quinta-feira, 12 de junho de 2008
Quero vivê-lo em cada vão momento
Você sente parte da sua geração?, ele fez a pergunta enquanto eu olhava pela janela. As árvores balançavam com a força do vento de outono. Folhas amarelas rodopiavam em espiral. Ali de dentro a impressão é que elas vinham do céu, as folhas, e transformariam a calçada de pedras portuguesas em tapete dourado, mas somente àqueles que se dessem um segundo para repará-las. Cada um no seu quadrado é a música do momento; não sou de ninguém o grito de uma geração e beija beija tá calor, a alegria dos foliões do carnaval de Salvador. Ainda não me acostumei a ficar, sei o Soneto da Fidelidade de cór desde os 13, quando ameaça a chover ainda tenho vontade de correr para o abrigo de um abraço e estou longe de comprar as galochas coloridas da moda para pisar nas poças d’água como manda o figurino. É difícil me sentir parte desse mundo que observo atentamente até os mínimos detalhes, onde a folha seca que entrou pela janela do carro enquanto eu esperava o sinal abrir ganha um significado só meu, ou a borboleta amarela descobrindo todos os cantinhos pelos quais entram a luz da manhã no meu quarto é vista apenas por mim como um sinal de que tudo vai dar certo. Esses que se contentam com um beijo, que não conhecem as delícias de tocar os pés debaixo do edredom durante as noites mais frias - ou mesmo por cima dos lençóis, naquelas noites em que o ar abafado da cidade exige que as cabeças permaneçam em travesseiros separados e que a sola dos pés sejam o único ponto de encontro entre os dois corpos -, esses que tem medo se entranhar no outro e descobrir as pequenas delícias e infinitas possibilidades de cada um, esses conseguem esperar até o próximo domingo para falar com quem na última sexta dividiu o melhor dos abraços; que não se encontram, que apenas se esbarram; que não sabem dizer “gostei muito”, “quero mais”, “vamos agora”; esses são os que pertencem a esta geração, que vejo com olhar estrangeiro de quem vive um universo tão particular.
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