segunda-feira, 30 de junho de 2008

Experiência quase-morte - ou, pelo direito de ser cortejada

Liderava a fila de cinco carros. Todos tentavam ultrapassar pela direita o ônibus que atravancava a fila da esquerda do túnel Zuzu Angel, no sentido Gávea. O motor 1.0 16V já fazia o volante tremer, quando a palavra em letras garrafais começou a piscar no painel do carro: STOP – STOP – STOP. Como se não bastasse o susto de ter o ambiente escuro iluminado por uma luz vermelha piscante, o STOP ainda vinha acompanhado de um bip-bip-bip ensurdecedor. Certa de que o carro explodiria a qualquer instante, diminuí a velocidade e preferi nem olhar pelo retrovisor o engavetamento possivelmente causado por mim. Para a felicidade do motorista do ônibus, que continuou embarreirando a pista da esquerda, e ódio dos outros carros atrás do meu, fui meio que soluçando até aquele posto de salvamento da Prefeitura, entre o primeiro e o segundo túnel. O cheiro de queimado invadiu o ambiente e eu até cheguei a procurar o fogo. Será que eu estava em chamas? Sem sinal de fumaça, nada de labaredas flamejantes. Abri a porta meio emperrada do meu carrinho 50mil quilômetros rodados ainda de cabelos molhados, vestido branco de algodão e cheiro de banho tomado. Os carros passavam voando, e ninguém parou para salvar a minha vida. Me senti uma donzela abandonada. Eu olhava para o carro ali parado, a poeira grudando na minha pele, aquele posto de salvamento fantasma.... Tive a brilhante idéia de ser uma mulher moderna e simplesmente abrir o capô e descobrir o que poderia ser feito. È verdade que demorou um pouquinho até que eu conseguisse achar o botão, mas pelo menos consegui perceber que faltava água... Quando eu não sabia mais o que fazer, o moço da prefeitura apareceu, me ensinou a colocar água no carro e o problema foi provisoriamente resolvido. Estou contando isso tudo para dizer que eu quero de volta o meu direito de ser salva, de ser mulherzinha, de ser cortejada e de não precisar levar o carro na oficina. Mecânico não leva mulher a sério, sabia? Eu descobri isso hoje, quando eles praticamente ignoraram tudo o que eu dizia, nem ligaram para a minha explicação que o problema era uma mangueira furada e me convenceram a deixar o carro lá por 3 dias. 3 dias! “Mas moço é só trocar a mangueira...”, nem ligaram para a minha manha. Mas não vou entrar em detalhes, o que importa é que a partir de agora terei atitudes de uma mulher do século XVI. Digam o que quiserem. Estou cansada dos papéis invertidos. Queria escrever para o Nelson Rodrigues explicando que os jovens “esquecem antes de amar e sentem tédio antes do desejo” simplesmente porque os papéis estão invertidos, mas não dá mais tempo... Como diz uma amiga minha: “No fundo somos só homens e mulheres, e os caçadores são eles”. Por isso, ela não liga, não dá msn, não manda e-mail e muito menos grava o telefone deles no celular. Imagina se ela coloca seus pezinhos de princesa no chão sujo de graxa da oficina? Ela que está certa... Como escrevi lá no início desse blog: “Eu sou mulher, poxa! Quero elogios rasgados, olhares de desejo, beijos inesperados, abraços apertados, surpresas à luz de velas, ligações no meio do dia e no final da madruga. Logo eu, que sempre tenho o que dizer, quero mil vezes ficar sem palavras no momento que antecede o beijo”.

domingo, 29 de junho de 2008

Antes do pôr-do-sol

"People just have an affair or even entire relationships, they break up and they forget. They move on like they would have changed brand of cereals. I feel I was never able to forget anyone I've been with because each person had their own specific qualities. You can never replace anyone. What is lost is lost. Each relationship when it ends, really damages me. I never fully recover. That's why I'm very careful with getting involved because it hurts too much. Even getting laid, I actually don't do that because I will miss of the person the most mundane things. Like I'm obsessed with little things"

