domingo, 3 de junho de 2007

Entre o erudito e o batidão

Não fosse a animadíssima compania de alguns amigos que andam por aí sumidos, cada um no seu caminho, mas que me dão uma alegria imensa ao rever, entre a música clássica e o funk, ficaria com a Orquestra Sinfônica Brasileira tocando de baixo de chuva em frente ao Copa. Teria sido um evento emocionante, não fosse a espectativa dos organizadores em ali agregar mais de 100 mil pessoas e a chuva que caia no início da noite de sábado. Todo carioca sabe muito bem que praia com chuva é programa de índio. Se um dia eu descobrir que me chamo Apoema, não terei nem o início de uma crise de identidade. Pelo contrário, às vezes desconfio que este momento esteja bem próximo. Pois bem, abandonei o vento, a chuva, a areia grudada na barra da calça jeans molhada, o maestro alemão Kurt Mansur, o violinista Yamandú Costa, Eduardo Torres, de 17 anos, estudante da escola de música Villa-Lobos, que veio de Vila Isabel porque não é sempre que temos a chance de assistir música boa de graça, e outras 300 pessoas que estavam ali por amor à música, e segui o conselho da aposentada Helise Cardoso, de 72 anos, que garantiu que chuva não derrete, mas que não podemos nos deixar enferrujar - até na Ivete semana passada ela estava- , e migrei dos violinos clássicos grátis ao ar livre, para o inferninho do batidão na Fundição por 60 pratas, à procura de joie de vivre. Como eu já disse, certos amigos salvam uma noite. O lugar estava apinhado, corpos suados bombados tatuados e sem camisa se esbarravam no minha blusa social xadrez, respingavam nos meus já despenteados mais ainda sedosos cabelos, corpinhos adolescentes em calças justas mostravam a barriga e desciam até o chão. Chão, chão, chão. Não me cansarei de repetir que bons amigos fazem uma noite, por isso agarramos os que tavam de camisa preta. E depois disso não me lembro mais de muita coisa. Sei que a noite terminou às 6h30 com o telefonema de dois dos amigos dizendo estar na porta da minha casa, já que eu não atendia o telefone e não havia ligado dizendo que chegara viva. Eles que me matem, mas foi muito, muito, muito, fofo, eles terem atravessado o túnel só por minha causa. Eu sei o big deal que é para pessoas que moram do lado de lá atravessar o túnel, mesmo que sem trânsito seja mais rápido do que ir do Leblon à Ipanema.

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