domingo, 27 de maio de 2007

Mais vale um sapo na mão do que um príncipe voando

Não tenho a menor paciência para crianças. Não tenho a menor paciência para crianças e chorei vendo Mothern. Não tenho a menor paciência para crianças e chorei vendo Mothern em dois episódios seguidos. Fiquei com vontade de ter um filho. Acho que estou ficando louca. Já achei que estivesse enlouquecendo outras vezes, mas dessa vez é sério. Os sintomas estão aparecendo gradualmente. Provavelmente eu serei encaminhada ao hospício daqui há uns oito meses e duas semanas. Eu sempre quis ficar grávida mais pela barriga do que pela criança. Deve ser legal ter uma pessoinha crescendo no seu corpo. Aí, o desejo de ficar com o abdômen do tamanho de uma melancia foi adicionado a dois fatores: poder comer o que quiser, quando quiser, o quanto quiser, e ainda poder repetir; e ter um motivo forte o suficiente para parar de fumar. Durante um tempão esses sintomas estiveram estagnados. Até a noite em que a Bel, a filha da Mariana, do Mothern, não conseguia escolher entre a apresentação do balé ou passar o dia no sítio de uma amiguinha. Maldita indecisão! A Mariana, ao invés escolher pela filha, achou que já estava na hora de ensiná-la a decidir seu futuro por si mesma. Resolveu o problema ensinando à Bel o clássico método listinha prós e contras. O balé ganhou de raspão e a menina ficou feliz em ter tomado a primeira decisão da vida. Foi aí que meus olhos encheram de lágrimas.

A garota deve ter uns quatro anos e já tomou uma decisão. A primeira de infinitas que, coitada, mal sabe ela, ainda terá que enfrentar. Chocolate ao leite ou crocante? O vestido preto básico-clássico-chique ou aquele lindo último modelo? Francês ou espanhol? Pela Niemeyer ou pelo túnel? Jantar com o Pedro ou ir ao cinema com o José? Ligar ou não ligar? Aproveitar o domingo para dormir até tarde, ou acordar cedo para aproveitar o dia? Essa coisa de ser mãe realmente me emocionou. Como quem não quer nada, fui lá no quarto da minha mãe e bati na porta: Manhê, fica um pouquinho comigo lá no meu quarto?, eu disse. Pra que, miha filha? Tô tão cansada, o que que foi?, ela resmungou. Definitivamente, eu devia estar perdendo a cabeça. Fui dormir. Na quarta-feira seguinte, liguei a tevê justamente quando a Raquel, mãe da Laura, também do Mothern, entre uma reunião e outra, tentava ajudar a filha a decorar um texto para o papel de princesa no teatrinho da escola. É claro que a Laura estava super ansiosa. É claro que a Raquel ficou enrolada no trabalho e elas quase não conseguiram chegar a tempo. Mas chegaram, e a professora avisou que não haveria mais apresentação. O motivo?

O príncipe faltou.

A Laura ficou arrasada, lágrimas ameaçaram escorrer pelo meu rosto, eu pensei "de novo não", a Raquel ajoelhou para falar com a filha de mulher para mulher (Marisa), e olhando nos olhos da menina, disse algo mais ou menos assim:
- Filhá, vai se acostumando, às vezes o príncipe não vem. Normal. Te deu um bolo, agora enxuga esse rosto e bola pra frente - nesse ponto eu já estava em prantos.
A princesa moderna fez a apresentação sem o príncipe. A Raquel substituiu o galã por um sapo marionete. Até beijar o sapo, a princesa beijou. Afinal, como disse a Raquel "mais vale um sapo na mão do que um príncipe voando". E agora, eu que me pergunto: Como é que ninguém nunca me ensinou isso quando eu tinha quatro anos? A minha vida teria sido tão mais fácil.... Conclusão, comecei a querer ter um filho só para ensinar tudo o que eu já sei, antes que eu me esqueça.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu nao vejo Mothern. Eu nao vejo Mothern mas eu quero ser mae! Meu capricho e a minha idealizacao, meu sonho impossivel!
O Amor Incondicional...
Nao sera esse mesmo amor que eu sinto por todas as partes de alguem q permanecem em mim? (Before sunset)
Tenho uma leve desconfianca q sim, mas talvez eu precise ser mae para entender q eu ja amava assim! Talvez nao! Tomara q nao...
Bela, amei a novidade! Vou entrar sempre amiga! Sucesso!
Beijos,
Dri

Mariana Bertrand disse...

Afinal conhecidencias não são por acaso, vi esse mesmo capitulo... e tenho que confessar que mexeu muito comigo. Incrível como nossa visão de como sermos mães hoje poderá afetar nossos futuros filhos. E como pequenos ensinamentos como o principe nem sempre aparece sao essenciais! Achei um maximo a reação da mãe sendo o sapo e quero muito um dia poder fazer o mesmo, quem sabe...
Sou fa de Mothern e ate ja escrevi uma tendência sobre o seriado hehe! As maes de hoje passam por um processo completamente novo e precisam dialogar mais entre elas mais do que com a geração anterior para entender esse processo que estao vivendo.
Enfim viva as super maes! Beijos e Parabens!