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Sexta-feira de manhã

O despertador tocou às 6hs. A pontualidade do toque sugeriu que ela jogasse o objeto contra a parede. Não o fez. Como de costume, abriu os olhos, mirou o teto branco e com a mão esquerda calou o som atordoante que anunciava mais um dia. Vontade de andar de metrô. (?) Acordou com vontade súbita de andar de metrô. Ônibus também servia, mas é que metrô tem mais variedade, tem o entra e sai, as portas que se abrem e fecham, gente indo trabalhar. Estava com saudades de andar de metrô de manhã. Vestiu o vestido de malha vermelho que estava jogado na poltrona (aquele que ela sempre usa para ficar em casa, estampado com flores e bonecas japonesas em traços de graffite), nos pés as havaianas slim cor cobre, no rosto os óculos escuros de aro branco, estilo anos 70. A luz da manhã ainda estava fria e a obrigou a vestir o moletom de capuz preto, já meio desbotado. Escolheu a Niemeyer, estacionou na Maria Quitéria e lembrou que era dia de feira. Gostava de andar pela feira e sentir os cheiros, as cores, as vozes. As vozes da feira tem vida. Era a primeira cliente do dia na loja de café da praça. Pediu um cappucino e pão de queijo. “As pessoas aparentam leveza de manhã”, pensou. Dois gringos em direção à praia, uma estudante apressada, um senhor de terno com o jornal de baixo do braço. Andou mais dois quarteirões sentindo-se parte da cidade. Era isso, precisava ser parte, nada de vidros fumê, ar-condicionado, vidas virtuais. Sentia falta do ar da manhã, do sol brando na pele, do som da rua, do cheiro de Rio de Janeiro com sol. Pintou as unhas de uma cor indefinida, mistura de rosa chá e ameixa. A manicure perguntou se aquele livro já era outro: cada semana você lê um livro diferente, eu também gosto de ler, me empresta um romance daqueles de arrebatar o coração? A manicure gosta de sentar perto da janela, cada vez que muda de unha, dá uma espiada. Está de caso com o motorista do ônibus. Toda vez que a lotação para no ponto ali da frente, eles trocam olhares. Quero um romance igual a esse que estou vivendo… Essas coisas acontecem em livros também, não acontecem? Acontecem, respondeu ela. Estava acostumada a pensar essa pergunta ao avesso. Caminhou mais duas ruas e ficou um tempo parada dentro da venda de havaianas, tinha havaianas até no teto. Passou em frente a loja daquele poeta, dois rapazes na padaria da esquina mexeram com ela. Sorriu. Sentiu o cheiro da barraca da moça que vende ervas. Comprou duas mudas de arruda, uma de alecrim e outra de alevanta por seis reais. Levou embrulhado em jornal dentro de um saco plástico azul. Ferveu tudo junto. deixou a fumaça se espalhar pelo quarto. Jogou a água quente na pele seca. Estava pronta para mais uma sexta-feira. Quem sabe no sábado, não passearia de metrô?

domingo, 22 de junho de 2008

My foolish heart

Natural que o domingo amanhecesse chuvoso. Às 10hs, a névoa que me obrigava a acender os faróis como se já fosse noite combinava com os olhos emocionados de Johnny Alf na capa do Segundo Caderno e com a voz de Fernanda Takai cantando Nara Leão no cd do carro. A chuva fina, contínua em sua tristeza indefinida, me alcançava. Eu encolhida dentro de mim mesma. Caramujo de volta à concha. Quando o refrão daquela música do Radiohead, aquela que diz "I'm not here / This isn't happening" começa a se repetir como disco arranhado lá no fundo da cabeça, é hora de deixar cada um no seu quadrado e voltar-se para dentro. No caminho de volta emprestei dois livros: o que a Adriana Lisboa assinou para mim ao dizer "Mais um, hein? Gostou desse?"; e o outro, que deitada em uma rede, li a quatro olhos (mais íntimo que escrever a quatro mãos), e sobre o qual escutei a quatro ouvidos (por que éramos um só) o Paul Auster falar na Flip (na época em que a feira ainda não atraia tanta gente). Emprestei e fui. Não sei para onde. Não sei. Virei a esquina. A sensação de que estava sendo filmada e que a vida poderia ser um filme permanecia. Um filme cheio de pequenos detalhes, gestos incompreendidos, parágrafos inteiros ditos com o olhar (mesmo quando o rosto sorri, o que importa é o olhar). Fui por inteiro a minha melhor opção disponível. Quem se acha tão born to be não entende que sabedoria é saber escutar. Hoje quero somente esquecer, quero o corpo sem qualquer querer. E esse tempo cinza veio bem a calhar. Pensei, não quero mais pensar. Cansei de esperar. Agora nem sei mais o que querer. E a noite não tarda a nascer. Fria. Descansa coração e bate em paz.

