segunda-feira, 30 de junho de 2008
Experiência quase-morte - ou, pelo direito de ser cortejada
Liderava a fila de cinco carros. Todos tentavam ultrapassar pela direita o ônibus que atravancava a fila da esquerda do túnel Zuzu Angel, no sentido Gávea. O motor 1.0 16V já fazia o volante tremer, quando a palavra em letras garrafais começou a piscar no painel do carro: STOP – STOP – STOP. Como se não bastasse o susto de ter o ambiente escuro iluminado por uma luz vermelha piscante, o STOP ainda vinha acompanhado de um bip-bip-bip ensurdecedor. Certa de que o carro explodiria a qualquer instante, diminuí a velocidade e preferi nem olhar pelo retrovisor o engavetamento possivelmente causado por mim. Para a felicidade do motorista do ônibus, que continuou embarreirando a pista da esquerda, e ódio dos outros carros atrás do meu, fui meio que soluçando até aquele posto de salvamento da Prefeitura, entre o primeiro e o segundo túnel. O cheiro de queimado invadiu o ambiente e eu até cheguei a procurar o fogo. Será que eu estava em chamas? Sem sinal de fumaça, nada de labaredas flamejantes. Abri a porta meio emperrada do meu carrinho 50mil quilômetros rodados ainda de cabelos molhados, vestido branco de algodão e cheiro de banho tomado. Os carros passavam voando, e ninguém parou para salvar a minha vida. Me senti uma donzela abandonada. Eu olhava para o carro ali parado, a poeira grudando na minha pele, aquele posto de salvamento fantasma.... Tive a brilhante idéia de ser uma mulher moderna e simplesmente abrir o capô e descobrir o que poderia ser feito. È verdade que demorou um pouquinho até que eu conseguisse achar o botão, mas pelo menos consegui perceber que faltava água... Quando eu não sabia mais o que fazer, o moço da prefeitura apareceu, me ensinou a colocar água no carro e o problema foi provisoriamente resolvido. Estou contando isso tudo para dizer que eu quero de volta o meu direito de ser salva, de ser mulherzinha, de ser cortejada e de não precisar levar o carro na oficina. Mecânico não leva mulher a sério, sabia? Eu descobri isso hoje, quando eles praticamente ignoraram tudo o que eu dizia, nem ligaram para a minha explicação que o problema era uma mangueira furada e me convenceram a deixar o carro lá por 3 dias. 3 dias! “Mas moço é só trocar a mangueira...”, nem ligaram para a minha manha. Mas não vou entrar em detalhes, o que importa é que a partir de agora terei atitudes de uma mulher do século XVI. Digam o que quiserem. Estou cansada dos papéis invertidos. Queria escrever para o Nelson Rodrigues explicando que os jovens “esquecem antes de amar e sentem tédio antes do desejo” simplesmente porque os papéis estão invertidos, mas não dá mais tempo... Como diz uma amiga minha: “No fundo somos só homens e mulheres, e os caçadores são eles”. Por isso, ela não liga, não dá msn, não manda e-mail e muito menos grava o telefone deles no celular. Imagina se ela coloca seus pezinhos de princesa no chão sujo de graxa da oficina? Ela que está certa... Como escrevi lá no início desse blog: “Eu sou mulher, poxa! Quero elogios rasgados, olhares de desejo, beijos inesperados, abraços apertados, surpresas à luz de velas, ligações no meio do dia e no final da madruga. Logo eu, que sempre tenho o que dizer, quero mil vezes ficar sem palavras no momento que antecede o beijo”.
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2 comentários:
Adorei, Aninha! O texto está incrível! Aliás, o blog todo é lindo, deu vontade de parar tudo para ler todos os posts, um a um..
bjs!
esse foi em sua homenagem... rs
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