pés não agüentam. Mulher não deve ir a programas com a mesma roupa do trabalho, antes de ir, deve sempre passar em casa para tomar um banho. O que ela não entende é que o trio hora extra, não remunerada, é claro, + trânsito + túnel ou niemeyer não permite. Mulher que é mulher não vai a encontro de alguém, esse alguém sempre deve buscá-la em casa. No encontro, assim como em festas, mesmo que esteja com muita fome, a moçoila não deve se alimentar, nem beber. Mesmo se estiver muito irritada, é expressamente proibido levantar a voz ou ser de alguma forma ríspida. Mulher não fuma em pé (vai entender?!). Mulher não deve ganhar ou trabalhar mais do que o homem, nem ter muita opinião sobre nada. A frase "Sim, meu amor", seguida de um leve sorriso entre os lábios, bem no estilo Monalisa, deve ser a frase mais usada por uma mulher maravilha. O dinheiro de uma mulher não deve ser gasto em livros, mas sim em acessórios e roupas. Mas atenção: roupas da Maria Bonita Extra, modelitos com volume ou que sigam muito a moda, não valem. Homem gosta mesmo é de mulher clássica, e nos piores casos cafona, já que preferem as roupitchas apertadas. Mulher com M maíusculo deve sempre estar com cabelos penteados, unhas feitas, cheirosa, maquiada e com a depilação em dia. Não importa se você acabou de passar duas semanas na Amazônia: se você não é macho essas são apenas algumas de suas obrigações. Aliás, Amazônia só se for em hotel 5 estrelas.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

De bolo de laranja, nem as formigas gostam OU O mistério das formigas gigantes

Este não é um texto sobre aquele filme que eu esqueci o nome, mas tenho certeza que lembrarei assim que desligar o computador. Aquele, em que as crianças encolhem e encontram as formigas gigantes. Todo inverno me sinto um pouco como aquelas crianças. Observo o comportamento das formigas gigantes. Já tenho conhecimento suficiente para escrever a continuação de AntZ. Há mais de dez anos é a mesma coisa. No início do inverno elas começam a reconhecer o terreno. Geralmente o terreno é a estante do meu quarto, acho que por causa do acúmulo de livros e papéis. Uma das coisas que aprendi com a observação do comportamento das formigas gigantes que aparecem no inverno é que elas fazem ninho, formigueiro, sei lá, em lugares onda haja papel. Provavelmente o papel deve absorver a umidade do ar e criar um habitat parecido com a terra úmida. Ano re-retrasado descobri um ninho de formigas gigantes dentro de uma caixa de papelão cheia de fotos. Ano retrasado elas escolheram as pastas aonde eu guardava xerox antigas da faculdade. Até que foi um bom pretexto para que eu me livrasse da papelada. Ano passado, elas voltaram às caixas de papelão. Já tomei as devidas providências e as substituí por plástico. No entanto, esse ano algo muito estranho está acontecendo. Não consigo descobrir onde elas estão construindo o ninho. Depois de todos esses anos, acho que elas já me conhecem. Quando eu me aproximo para observá-las, elas brincam de estátua. As formigas gigantes nunca estão sozinhas, mas são espertas o suficiente para não fazerem fila revelando o esconderijo. Essa semana encontrei um par delas dentro da gaveta de revistas da mesinha de cabeceira. Nada de formigueiro ali. Tirei todas as gavetas, arrastei o móvel e não achei nada. Esta noite, ao acender a luz para matar um pernilongo - que conseguiu fugir e me obrigou a ligar o ar-condicionado em pleno inverno e a colocar uma colcha extra por cima do meu edredom de pena de ganso -, me deparei com um trio das marronzinhas andando pela parede atrás da minha cama. Fui obrigada a investigar. Ao me verem, elas congelaram. Fiquei com pena de matá-las, se eu acabar com a vida delas, nunca saberei aonde é o esconderijo. Estou desconfiada do forro da cabeceira da minha cama. Quando o ar-condicionado estava quebrado pingava no forro. O tecido deve ter ficado úmido. Habitat perfeito para as formigas gigantes que aparecem no inverno. Mistério a ser solucionado.

:: Ao contrário do que dizia a escritura na parede do Les Artistes, as formigas gigantes gostam muito de bolo de laranja. E eu também, principalmente se tiver aquele açúcar por cima. Devo ser uma formiga gigante. Aliás, nunca mais comi um bolo de laranja como o do Vicente.