***

Hamlet em 15 segundos: Entra Hamlet. “To be or not to be” (cai morto). Horácio: O resto é silêncio.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Coisas deleitáveis

Noite de lua cheia, acesso de riso, guerra de cosquinha com irmãos; acordar, tomar café-da-manhã e voltar a dormir mais um pouquinho, cheiro de lençol limpo, Chico Buarque, encontrar o Chico no Leblon, conhecer gente que conhece o Chico, as primeiras páginas de um bom livro (as últimas também), descobrir um bom autor, fogos de artifício quando você não esperava (e não é reveillon), sopa no inverno, água gelada no verão, tomar vinho na casa de amigos, tomar vinho a dois, descobrir algo novo em alguém que já se conhece há muito tempo, fim de tarde no Arpoador, tarde na praia com os amigos, almoço no Braseiro depois da praia, receber mensagem de texto, supercalifragilisticexpialidocious , gente que não dá corda quando eu faço tempestade em copo d’água, “vem aqui me dar um beijo”, homem quando acabou de sair do banho, homem que lê, homem que não precisa tirar onda que lê, homem low profile, homem que toca violão, horóscopo bom, roupa que era apertada e ficou larga, fotografia muito antiga, texto bem escrito, gente que lembra no dia do aniversário e liga para dar parabéns, declaração de amor, conhecer pequenos detalhes de outra pessoa, a Pedra da Gávea, crumble de maçã do café da Argumento, achar um bilhete antigo, brigadeiro com biscoito de maizena, fazer um pedido às 3h33, ver um tucano na árvore do jardim, o barulho do mar, dormir com chuva, edredom de pena de ganso, achar dinheiro no bolso da calça, ligação que você não esperava, ver flores na recepção e só mais tarde descobrir que são para você, receber flores em qualquer situação (menos em caso de morte), cheiro de pai, mergulho no mar, pacotinho de açúcar com dizeres como “beije mais” e “se apaixone mais vezes”, se descobrir apaixonado, conhecer uma nova pessoa, beijo bom, fofoca com amigas, novas boas amigas, amigos de infância, natação em dia de sol, o efeito da luz ao batendo nos ladrilhos do fundo da piscina, gente elegante, chapéu de palha, caderno novo, chegar da praia e tirar o sutiã do biquíni, tirar o salto depois da festa, lanchinho depois da festa, acordar com pessoa agradável ao lado, gente cheirosa, gente feliz com pouco, casa de avó, “eu te amo”, matar mosquito, João Gilberto cantando baixinho, conhecer gente de forma inusitada, pessoas com manias muito próprias, gente de personalidade forte, gente com argumento, cafuné bem feito, balas Boneco (ainda existem?), poder trabalhar de tênis, fazer pedido em cilho que caiu, a tua presença, sorriso de criança de rua, sentir frio na barriga quando o telefone toca, cantar para mandar a tristeza embora, sorriso que mostra todos os dentes, show do Caetano no dia do aniversário da Maria Bethânia, risoto de tinta de lula, camiseta velha, de não me arrepender de você (mesmo que tenha doído), a palavra travessura, chamar alguém de boboca, se perceber ser uma nova pessoa, planejar viagem, palavrão em momento de muita raiva, o momento que antecede o beijo, gente fantasiada pelas ruas do Rio durante o carnaval, déjà vu, o que nós dois fomos juntos, bate-papo de café, caneta Stabilo, Caetano dançando miudinho no palco, sotaque baiano arretado, serendipity, o vozeirão de Jorge Mautner dizendo “nesta noite de lua cheia há algo a ser lembrado: quando não houver mais fé nem esperança, o amor sempre resplandecerá”.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Coisas abomináveis

Carro sem ar-condicionado no verão, perna de outra pessoa encostando na minha perna dentro do carro, gente que fala tocando no outro, cutucada, comemoração de 200 anos da Família Real (e reportagens sobre o assunto), a cultura da celebridade, ter que entrevistar celebridades, celebridades que não dão entrevistas, conta de restaurante caro (principalmente quando a comida não estava tão boa), cheiro de churrasquinho na rua, dois beijinhos em gente que você não conhece, batata-frita molhada de óleo, gente gorda com roupa apertada, gente magra demais, esquecer o nome do ator que fez aquele filme que você também esqueceu o nome, dublagem malfeita, título de filme mal traduzido, não achar vaga em Ipanema, flanelinha que já vem falando “é cinco real aí tia”, flanelinha que me xinga quando digo que não vou pagar, flanelinha, plantão em dia de sol, plantão em aeroporto, plantão em delegacia, plantão, gente que me liga chamando para ir a praia quando estou de plantão, levar um susto com o aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhbacaxi, Faustão na tarde de domingo, gente simpática demais, gente boazinha demais, amiga de mãe que pergunta “e você, não namora?”, “vinte e cinco, já?”, “pena que jornalista rala muito e ganha pouco”, fatura do cartão de crédito mais cara que o salário, gente que não fecha os talheres quando acaba de comer, caroço de maracujá entupindo o canudo da caipirinha, gente que me chama de querida e meu amor sem me conhecer, esperar ônibus em dia de chuva, ônibus lotado, estar num carro e ver o ônibus que você sempre espera passar vazio pelo ponto, brigar com gente muito calma, não saber onde colocou as chaves, perder dinheiro, lambada, “o problema não é você, sou eu”, toco-bina, não entender a própria letra, levar uma hora para chegar em casa às 3 da manhã só porque o túnel está fechado para limpeza, areia no chão do chuveiro, telefone que toca no meio do filme, caneta falhando, camiseta de abadá, gente indo para a micareta, colocar o cigarro na boca e descobrir que o isqueiro não funciona, couve-de-bruxelas, flamenguista em dia de jogo do Flamengo, BG em dia de jogo, estragar unhas recém feitas ao procurar chave do carro, manicure que não para de falar, queijo-quente com queijo mal derretido, taxista que quer conversar, homem que agarra mulher no meio da rua, gente tagarela, banheiro sem papel, diz que vai ligar e não liga, homem que usa muito perfume, homem de regata, homem só de camiseta e sunga atravessando a rua, ipod sem bateria aos 10 minutos de corrida, esperar ligação, trânsito de manhã cedo, Hora do Brasil na hora do trânsito, oi ligando para telefone vivo para oferecer serviço "mais em conta", gente que fala "mais em conta", telefone com "disque um para tararan, dois para tararan", calça jeans que não fecha mais, diz que vai e não vai, lei que proíbe fumar em lugares fechados, salto alto em final de festa, homem que não cuida da unha do pé, estar pronta para a festa e ouvir a pergunta “você vai assim?”, promoção uma semana depois que você fez aquela mega compra, gente com pelos no ouvido e nariz, casal que conversa em xuxuanês, qualquer pessoa com voz melosa, hihihi e hehehe no MSN, gente que escreve aki, naum e afins, e-mail não respondido, chão do chuveiro de academia, apelidos entre namorados (tipo neném, tutuca, ou qualquer variação nhenhenhém), sair do banho na academia e perceber que esqueceu de levar calcinha, homem que usa anel e pulseira, morder bombom de chocolate e descobrir que o recheio é de ameixa, deitar na cama e ver o teto rodando, ter que parar tudo para procurar camisinha, gente extremamente saudável, gente que controla o que o outro come, celular sem sinal, vegetariano em churrasco, tomar banho para almoçar em restaurante e voltar com cheiro de gordura, esquecer o celular em casa, gente que fala alto, piada mal contada, homem que demora mais que eu para se arrumar, eu contando piada, gente que dança de olho fechado e mãos pro alto (principalmente quando a música é do Jorge Versilo), só ter tempo de escrever essa lista no trânsito a caminho do trabalho, o carro detrás buzinando quando o sinal só abriu há 10 segundos...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Quero vivê-lo em cada vão momento