:: Lembrei: Querida, encolhi as crianças.

sábado, 7 de julho de 2007

O grito

Macy Gray acabou de mandar all the beautiful people scream. As minhas cordas vocais quase arrebentaram. É uma boa sensação gritar sem razão, ainda mais quando não há ninguém em casa. Às vezes entro no elevador e fico tão são graça que penso qual seria a reação das pessoas se eu gritasse bem alto. Gritar no meio do vagão do metrô também não é uma má idéia. Essa noite sonhei que pulava de pára-quedas, mas não gritava. Estava em uma praia meio deserta, um lugar que eu nunca fui, mas que recorrentemente está presente em meus sonhos. Ela fica atrás de uma grande pedra, o mar é verde. Algumas pessoas estão presentes. Familiares e pessoas queridas. Ninguém tem coragem de pular. Eu tive. É necessário correr riscos para ter com o que se surpreender. Uma coisa que eu gosto é de surpresas. Entrei numa biblioteca escondida num sótão, cheia de coisas guardadas, abri uma janela e encontrei um deque. Um senhor me deu o pára-quedas. Quem me acompanharia no pulo era um cachorro. Pulei e tive a sensação real da queda livre. A água verde transparente amorteceu o choque com a terra, ou melhor, o mar. Nessa hora um desses meninos sem imaginação poderia ter perguntado se eu tinha caído do céu, porque parecia um anjo. Fiquei presa no tecido do pára-quedas. Um peixe que caiu na rede. Sereia? Não me afoguei. Eu quero viver. Viver num filme francês. Quero um capítulo em Paris, eu te amo só para contar as minhas histórias. Seria um filme coletivo sobre o que é viver, feito com retalhos de memória. A última cena definitivamente seria o grito ao infinito.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Depois do rosa blush, a moda é azul bic

Quando a gente menos espera vem uma poerinha e cai no nosso olho, mudando todos os conceitos primordiais da visão humana. Essa é a principal lei de Murphy, toda partícula que voa encontra um olho. Mas para isso o olho deveria estar aberto. O meu nem tava tanto, acho que tava piscando, mas mesmo assim a micro-partícula entrou. Desde então nada tem sido o mesmo. Ainda estava bem cedo quando decidi sair de casa usando os óculos de grau, aqueles mesmos que uso para ficar em casa. Virei a esquina e lá estava ele. Aposto que só porque estava usando os tais óculos caseiros, só porque a poerinha entrou no meu olho, só porque o mundo tem se mostrado diferente nas últimas semanas. E logo agora, que eu já esquecera de procurá-lo em cada esquina, de o confundir com cada corpo moreno correndo na praia, com cada olho verde, com cada risada gostosa, aperto carinhoso, beijo molhado. Já tinha até esquecido como era bom deitar em seu peito, o Flamengo já estava perdendo a importância e Jeeps não chamavam mais tanta atenção. Tudo estava ganhando mais cor, as lentes de contato tinham ficado ao lado da pia do banheiro. Passei longe, camuflada entre as cores da cidade aos primeiros raios de sol da manhã. Não dá para usar óculos escuros por cima de óculos de grau. O fundo dos meus olhos doem com a luminosidade do dia de sol. Acho que não estavam mais acostumados a tantas cores. Meu segredo é ter olhos verdes e ninguém saber, como a Clarice. As imagens ainda estavam meio turvas devido a claridade da vida nas últimas semanas, mas mesmo assim eu consegui ler a contracapa daquele livro perdido naquela mesa cheia de livros. No topo da pilha de cores. Capas coloridas estão na moda. Uma história de amor narrada por alguém que tenta se enviar para Anna em palavras. Alguém é a multiplicidade de si mesma, enrodilhada em nossos temores e alegrias efêmeras. Seu estado é sempre o de um equilibrio precário, como os objetos do quarto onde se encerra e gira infinitamente, como amor que busca sem cessar, como a própria existência da escrita, as palavras rudes e deslizantes expondo seus limites mas também incitando o leitor a mergulhar em sucessivos devaneios críticos com sabor de redenção. Acho que é isso. Tenho tentado me enviar a mim mesma, mas não consigo. Não reconheço o remetente, o destinatário e muito menos o endereço.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Sete razões para amar morar no Rio

Mesmo no inverno, poder ir à praia de manhãzinha. Na saída da praia, esbarrar com o Chico Buarque caminhando no calçadão de pedras portuguesas. Andar o dia inteiro de havaianas e só precisar calçar sapatos na entrada do escritório. Reconhecer carros de amigos na rua. Sentir-se morando numa aldeia. Terminar o dia com a visão da lua iluminando o mar.
Enfim, ter uma vida à la bossa nova.