Você sente parte da sua geração?, ele fez a pergunta enquanto eu olhava pela janela. As árvores balançavam com a força do vento de outono. Folhas amarelas rodopiavam em espiral. Ali de dentro a impressão é que elas vinham do céu, as folhas, e transformariam a calçada de pedras portuguesas em tapete dourado, mas somente àqueles que se dessem um segundo para repará-las. Cada um no seu quadrado é a música do momento; não sou de ninguém o grito de uma geração e beija beija tá calor, a alegria dos foliões do carnaval de Salvador. Ainda não me acostumei a ficar, sei o Soneto da Fidelidade de cór desde os 13, quando ameaça a chover ainda tenho vontade de correr para o abrigo de um abraço e estou longe de comprar as galochas coloridas da moda para pisar nas poças d’água como manda o figurino. É difícil me sentir parte desse mundo que observo atentamente até os mínimos detalhes, onde a folha seca que entrou pela janela do carro enquanto eu esperava o sinal abrir ganha um significado só meu, ou a borboleta amarela descobrindo todos os cantinhos pelos quais entram a luz da manhã no meu quarto é vista apenas por mim como um sinal de que tudo vai dar certo. Esses que se contentam com um beijo, que não conhecem as delícias de tocar os pés debaixo do edredom durante as noites mais frias - ou mesmo por cima dos lençóis, naquelas noites em que o ar abafado da cidade exige que as cabeças permaneçam em travesseiros separados e que a sola dos pés sejam o único ponto de encontro entre os dois corpos -, esses que tem medo se entranhar no outro e descobrir as pequenas delícias e infinitas possibilidades de cada um, esses conseguem esperar até o próximo domingo para falar com quem na última sexta dividiu o melhor dos abraços; que não se encontram, que apenas se esbarram; que não sabem dizer “gostei muito”, “quero mais”, “vamos agora”; esses são os que pertencem a esta geração, que vejo com olhar estrangeiro de quem vive um universo tão particular.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

“Ela tem a pele branca, tão branca, que parece estar o tempo inteiro iluminada por um holofote, e foi exatamente essa imagem que me veio quando esbarrei com ela pela primeira vez” (...) “Não quer ou tenta ser perfeita. É, sim, do tipo de mulher a quem as imperfeições fazem melhor do que aparentes qualidades fazem ao resto dos seres humanos. É do tipo raro de mulher que, só de olhar, dá vontade de sair abraçado a noite, acreditando em Deus e no amanhã. E por quê? A única resposta possível seria: porque ela me comove pra burro. E, Maria, te digo uma coisa: anda difícil, cada vez mais difícil, a gente sentir ternura, a gente se comover por aí”, de João Paulo Cuenca. Há quem não goste dele, mas elogio assim... ô.

Um armário entre nós dois*

“Você quer um armário, passa nas Casas Bahia e compra!” Essa foi a segunda frase que ela disse a seu futuro marido. A primeira foi “O que aconteceu com o meu primo?”. Pode fazer pouco sentido quando contamos a história assim, sem mais apresentações. Mas o fato é que Marcelo e Fernanda estão casados há um ano e meio por causa de um armário, herança do avô da moça.
Desde pequeno, Marcelo rondou a vida de Fernanda sem saber que ela seria a mulher da sua. Ele era o melhor amigo do primo dela mas nove anos de diferença é uma grande muralha, quando se é adolescente. E olha que eles não se viam pouco. Aniversário de 14 anos de Fernanda, lá estava ele. Enterro do primo distante, idem. Jantar natalino, o garoto era presença certa. “Eu ficava pensando, quem é esse cara que está sempre em todo lugar?”, lembra Fernanda.
E enquanto ela completava 23 anos, na casa dos pais, ele, aos 32, planejava sair da dos dele. Aí é que entra Dona Iolanda, vó de Fernanda, íntima de Marcelo. Ela sabia que ele iria montar sua própria casa e ofereceu o tal armário. “Olha, eu tenho uma neta que há 17 anos guarda um armário que era do avô dela. E já que ela não deve estar usando, liga para ela te emprestar...” E o Marcelo ligou. Escolheu o momento menos apropriado de todos, mas ligou.
Quando o telefone tocou, Fernanda estava em Brasília, com uma companhia de teatro de rua. Em cima de uma perna-de-pau, a moça ainda se equilibrou para atender a ligação. “Alô”, ela disse. “Oi, Fernanda, aqui é o Marcelo, amigo do seu primo”, disse ele. E emendou, dizendo que queria o armário do avô dela. Fernanda, do alto das suas pernas de pau, ficou tão irritada com a proposta (afinal o armário tinha um valor sentimental e estava na família há anos) que a única coisa que conseguiu responder foi a frase que evoca a Casas Bahia, citada no começo deste texto. E bateu o telefone. Em seguida ligou para a vó Iolanda e disse que não ia dar o armário para ninguém, que a única pessoa que teria aquele móvel um dia seria o marido dela – e só porque eles dividiriam a mesma casa. D. Iolanda não pensou duas vezes, pegou o telefone e ligou para o Marcelo. “Ela disse para ele que eu não quis mesmo dar o armário, mas que tinha dito uma coisa interessante: que a única pessoa que teria aquele móvel seria quem casasse comigo”, lembra. Não deu meia hora e o Marcelo ligou de novo para Fernanda. “Aceitei sua proposta”. E ela: “Que proposta? Já falei que não vou dar o armário!” “Quero casar com você”, mandou o homem e a fazendo, literalmente, cair das pernas-de-pau.
Quando voltou para casa, depois de 6 semanas viajando, a única pessoa esperando Fernanda no aeroporto, advinha, era Marcelo. “Ele vestia uma camiseta do teatro dos anônimos, não acreditei. Tinha tudo a ver”, lembra ela. Depois de namorarem 3 anos, o casal, enfim, juntou os trapos no tal armário do avô de Fernanda.

*Publicado na revista Domingo, do JB

domingo, 8 de junho de 2008

Lista de idéias para posts - ou, preciso de novos óculos

Alguns comentários sobre os índios isolados que foram achados outro dia na Amazônia (me fez lembrar o Mito da Caverna, de Platão);
Quantas dinamites uma pessoa pode explodir na própria cabeça? (auto-sabotagem);
Faniquitos (e como essa palavra é uma delícia);
A arte de abraçar (ou a complexidade de);
A vida é feita de detalhes (Nara Leão poderia ter como bebida preferida outro drink que não uísque com guaraná?);
As maravilhas da segunda metade da década de 50, quando os encontros eram muito mais reais (ou porque temos que ser tão virtuais nos dias de hoje, as distâncias realmente estão menores ou é só ilusão? Eu quero bater papo de verdade, percebendo expressões e não emoticons). João Gilberto simplesmente batia na porta de um compositor do qual ouvira falar bem e se apresentava. Eu queria poder dizer: "oi, meu nome é anna, eu fiquei sabendo que você gosta de (verbo qualquer), o que acha de (verbo no infinitivo) juntos?";
Como parecer completamente louca em 7 lições (e ainda saber rir de si mesma depois);
Porque eles dizem/escrevem a mesma coisa para todas? (será que é falta de imaginação? Será que é pq até uma pedra tem poesia? Tinha uma pedra no meio do caminho…)
O dia em que Marlene Dietrich deixou uma das esposas de Vinicius morrendo de ciúmes pela primeira vez;
O poder de um vestido vermelho;
Como ver todas suas amigas de infância casando e desconfiar (as vezes ter certeza) de que isso não é o que você deseja para si mesma agora (ou, como ser madrinha de 5 casamentos no mesmo ano; ou, como fomos traçar caminhos tão diferentes; ou porque meus olhos se encheram de lágrimas quando ela me convidou para ser madrinha; ou o amor deles dois me fez suspirar; ou o dia em que quase caí na escada que leva ao altar; ou as delícias de beber até cair com amigos da vida inteira e seus maridos/esposas);
… e outros temas que renderiam bons posts se eu não estivesse completamente sem foco.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Nem teoria darwiniana dá jeito

O pacote de 25g do m&m's marrom tem só 25g de chocolate ao leite confitado, isso deveria ser o suficiente para que as pessoas percebessem que é um dos itens indivisiveis, mas não, todo mundo fica pedindo, ao ponto da Mars Inc. ter que colocar escrito na embalagem: "tamanho individual". O mesmo acontece com a tangerina que eu trouxe para o lanche, eu queria comer uma tangerina inteira, não 1/4 da fruta, que foi o que sobrou quando eu tive que dar um gomo para cada pessoa que senta perto de mim, e o que a propósito me obrigou a comprar o pacote de 25g de m&m's marrom. A teoria evolutiva de darwin provavelmente não prevê que a natureza evolua ao ponto da tangerina vir com os dizeres "porção individual" na casca. barra de cereal, bicoito O Globo, garrafinha de iogurte e bombom também são itens feitos para uma pessoa apenas, nem casal apaixonado escapa. Deve ter alguma coisa a ver com as 25 / 30 g . Se bem que 25 g de m&m's marrom me deixam sempre com vontade de mais...